Jo,Regresso a Samarkand (enxerto)

Já prescindira dos ventos, dos belos sóis e das sublimes luas há muito, pelo que este encontro com Pepe foi como que um sortilégio para Jo, o apelo dos grandes espaços.

Pepe, de caminhar lento, avançava pela estrada, sob uma ponte de madeira, precisamente no mesmo local onde deixara outro José, o jornalista brasileiro “Zé do pedal”o Andorinhão, ia a caminho da lendária Samarkand, do fabuloso deserto de Gobi e mais além.

Ofereceu-lhe um reconfortante Café na taberna” Vendaval “à saída da Vila, falaram todo o entardecer moreno, Jo apresentava o trilho que tão bem conhecia pela serra, era o percurso diário , casa trabalho e vice-versa de bicicleta e correndo, São Paulo, vale dos barris, moinho da Páscoa, Alto das necessidades, Moinho do Cuco etc., todos os nomes encantados.

Conta-lhe todas as experiencias do peregrino que Jo seguiu com muita atenção e com todos os sentimentos de Vagabundo que também possuía, o destino de ambos eram os caminhos.

Pepe, doutor em Zaragoza , magro , queimado pelo sol , perto de meio século bem vividos ao vento pela serras e planícies deste universo.

Não fosse o facto de lhe ter dado um abraço forte Jo não confiaria nos seus sentidos, um dos seus personagens havia regressado do fundo dos sonhos.

Sim, era realidade, os figurantes imaginários personificavam-se-lhe deste lado, Samarkand, kashgar e Lhassa permaneciam longínquas mas estes afluíam ao seu encontro um logo após outro.

Visto da guarita alta, onde Jo levou o Peregrino, o que parecia um largo Lago, estendia-se ,perante os olhos , por quilómetros depois da Serra Rasa, a Arrábida e desdobrava-se em abraços de um e outro lado da vila Cava, Setúbal o Sonho do Sado e Mar dos golfinhos alados.

Foi um par de tons que Pepe não mais esqueceria, o anoitecer sobre a Baía mágica do Sado e os despertares lentos e soalheiros de tons matinais e magistrais.

Quando finalmente se despediram, no moinho do cuco, o coração de Jo ficou mais pequeno ainda .
Tinha de continuar correndo, o comboio que o levaria de novo para a aventura ia partir breve ,
Apenas o tempo de pôr a mochila sobre as espáduas, calçar os ténis velhos, os calções usados e partir de novo ao encontro de sonhos e outras Matinas.

(continua)

Jorge Santos

Submited by

Friday, December 25, 2009 - 19:33

Prosas :

Average: 5 (1 vote)

Joel

Joel's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 2 weeks 3 days ago
Joined: 12/20/2009
Posts:
Points: 42284

Comments

Joel's picture

a Baía mágica do Sado e os despertares lentos

a Baía mágica do Sado e os despertares lentos

Add comment

Login to post comments

other contents of Joel

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Ministério da Poesia/General Notas de um velho nojento 29 4.829 04/01/2025 - 10:16 Portuguese
Ministério da Poesia/General Ricardo Reis 37 2.706 04/01/2025 - 10:04 Portuguese
Ministério da Poesia/General Insha’Allah 44 2.948 04/01/2025 - 10:03 Portuguese
Ministério da Poesia/General São como nossas as lágrimas 10 2.256 04/01/2025 - 10:02 Portuguese
Ministério da Poesia/General Recordo a papel de seda 19 533 04/01/2025 - 10:00 Portuguese
Ministério da Poesia/General Duvido do que sei, 10 740 04/01/2025 - 09:58 Portuguese
Poesia/General Entreguei-me a quem eu era 10 805 04/01/2025 - 09:56 Portuguese
Poesia/General Cedo serei eu 10 893 04/01/2025 - 09:55 Portuguese
Poesia/General Não existo senão por’gora … 10 1.285 04/01/2025 - 09:54 Portuguese
Ministério da Poesia/General Cada passo que dou 15 2.938 03/28/2025 - 22:11 Portuguese
Ministério da Poesia/General Quem sou … 16 3.912 03/28/2025 - 22:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General A essência do uso é o abuso, 14 5.140 03/28/2025 - 22:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Percas, Carpas … 12 787 02/12/2025 - 10:38 Portuguese
Ministério da Poesia/General Tomara poder tocar-lhes, 12 1.070 02/11/2025 - 18:58 Portuguese
Ministério da Poesia/General Pois que vida não tem alma 20 598 02/11/2025 - 18:37 Portuguese
Poesia/General Pra lá do crepúsculo 30 4.628 03/06/2024 - 12:12 Portuguese
Poesia/General Por onde passo não há s’trada. 30 5.592 02/18/2024 - 21:21 Portuguese
Poesia/General Sonhei-me sonhando, 17 6.089 02/12/2024 - 17:06 Portuguese
Ministério da Poesia/General A alegria que eu tinha 23 6.845 12/11/2023 - 21:29 Portuguese
Ministério da Poesia/General (Creio apenas no que sinto) 17 3.173 12/02/2023 - 11:12 Portuguese
Ministério da Poesia/General Vamos falar de mapas 15 9.180 11/30/2023 - 12:20 Portuguese
Poesia/General Entrego-me a quem eu era, 28 4.026 11/28/2023 - 11:47 Portuguese
Ministério da Poesia/General O Homem é um animal “púbico” 11 6.496 11/26/2023 - 19:59 Portuguese
Ministério da Poesia/General No meu espírito chove sempre, 12 2.963 11/24/2023 - 13:42 Portuguese
Ministério da Poesia/General Os destinos mil de mim mesmo. 21 7.919 11/24/2023 - 13:42 Portuguese