A chegada da caixa de abelhas (Sylvia Plath)
Encomendei esta caixa de madeira
Clara, exata, quase um fardo para carregar.
Eu diria que é um ataúde de um anão ou
De um bebê quadrado
Não fosse o barulho ensurdecedor que dela escapa.
Está trancada, é perigosa.
Tenho de passar a noite com ela e
Não consigo me afastar.
Não tem janelas, não posso ver o que há dentro.
Apenas uma pequena grade e nenhuma saída.
Espio pela grade.
Está escuro, escuro.
Enxame de mãos africanas
Mínimas, encolhidas para exportação,
Negro em negro, escalando com fúria.
Como deixá-las sair?
É o barulho que mais me apavora,
As sílabas ininteligíveis.
São como uma turba romana,
Pequenas, insignificantes como indivíduos, mas meu Deus, juntas!
Escuto esse latim furioso.
Não sou um César.
Simplesmente encomendei uma caixa de maníacos.
Podem ser devolvidos.
Podem morrer, não preciso alimentá-los, sou a dona.
Me pergunto se têm fome.
Me pergunto se me esqueceriam
Se eu abrisse as trancas e me afastasse e virasse árvore.
Há laburnos, colunatas louras,
Anáguas de cerejas.
Poderiam imediatamente ignorar-me.
No meu vestido lunar e véu funerário
Não sou uma fonte de mel.
Por que então recorrer a mim?
Amanhã serei Deus, o generoso – vou libertá-los.
A caixa é apenas temporária.
Sylvia Plath, poema traduzido por Ana Cândida Perez e Ana Cristina César.
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 5848 reads
Add comment
other contents of AjAraujo
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Dedicated | A charrete-cegonha levava os rebentos para casa | 0 | 2.547 | 07/08/2012 - 21:46 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | A dor na cor da vida | 0 | 1.083 | 07/08/2012 - 21:46 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Os Catadores e o Viajante do Tempo | 1 | 4.673 | 07/07/2012 - 23:18 | Portuguese | |
Poesia/Joy | A busca da beleza d´alma | 2 | 3.214 | 07/02/2012 - 00:20 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Amigos verdadeiros | 2 | 4.160 | 07/02/2012 - 00:14 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Por que a guerra, se há tanta terra? | 5 | 2.672 | 07/01/2012 - 16:35 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Verbo Vida | 3 | 5.590 | 07/01/2012 - 13:07 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Que venha a esperança | 2 | 4.104 | 07/01/2012 - 13:04 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Neste Mundo..., de "Poemas Ocultistas" (Fernando Pessoa) | 0 | 3.158 | 07/01/2012 - 12:34 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Do Eterno Erro, de "Poemas Ocultistas" (Fernando Pessoa) | 0 | 7.193 | 07/01/2012 - 12:34 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | O Segredo da Busca, de "Poemas Ocultistas" (Fernando Pessoa) | 0 | 1.789 | 07/01/2012 - 12:34 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Canções sem Palavras - III | 0 | 3.537 | 06/30/2012 - 21:24 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Seja Feliz! | 0 | 3.159 | 06/30/2012 - 21:14 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Tempo sem Tempo (Mario Benedetti) | 1 | 3.429 | 06/25/2012 - 21:04 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Uma Mulher Nua No Escuro | 0 | 4.527 | 06/25/2012 - 12:19 | Portuguese | |
Poesia/Love | Todavia (Mario Benedetti) | 0 | 3.107 | 06/25/2012 - 12:19 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | E Você? (Charles Bukowski) | 0 | 3.004 | 06/24/2012 - 12:40 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Se nega a dizer não (Charles Bukowski) | 0 | 2.546 | 06/24/2012 - 12:37 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Sua Melhor Arte (Charles Bukowski) | 0 | 2.144 | 06/24/2012 - 12:33 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | Não pode ser um sim... | 1 | 3.635 | 06/22/2012 - 14:16 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Era a Memória Ardente a Inclinar-se (Walter Benjamin) | 1 | 1.957 | 06/21/2012 - 16:29 | Portuguese | |
Poesia/Friendship | A Mão que a Seu Amigo Hesita em Dar-se (Walter Benjamin) | 0 | 2.741 | 06/20/2012 - 23:45 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Vibra o Passado em Tudo o que Palpita (Walter Benjamin) | 0 | 4.016 | 06/20/2012 - 23:45 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | O Terço | 0 | 2.035 | 06/19/2012 - 23:26 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | De sombras e mentiras | 0 | 0 | 06/19/2012 - 23:23 | Portuguese |
Comments
Até a ordeira fúria reclama a
Até a ordeira fúria
reclama a sua liberdade.
A nós resta a contemplação
da beleza da natureza.
Saudações!
_Abilio