Poema de amor não correspondido

Eu era ainda garoto. Mas, por algum motivo estava empolgado naquele dia. Em sala de aula o professor falou sobre alguma coisa de literatura. Depois, nos mandou fazer um texto, um poema, qualquer coisa. Era para que fizéssemos alguma coisa. Eu olhei para o outro lado da sala e fitei, por alguns segundos, aquela garota. Ela seria a minha inspiração e eu sabia o que ia escrever: um poema!
Por alguns minutos eu labutei com as palavras. Escrevia, lia e apagava. Não estava bom. Que droga! Queria ter o dom dos poetas. Queria traduzir em palavras o que o meu coração sentia. Mas, não saia nada. O tempo passava. O professor andava entre as fileiras de carteiras com as mãos cruzadas nas costas. Um olhar de reprovação. Eu tinha medo dele. Tinha dias que ele era muito bravo. Aquele, pelo jeito, não era um de seus melhores dias.
Olhei mais uma vez para a garota que, inocentemente, de cabeça curvada, escrevia o seu texto ou poema, sei lá. No que ela pensava? Pensava eu. Ela nunca me olhou. Então, com certeza, não é em mim que ela pensa. Ah! Já sei o que vou escrever. Vou fazer um poema de um amor não correspondido. E lá fui eu. Do nada as palavras foram saindo e eu contruí uma epopeia sobre um amor não correspondido. Pelo menos eu pensava assim. Quando terminei a minha obra de arte eu não aguentava em mim a ansiedade. Ia chamar o professor, mostrar para ele. Ele ia ler, elogiar e falar para a turma: olha só que texto maravilhoso! E ai, ela ia ter que olhar para mim.
Chamei o professor. Chamei não, gritei. Toda sala olhou para mim. O professor se aproximou. Pegou meu texto e leu. Todos os olhares da sala estavam fitos em mim. O professor terminou de ler o texto. Fitou os olhos em mim. Fez uma careta. Amassou a folha de papel e balbuciou: - Uma bosta!
Ela reparou em mim. Não sei se porque fiquei branco ou se porque fiquei vermelho. Uma das duas coisas aconteceu. Meus olhos encheram-se de água.
- Vê se produza algo melhor! - foi a sentença.
Quando todos saíram depois da aula eu fui no lixeiro e peguei o meu rascunho. Deitado na minha cama horas depois, eu peguei a folha de papel, desamassei-a e reli o que tinha escrito. Fechei os olhos e chorei. As lágrimas me aliviaram. Depois de muito tempo reli o texto outra vez. - Uma bosta! - pensei. Guardei a folha. Depois de muito pensar acabei dormindo.
Anos mais tarde. Voltei-me aos meus rascunhos. Alguns amarelados pelo tempo, outros comidos pelas baratas. Revisitei-os. Como é bom lembrar de tempos remotos. Uma maravilha. Minha memória fervilha. Busco cada acontecimento na esperança de lembrar porque eu escrevi aquele texto. Não me lembro da fisionomia daquela garota, nem mesmo de seu sorriso que era lindo. Não lembro daquele professor, a não ser de sua cara amarrada nos dias ruins para ele que, era quase todos. Mas, de uma coisa eu nunca me esqueço. Das lágrimas que derramei naquele dia. Do sonho que nasceu em mim naquela noite: - Ainda vou ser um grande escritor!
Pode não parecer muito, mas eu escrevo porque gosto de escrever. A escrita me liberta. E eu sou muito feliz!
Na noite de lançamento do meu terceiro livro me veio à mente toda essa história e a lembrança de que ninguém poderia destruir os meus sonhos.

Texto: Odair José, o Poeta Cacerense

http://odairpoetacacerense.blogspot.com

Submited by

Saturday, October 17, 2015 - 01:18

Prosas :

No votes yet

Odairjsilva

Odairjsilva's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 2 days 14 hours ago
Joined: 04/07/2009
Posts:
Points: 17000

Add comment

Login to post comments

other contents of Odairjsilva

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Disillusion Agora o coração reclama 6 566 03/26/2024 - 19:13 Portuguese
Poesia/Intervention A insensatez da guerra 6 583 03/25/2024 - 18:49 Portuguese
Poesia/Intervention Senso crítico nebuloso 6 1.559 03/24/2024 - 12:39 Portuguese
Poesia/Disillusion Entre as sombras da noite 6 3.784 03/23/2024 - 13:32 Portuguese
Poesia/Intervention O espelho da realidade 6 784 03/22/2024 - 12:17 Portuguese
Poesia/Dedicated À beleza do verso 6 2.069 03/21/2024 - 19:00 Portuguese
Poesia/Love Permita-me 6 376 03/21/2024 - 10:51 Portuguese
Poesia/Joy Outono 6 841 03/20/2024 - 21:06 Portuguese
Poesia/Thoughts Deixando marcas no tempo 6 1.336 03/19/2024 - 10:38 Portuguese
Poesia/Love Um pedaço do céu 6 628 03/18/2024 - 18:56 Portuguese
Poesia/Meditation Desafios 6 2.030 03/17/2024 - 12:51 Portuguese
Críticas/Books Odair José, Poeta Cacerense toma posse no PEN Clube de Escritores 6 2.701 03/16/2024 - 02:09 Portuguese
Poesia/Fantasy Viagem poética 6 965 03/13/2024 - 23:50 Portuguese
Poesia/Passion Minha paixão por você é eterna 6 553 03/13/2024 - 20:26 Portuguese
Poesia/Love Espero que saiba 6 867 03/13/2024 - 01:50 Portuguese
Poesia/Love Que sorte a minha 6 548 03/11/2024 - 19:56 Portuguese
Poesia/Thoughts Existência sufocante 6 1.748 03/10/2024 - 13:12 Portuguese
Poesia/Thoughts Quero que pense 6 828 03/09/2024 - 13:09 Portuguese
Poesia/Passion Quando vejo teus olhos 6 1.104 03/07/2024 - 19:16 Portuguese
Poesia/Love Tempo forasteiro 6 502 03/06/2024 - 19:22 Portuguese
Poesia/Passion Amor proibido que fere o coração 6 1.034 03/05/2024 - 22:07 Portuguese
Poesia/Love Trovas de amor e saudade VI 6 874 03/04/2024 - 22:10 Portuguese
Poesia/Love Quando penso em você 6 309 03/03/2024 - 11:53 Portuguese
Poesia/Thoughts Incompetência 6 1.518 03/02/2024 - 12:46 Portuguese
Poesia/Love Dilema 6 661 03/01/2024 - 12:06 Portuguese