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Reciclar afetos
Nunca o vira assim. Prostrado. Os sulcos da terra pareciam ter alugado o espaço do seu rosto. Percorreu-os como se o ato de alisamento desfizessem, milagrosamente, todo um estado de angústia, de incerteza, de desânimo. Afagou-lhe o rosto que procurava alívio no seu regaço. Um regaço desnudado, de dádiva contornado, de apaziguamento procurado. Também de prazer nos momentos de toques sedutores…
Mas hoje, hoje o seu amor precisava de outros toques. De magia… Cerrou-lhe docemente os olhos, pronunciou as palavras de reza, a oração que os unia para lá da realidade, tocando um céu sempre limpo de nuvens cinzentas. E era nesse lugar que renovavam os seus votos secretos.
- Querido, temos tanta coisa nossa. Se não conseguires colocação, reciclamos o jardim. Congelamos as flores na alma e outras sementes alimentarão o corpo. Isso! Tornamo-nos vegetarianos…
Calou-se. Apesar de salgada, a água que brotava da sua fonte cristalina, inundando os regos lavrados, eram prenúncio de assentimento, de aceitação.
Sorriu, imaginando-se, como uma espécie de preparação mental, já na nova vida reciclada pela força do afeto, amarfanhando a crise que assaltava sem dó nem piedade os mais vulneráveis. Acreditava, sobretudo, na capacidade regeneradora do ser humano.
Reclinou-se. Apertou, carinhosamente, umas mãos esguias, entrelaçando dedos de ternura. Afinal, o seu bem maior estava ali…
Odete Ferreira - 09-09-2012
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Comentários
P/Henricabilio
Pelo menos que triumfe o humanismo sobre a delapidação da dignidade humana, nestes tempos...
Obg pela atenção, amigo Abílio.
Bjo
Nestes tempos conturbados as
Nestes tempos conturbados as pessoas, mais que nunca,
têm de ser solidárias, com os que lhes são proximos,
mas também com todos os que se sintam cada vez mais encurralados.
A maior crise da nossa sociedade é de valores e principios morais
e quem tem os cordões do poder vai tentando dividir para reinar
- cada vez mais a seu bel prazer.
Saudações!
_Abilio