JUDAS

Asa
Asa de fé
Asa da ré

Asa de Adão
Um composto de mortalha e canção

Musica de ar
De Céu o som
Num tom de breu, onde caiu a Criação

Resto de fé
Sobrou José sobrou João sobrou
Tomé, sobrou...
Mas um mané perdeu o posto

Ira e agonia no passar
Trilha coberta de carvão
Não tem brasão não tem Sião não tem argila
Não tem água
Não tem menção não tem clarão

Mora na dureza do teu crânio
Fora do calço cristão!

Asa
Asa de fé
Asa da ré

Vela este surto por favor
Peça inclemência ao traidor
E se amarga o humanizar que se dane

Não vale nada vomitar este sermão
Não vale reclamar ressurreição
Se da carcaça te sobrou montante

Não a verdade que lhe diga o coração
Que lhe pareça coração...
Não!

Asa
Asa de fé
Asa da ré

Dê um beijo nela antes de tudo
Pega aquela tralha na mesa e dê um beijo
Nela
Depois dela e antes dela

Pula a janela!

Pode morrer antes do sujo se alastrar
Antes de tudo ganhar
e de cair no aparato da retratação

Lembra daquilo:
“Um bom trocado pelo relicário
E um tapa pelo conto do vigário”

Placa “vende fé”
me vende fé
Me livre até
Só até...
Até...
Até...

Ira e agonia no passar
Trilha coberta de carvão
Não tem brasão não tem Sião não tem argila nem voz
Não tem menção não tem clarão

Otario
Vigário
Relicário
Mercenário
Ressoan no crânio e na cabeça

Abençoa o fio de corte
Um pedido de morte
Na doçura do meu tom

Todo mundo asseado
Tudo queimando em todo lado
Vida
Redenção e pontaria é o resumo

Asa
Asa de fé
Asa da ré

Meu caminho
Meu pulso
Meu poço
Meu joelho e minha dor
E o sangue
E o fosso
E a farsa
E o morto
E o corpo
E o fogo
E o topo
E o Céu
E o Cão
E a gente
E a bosta
E a loja
E o burro
E a posta
E a cabeça
E a mesa
E a cobra
E a rosa
E ela
E ela
E ela
E a porta?
E a janela
E o fio
E o surto
E o pobre
O inocente
E o crente
E o demente
E o frio
E o medo
E o cedo
E a morte de novo
O detrito
O triste
O degolado
O tratante
O enforcado
O crânio
A cabeça

Essa foi a história
Da história em minha história

Asa
Asa de fé
Asa da ré

Asa de Adão
Um composto de mortalha e canção

Mortalha e canção