Onze e vinte

Estás espalhada pelo chão…partida, de partida, que invisível não me apareces no afago ou no abraço.
Estou a dez minutos de mim, lá longe onde deserta a alma que embala o teu sorriso e onde tudo me faz falta…onde tu me fazes falta.
O quarto é uma catástrofe onde morreu a simbiose.
Findo o amplexo que conjugava os nossos corpos em equações amantes…
Restam dez minutos vagos em que me destino a voar dentro de memórias onde tu existes, onde resistes…onde me fazes falta.
Eram onze e vinte da manhã de um ano que nunca lembro, no relógio da estação.
Estava frio, passávamos um pelo outro a referendar o que os olhos nos tinham dito no micro milésimo de segundo em que aconteceu…
Os comboios a apitarem, os engarrafamentos na avenida, os aviões reflectidos nos prédios, as pessoas em frenesim…e nós acasalados num orgasmo de olhos livres com um suspiro em contenção.
Assim era para ser sempre…a olhar.
Nunca saberei em que ano te conheci, se era inverno e por isso frio, se era verão…que havia sol, ou sequer o mês ou o dia…para mim serás sempre as onze vinte do relógio da estação, que agora me pára em dez minutos à volta de te lembrar, neste quarto feito de sombras onde morreu a simbiose.
Sabes a maldição que rogo às horas que não passei contigo?
As madrugadas de copos onde o quarto era só teu?
Dos ponteiros do relógio que anoiteciam a estação quando não eram onze vinte na paragem dos teus olhos?
Assim partes…
A dor que nos amachuca não é, não termos tido amor…não!
Tivemos, muito…tanto que até magoa.
Amo-te, como tu me amas…ás onze vinte.
Só que as horas passam e o que dói no teu olhar é a inquietude dos segundos em que te desiludi…
Já não estás espalhada pelo chão do quarto…
Estás inteira, foste embora.
Mudava tudo e as horas, decorava as estações do ano em que te conheci para ficares.
Silenciava os comboios, os carros na avenida e as pessoas apressadas…
Eternizava o olhar afundado no teu corpo num suspiro em contenção…para sempre em contenção.
Para não te ver partir, marcavam hoje onze e vinte…
No relógio da estação.

Submited by

Viernes, Enero 29, 2010 - 01:16

Poesia :

Sin votos aún

Lapis-Lazuli

Imagen de Lapis-Lazuli
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 11 años 1 semana
Integró: 01/12/2010
Posts:
Points: 1178

Comentarios

Imagen de Librisscriptaest

Re: Onze e vinte

Intenso, sofrido...
O sofrimento da perda cola-se à nossa alma, o desejo toca a nossa pele...
Gostei muito Lápis!
Beijinho em si!
Inês

Imagen de RobertoEstevesdaFonseca

Re: Onze e vinte

Parabéns pelo belo poema.

Gostei.

Um abraço,
REF

Imagen de Obscuramente

Re: Onze e vinte

Se todo o amor de um unico olhar perfeito pudesse ser contido no tempo, num momento sem evolução, para que não seguisse o caminho da maturação e consequente destruição...

Escrito muito belo, adorei ler.

Abraço.

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Lapis-Lazuli

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/Aforismo Adeus 6 860 03/04/2010 - 14:01 Portuguese
Poesia/Amor Mesmo que o amor morrer 7 1.303 03/03/2010 - 12:19 Portuguese
Poesia/Intervención Prémio Nobel 4 725 02/28/2010 - 21:55 Portuguese
Poesia/Meditación Por todas as manhãs nascidas 2 750 02/28/2010 - 03:16 Portuguese
Poesia/Meditación Rosa de Istambul 2 1.014 02/27/2010 - 04:22 Portuguese
Poesia/Dedicada Até cair 2 928 02/25/2010 - 03:18 Portuguese
Poesia/Intervención Cravado de fogo 2 1.060 02/25/2010 - 03:15 Portuguese
Poesia/Aforismo Afinidades 3 1.007 02/23/2010 - 21:43 Portuguese
Poesia/General Tens um granda par de mamas 6 1.573 02/23/2010 - 20:39 Portuguese
Poesia/Aforismo O principio do esquecimento 2 1.002 02/23/2010 - 14:32 Portuguese
Poesia/Intervención Para no fim desembocar num sopro 3 891 02/21/2010 - 19:04 Portuguese
Poesia/Intervención Partitura perpétua 1 660 02/21/2010 - 02:36 Portuguese
Poesia/Amor O outro lado do mundo 2 1.157 02/18/2010 - 02:52 Portuguese
Poesia/Aforismo Sombras chinesas 2 1.337 02/17/2010 - 20:03 Portuguese
Poesia/Intervención "Memória das minhas putas tristes" 3 1.636 02/15/2010 - 12:23 Portuguese
Poesia/General De crua voz 5 1.052 02/15/2010 - 03:15 Portuguese
Poesia/Dedicada Aquele abraço 4 1.735 02/14/2010 - 01:51 Portuguese
Poesia/Dedicada Das tuas lágrimas me fiz rio 4 593 02/12/2010 - 22:57 Portuguese
Poesia/Aforismo O cancro que tinha um homem 3 1.177 02/12/2010 - 04:34 Portuguese
Poesia/Intervención Amor assassino 3 977 02/12/2010 - 01:07 Portuguese
Poesia/Pasión Missa de corpo presente 2 1.142 02/11/2010 - 03:45 Portuguese
Poesia/Dedicada Vagas moribundas 3 1.001 02/09/2010 - 18:32 Portuguese
Poesia/Amor Independência 1 700 02/08/2010 - 03:07 Portuguese
Poesia/General Corrente alterna 3 975 02/08/2010 - 00:30 Portuguese
Poesia/Amor Se voltares 4 769 02/07/2010 - 19:18 Portuguese