SEM INFINITO O MEU CORPO VAI NU


Poeta plebeu,
barricado em linhas cuja curva
se mata nua nos olhos do poema.

Rima estancada na pancada de uma lágrima
que faz do rosto um pátio oco de almas obesas.

Almas como se fossem carris cujo comboio
é um fado que apita as suas toneladas alertadas em dor.

Dor que me agride em suspiro
cujo sopro é um chicote que zune em agonia.

Bafo que em desabafo me castiga.

Laço que em frio
me fustiga o ser atirado aos nevoeiros
cuja densidade se grafita em pedra na minha voz.

Ardósia de esquina sem refúgio
que em mim escava fossos cujo fundo são ecos curtos.

Boatos carbonizados por chama sem fogo,
queimares ateados em grito numa sopa de ventos.

Vanidade em tempestades
assoberbadas pelo punho das horas
que se engrossam paradas no meu corpo.

Ansiedades feridas
pela incisão solitária das noites,
desorientações amarradas à lua cheia
cujo círculo é um mar de alcunhas dos vazios.

Terraços encanados à tristeza,
como canção sem unha na viola do tempo.

Fulgências que me amortalham de sofrer,
que me talham o acontecer refém da ilusão.

São e salvo,
o infinito é a minha roupa,
a eternidade o esqueleto da minha poesia louca.

Sem infinito o meu corpo vai nu,
traçado de acidentes cuja fatalidade é uma fonte seca.

Caudal de correntes
cujo jorro seria um deserto
que a morte traz vestida de oásis indivinos.

Jura espirrada por sereias,
afogadas em areias de silêncio cuja mudez
é o ruído do ruir dos castelos edificados em sonho.

 

Submited by

Tuesday, June 14, 2011 - 00:21

Poesia :

Your rating: None (1 vote)

Henrique

Henrique's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 10 years 8 weeks ago
Joined: 03/07/2008
Posts:
Points: 34815

Add comment

Login to post comments

other contents of Henrique

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Aphorism BEM VISTO 0 11.368 01/15/2015 - 15:36 Portuguese
Poesia/Thoughts DESTRUIÇÃO 0 1.273 01/13/2015 - 21:56 Portuguese
Poesia/Thoughts CALMA 0 5.969 01/13/2015 - 14:13 Portuguese
Poesia/Thoughts QUE VIDA ME MATA DE TANTO VIVER 0 2.112 01/12/2015 - 21:18 Portuguese
Poesia/Aphorism SEM AUSÊNCIA 0 3.979 01/12/2015 - 18:03 Portuguese
Poesia/Aphorism Pior do que morrer, é não ressuscitar... 0 5.085 01/11/2015 - 23:04 Portuguese
Poesia/Thoughts CHOCALHO DE SAUDADE 0 2.852 01/11/2015 - 17:30 Portuguese
Poesia/Thoughts GRITO QUE AS MÃOS ACENAM NO ADEUS 0 5.516 01/11/2015 - 00:07 Portuguese
Poesia/Thoughts SOVA DE ALGURES 0 2.394 01/10/2015 - 20:55 Portuguese
Poesia/Thoughts SORRATEIRAMENTE 0 2.737 01/09/2015 - 20:33 Portuguese
Poesia/Thoughts SILÊNCIO TOTAL 0 3.252 01/08/2015 - 21:00 Portuguese
Prosas/Terror FUMAR É... 1 9.237 06/17/2014 - 04:23 Portuguese
Poesia/Love COMPLETAMENTE … 1 2.651 11/27/2013 - 23:44 Portuguese
Videos/Music The Cars-Drive 1 3.892 11/25/2013 - 11:52 Portuguese
Poesia/Passion REVÉRBEROS SÓIS … 1 2.785 08/15/2013 - 16:23 Portuguese
Poesia/Meditation AS ENTRANHAS DO SILÊNCIO … 0 1.503 07/15/2013 - 20:37 Portuguese
Poesia/Meditation TIQUETAQUEAR … 0 2.758 07/04/2013 - 22:01 Portuguese
Poesia/Sadness AMOR CUJO CARVÃO SE INCENDEIA DE GELO … 0 4.209 07/02/2013 - 20:15 Portuguese
Poesia/Sadness ONDE A NOITE SEMEIA DESERTOS DE ESCURIDÃO … 0 3.138 06/28/2013 - 20:58 Portuguese
Poesia/Meditation ESCOLHO VIVER … 1 2.659 06/26/2013 - 09:42 Portuguese
Fotos/Art Se podia ser mortal? 0 7.209 06/24/2013 - 21:15 Portuguese
Fotos/Art Um beijo com amor dado ... 0 3.935 06/24/2013 - 21:14 Portuguese
Poesia/Meditation AZEDAS TETAS DA REALIDADE … 0 3.291 06/22/2013 - 20:36 Portuguese
Poesia/Meditation FAÍSCAS NA ESCURIDÃO … 0 6.369 06/18/2013 - 22:52 Portuguese
Poesia/Meditation QUANTO BASTE … 0 4.023 06/10/2013 - 21:23 Portuguese