Fascismo

Olho…
Porque tenho olhos e olho a observar.
Não temo nada que veja ou que toque.
Porque observo o universo para lá do negro, para lá da noite, para lá do que demais dito se assuste nas horas.
Olho…
Porque de mim para fora consagro razões ao que não se conhece, ao mistério tão bruto que enleia desprezo á face dos homens…consagro razões de perdão e de luta.
Olho…
Já que assim deposito questões no cá dentro, onde as respostas interrogam os meus olhos incrédulos, traduzindo-me certo de ser imperfeito e inacabado sem o todo ao redor.
E seja onde…
Nas torres sombrias dos prédios, no rente limar do asfalto, no sangue oculto dos ódios, olho e ponho-lhe voz.
Por isso haja quem fale…por isso haja quem grite, crianças de olhos dispersos, lares em labaredas, pungentes velhos caídos, nacos de pão bolorento, larvas na boca do povo, que a merda que infecta a questão é pútrido ideário fascista.
Olho em silêncio e com voz, elegias por corpos partidos, cinzentos como névoa maligna, sacudidos ao desdém assentido dos chicotes que ferem a vida.
Quando os lacraus te crivam, depravadas peçonhas venais, torpes ilusões de loucura, patriarcas e generais, lama, vicio, tortura, mandam calar os jornais, esmigalham dedos e unhas, ali a gargalhar os chacais, estupro, chantagem, penumbra, selecção, hominicultura, escolhidos e anormais…
Olho com nojo no ver, olho de pedra na mão, olho de peito e bandeira a semear coragens no chão…
Olho nunca vencido, olho aos que me sejam iguais, com cabeça, tronco, membros, pretos, brancos, bi, homo, hetero, a todos os sexuais, aqueles que sirvo e me servem, sem versos de arrogância e tortura, sem autismos racistas e lerdos que vivem nos quartéis da censura…
Olho…em sentinela…
Atento aos demagogos da vista…
Que a merda que infecta a questão... é pútrido ideário fascista!