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Aurora

Aurora

Os dias, os dias eram ouro
Sempre que não eram agora
E volto vulto dez anos de gora
À juventude sónica,
o nosso fogo roubado.
Lembras-te?
O banco, a cidade, o miradouro
Todas as vezes brilhantes que chegavas
O lugar onde primeiro falaste da Aurora.

O luar e aqui resto eu. Agora.
Um sentar mineral no banco panorâmico...
A cidade morta, a artéria aorta
De carros a comutar lá abaixo
De casa pro trabalho, de casa pro trabalho.
Aurigos eléctricos a sangrar insignificância,
Corridas de chicotes circulares
Faíscas de faróis flavescentes
E estávamos tão acima disso, lembras-te?
Falávamos...
A Aurora,
Um dia,
quando tudo ficar bem.

Timelapse, timelapse,
Um dia estás aqui, o outro estás ali.
Em pistas de cicatrizes, motores motrizes
o peso das coisas que não dizes
Quando começámos a só dizer...
Amo-te no ruído dos carros que passam
como as promessas de nunca sermos assim.
Com a Aurora.
Sempre nunca agora.
Amanhã. Ou outrora?
Um dia quando fôssemos novos.

Na década em que me sento agora.
A decadência.
E o clichê compreensivo.
Que nada acima de tudo.
Que tudo seria voltar-te do trabalho pra casa.
E todos os dias ir buscá-la à escola.
Um dia.
A glória de ver como ela aflora.
Lá abaixo, iluminação, metido pelo trânsito que doura
À noite à espera da Aurora.

E querer clamar-te:
“Estou aqui”.
No miradouro de teres ido embora.
Especado a ver outra ERA onde era
a casa onde costumavas viver.
(Quando miúda)
Lá em baixo.
Só o tempo
Dura.
Dane-se só o tempo não é imobiliária...
Esta maldita máquina de desolação que tudo esmaga.
Lobos a “venderem sonhos” com os seus ternos e gravatas.
As presas da cidade nas nossas veias
E cada vez mais, lembras-te?
Parecia que falhávamos a Aurora.
Pra outra hora.

Timelapse, timelapse,
Um dia estás viva, outra noite...
Estou aqui.
A editar paralisado à velocidade de deus
como uma câmara a ver no suar suave dos carros encruzilhadas
que saltavas para me abraçar
e o teu sorriso em 360 graus
misturado com as estrelas no céu
uma grande unificação de
linhas luzes e as minhas lentes aquáticas
Todas as lentas mudanças imperceptíveis 
Até vir a não haver a Aurora
Numa pedra a viajar pelo espaço onde ela não mora.

Aqueles,
Aqueles eram os dias, lembras-te?
Formávamos um único poro
Movíamos montanhas e entranhas
Exalávamos o mesmo ar ar ar
Tanto!
Este deslumbramento ansioso de raiarmos pela cidade
Como num videojogo de aventura
(os que me vias jogar...)
“Olha, outro brilhante sítio novo!”
Banhados ao sol...
E tudo, tudo dourado podia ficar
Quando a tua cabeça no meu colo neste banco
Falava
Da cor que o meu cabelo nela ia rimar.
“N’Aurora. Claro... não agora”.

Antes de anos e planos e demasiados danos.
De um dia
(do nada)
Os teus olhos começarem a dizer:
“Tenho más notícias”.
Aquela maldita máquina de desolação a entrar-te no cérebro...
Anjos metálicos de cinquenta toneladas a roubar-te o cerne...
Alguém a apagar a luz contigo lá dentro.
“Desculpa, odeio tudo, este mundo esmaga tudo”.
E silêncio nocturno cá estou eu.
Vazios:
O banco, o parque, o cimento, o pneuma.
O zumbido do poste iluminador de começar a...
Postergar a Aurora
Pela vida viaduto via tudo fora.

Timelapse, timelapse,
Este lugar este tempo onde todos os temposlugares colidem
Arcos, raios, cortinas, coroas à minha frente
Cinergia estática, sobrecargas e esta
Ansiedade espiritual
Atenuada aumentada não sei
Como se
Pudesse retroceder o filme
Por entre
Faces de multidões anónimas
Caras de brancas e solidões distantes
Para antes do gore e a gora de também as sermos
E a a a ataques de actividade, me invadissem as estradas
Perdidas, mil saídas de âmbar a procurar
O dia
O momento
O ponto
Em que abandonámos a Aurora.
Para um espectáculo de sombras.
Sempre?

E agora...
Acelera acelera acelera!
Vejo
O frio, a primeira vez que entraste no meu quarto
O teu vestido florido - as nossas silhuetas magnéticas
A pen que te dei com o Lost In Translation
A caixa com chocolates que guardavas debaixo da cama
Chorarmos de rir de chorarmos de rir de...
Ser real.
Sonhos de celuloide caleidoscópios meus teus
A noite em que nos conhecemos a falar para sempre
(“Obrigado por existires”)
Como se a aurora nunca fosse chegar.
Porque como se chegássemos nós um para o outro.
Como um mundo de dois corpos só
Com cercas para o mundo que esmaga.
E esmagou-nos.
No lapso timelapse de o deixarmos entrar
Aos poucos, rapidamente.
Como um cancro de ódio petróleo p’las veias.

... e acho que
perdemos a Aurora quando
começámos a falar dela
Metonímia, salvação, instrumento, conflação
De um dia tudo (ter de) ficar bem.

E aqui restolho eu.
À espera que acabe, passe
Como quem não consegue
(Patética repetição irónica)
Deixar de esperar pela Aurora
A segunda vinda
Cá, a cair lá abaixo
Entre as obras, os carros, ziguezagues de trigo
O timelapso
Como uma franja de safira bebé
A derramar-se sobre todos os corpos, edifícios, pétalas
Com orvalho no canto dos olhos
Bocejantes após um longo sono.
E aí eu ia olhar para trás no carro
Vê-la no banco onde me costumava sentar
(quando miúdo.)
E a beleza, a graça, a transcendência!
Da vida o artigo indefinido dela.

Aurora, Aurora, agora!
Sagrada como uma tora
Arpeggios a aloirar pela velo-cidade.
E pensar
Sem pesar.
As suas paralaxes coisas qualia
A dor e o que ela adora
Querer crer e sabê-las
(onde estava a cabeça dela quando a tinha à janela?)
(onde estavam os pés dela quando devaneava na escola?)
O mistério silente de lhe darmos o espaço, o tempo (voa!)
Sermos o barro nas mãos dela.
O que fosse.
Cada vez mais Aurora.

E íamos contar-lhe a história
De como nos conhecemos durante a noite
Sem nunca esquecer que os dias
Os dias eram ouro!
E que sempre, sempre, os verões se estavam a dissipar
Pelo que nunca tivéramos de nos perguntar
Se podíamos começar outra vez agora
Sem todas as coisas que nos desiludiram
Porque tu não ias cair com elas.

Com a Aurora.
Tão mais que só a fonética de enrolar a língua na hora de dizer...
Aurora, Aurora, Aurora...
Porque era assim que a tua mãe te ia chamar quando ainda estava aqui.

(14-02-2025)

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sexta-feira, fevereiro 14, 2025 - 22:37

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Fran Silveira

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