De crua voz

“A inveja é um tremor de seda incapaz de vomitar, nos picos da incerteza o seu verbo articular.”

A poesia é o verme que implícita as palavras na gramática corrupta.
Não existe... é a perversão dos sentimentos que se cala em escritas na covardia dos homens fracos.

O universo metafórico é uma fuga narcótica do fraco argumentador, do vendedor de banha da cobra, do caixeiro com duas famílias... é um exercício de onanismo pueril com ejaculações precoces de tinta, em excrementos abstractos a encher páginas de branco.

Não há poetas que escrevam.

O poeta é uma finta de experiências desalinhadas, que não vive em cadernos, nem faz obras em casa porque o poema nasce morto atropelado no meio da rua.

A poesia vive...porém não existe em versão escrita.

Quem escreve não faz poesia...

Escreve.

É uma função mecânica que atravessa o corpo e vive estática dentro das páginas.

Não existe poema eterno nem escrita absoluta...o tempo corrompe a origem, do que na origem já era corrupto... o verbo, a palavra, o fonema, a semântica, são os medos do escritor numa busca imbecil de parecer imortal.

A poesia...é crua, como carne, sem palavras...só viver...porque a poesia começa e acaba na vida...

Em manifestações quotidianas com biografias de riso e pranto, encontros e
abandonos, sem protocolos de tempo exacto.

Assim, se nos assumíssemos apenas mentirosos, a nossa hipocrisia não daria tanto lucro aos produtores de café e aos outros dos cigarros.

Talvez o senhor Francisco, ou outro nome banal, não nos bajulasse em poesias de rissóis e pastéis de nata acabadinhos de fazer.

No entanto...podemos ser belos a escrever e consagrar abraços de alma em quadros de escrita fina...

Sejamos sobretudo, honestos...ou não!

Mas deixemos a poesia andar á solta, a dar-nos motivos para escrever...
Porque a humanidade livre é o motivo dos sonhos que se materializam em escrita...

Na poesia dos nossos olhos.