Sem ser me são, não sendo…
O meu mote é d’eu vir vindo, mudo
Ao longo desta vida toda, sem vida,
Nada do que vi me fez sentir viver mais vivo,
E assim permaneço, sem ser, rendido
Até que encontre o mundo, de mim viúvo
E eu morto na sorte una a que me uno,
Deixei de contar comigo em pano de fundo,
Do ser mudo, agora que, visto estou morto,
Como Deus uno- façamos juntos a estrada,
Essa sem o limite das precedentes,
Que servirá de modelo aos seguintes nós,
Ainda que mal nos conheçamos,
Somos já poetas mortos, nós todos,
Eu e o meu mote de vir, vindo morto,
Até porque igual a mim nem tudo, nem ninguém
Já que eu sou quem vou inté mais não,
Insto ao regresso que mortos não,
Mortos são sendo, são fieis
Não nós, tardios? Sim talvez, não cedam
Não cedo eu e morto, só o medo
Só o medo da sorte vazia, crua, tardia.
Senão, só restará da vida o que acabou
E aí, sim… eu voltarei a ler, Malraux
Apollinaire do fim ao início
E o meu fiel passo, aprenderá do lento passar
A cor do fundo do passado,
E no fumo do decurso de velhos,
Como quando se lia num livro,
A felicidade de ter nos céus,
Olhos d’outros, ideias soltas e velhas,
Velhas alquimias de dentro de mim tidas,
E agora sei ler e decifrar poetas deitados,
Mortos dormindo em mim, ancoro neles,
Saem dos olhos que me olham d’en’pé,
Soam a meu favor e dos meus sentidos,
Todos eles e do meu coração,
Sem ser me são, não sendo…
Joel matos (12/2014)
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