Juan, o boliviano
O policial rodoviário federal olhou atentamente para os documentos do motorista e do carro dos bolivianos. Dentro do carro estavam cinco pessoas. Quatro homens e uma mulher. Eles olhavam para o policial esperando a liberação para prosseguirem na viajem. O policial suspeitou daqueles bolivianos. Os documentos estavam limpos mais alguma coisa no olhar daqueles vizinhos de fronteiras despertava a sua atenção. Fez uma revista minuciosa no carro e não encontrou nada. Droga! Pensou ele, esses malditos bolivianos estão com alguma maracutaia em mente, mas não sei o que é. Liberou-os.
O motorista ligou o motor do carro e seguiu para Cáceres. O policial pressentia que alguma coisa suspeita estava para acontecer. Não podia, no entanto, prender os sujeitos sem ter uma prova de que eles estavam levando alguma coisa para a cidade. Vários bolivianos atravessavam a fronteira todos os dias e, além disso, ele estava sozinho de plantão aquele dia.
Os bolivianos passaram pela ponte Marechal Rondon olhando o caudaloso e sutil Rio Paraguai. As imensas águas era um refresco, mesmo só olhando, para o calor da cidade. Seguiram pela Avenida São Luiz e dobraram na Dormevil Farias até pegarem a General Osório. Seguiram, então, até o semáforo do posto NL e dobraram a direita saindo na Praça da Feira onde pararam para comer um lanche em uma das barracas de salgados ali instaladas.
Observavam a agitação da cidade naquela tarde de quinta-feira ensolarada. O vai-e-vem das bicicletas, motos e carros eram típicos da cidade conhecida como Princesinha do Rio Paraguai.
Juan, o mais velho dos bolivianos olhou as pessoas que caminhavam, algumas quase correndo, outras mais calmas, no entanto, todos envoltos em seu mundo capitalizado em busca de resolver os seus problemas particulares. Como podem não imaginar que tudo isso não adianta mais? Pensou ele enquanto digeria um suculento pastel de queijo frito na hora.
Após comerem, pagaram a conta e entraram no carro. Seguiram pela movimentada avenida Padre Cassemiro até a esquina do colégio Natalino Ferreira Mendes onde dobraram a direita seguindo até sair na Avenida Getulio Vargas. Continuaram dirigindo devagar e chegaram à Avenida Sete de Setembro e pararam na rodoviária velha.
Juan desceu e seguiu até um dos guichês da rodoviária. Perguntou ao atendente se havia chegado alguma encomenda para ele.
- Chegaram três caixas compridas e pesadas pra caramba. – disse o atendente. – parece que vem dos EUA.
Juan deu um sorriso e o atendente foi buscar as caixas. Juan pediu para os seus companheiros o ajudarem a levar as caixas para o carro. Agradeceu ao atendente, atravessou a rua e foi até um hotel próximo dali. Voltou pouco tempo depois e conduziu o carro até lá. Levaram as caixas para um quarto do hotel.
Juan ficou no quarto com as caixas e seus companheiros foram para outro quarto. Depois do jantar, Juan saiu do hotel e foi até um bar nas proximidades da rodoviária e, após sentar-se, pediu uma cerveja. Enquanto saboreava a loira gelada, uma mulher se aproximou dele. Pelo seu traje e pinturas, o boliviano deduziu que se tratava de uma garota de programa, no que não estava errado. As proximidades da rodoviária velha é um reduto desse tipo de comércio. Já tinha ouvido falar no “cai pinto”.
- Olá. – disse ela ao se aproximar. – Posso beber com você?
Juan apontou uma outra cadeira para ela e pediu ao balconista um outro copo. A mulher começou a beber com ele e conversava bastante enquanto ele se mantinha bem reservado.
Depois de varias garrafas de cerveja a garota perguntou a ele se queria algo mais. Juan olhou para ela, passou a costa da mão pelo seu rosto, apalpou seus cabelos e disse sim com um aceno de cabeça. Pode ser a sua última trepada, pensou enquanto caminhava para o quarto de hotel.
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