CONTACTO ALIENÍGENA - AOS OLHOS DE QUEM VÊ...

* * *

Ela conduzia o automóvel em direcção a casa. A noite ia adiantada mas já não faltava muito para chegar. Ainda pensara em pernoitar num hotel e partir pela manhã, mas sentiu necessidade de contar as novidades aos seus familiares de viva voz e por isso prescindira de lhes telefonar.

Sim, ela acabara de ganhar o concurso de beleza ao qual concorrera e ficara apurada para a final a nível nacional, algo que apenas em sonhos parecia ser possível.

“Sou uma das vinte mais belas do país “ – cantarolou de contentamento.
A noite estava escura e límpida e as estrelas cintilavam no céu. Seguia numa estrada secundária sem movimento àquela hora, mas já antes fizera este percurso e nada parecia estragar a sua alegria.

Mas de súbito, depois de uma curva mais acentuada, deparou-se com umas luzes brilhantes que provinham de algum veículo estranho que pairava sobre a estrada, aí a uns dois metros do solo.

Travou a fundo e ficou meio cega, debaixo do feixe de luzes. Colocou as mãos à frente dos olhos para tentar vislumbrar alguma coisa, mas naquele instante as luzes mais fortes desligaram-se, ficando apenas uma luz mais fraca a iluminar a cena.

Entretanto o veículo pousara na estrada e uma porta abriu-se, saindo dela um vulto indefinido que se dirigiu a ela. Uma voz grossa com um sotaque carregado, ecoou na noite:
“Não tenhas receio, terráquea!... Venho em paz e pretendo apenas falar contigo”.
A moça estava assustadíssima e nem sequer conseguiu sair do automóvel, ficando a olhar o vulto aproximar-se. Viu que ele trajava um fato complexo e que a sua cabeça não estava visível.

E num passo impreciso o ser chegou-se a um metro dela e tirou um capacete do tipo espacial.

Ao contemplar aquelas feições, a moça não aguentou mais a emoção e desmaiou.

O Alienígena observou toda a cena com uma expressão estranha e demonstrando um raro embaraço, dirigiu-se de novo à sua nave, partindo de imediato rumo ao espaço.
***
***

Quando ela acordou as ideias estavam completamente baralhadas na sua cabeça.
Não conseguiu perceber quanto tempo se passara desde aquele estranho encontro... aparentemente não tinham passado mais que uns minutos e tudo parecia estar inalterável.

O carro e as luzes continuavam ligados e além desse facto, nada parecia perturbar o silêncio da noite.

Antes de recomeçar a marcha, permaneceu ali um pouco no carro, tentando harmonizar as ideias... Tudo lhe parecia um sonho demasiado cruel. Mais que um sonho: um pesadelo horroroso!

Por Deus, nunca imaginara que podia existir uma criatura tão horrenda!
Ao rever mentalmente aqueles enormes olhos vermelhos e aquelas feições verdes e rugosas de réptil, sentiu-se impelida a vomitar...
***
***

Já o planeta era um pequeno ponto no espaço quando ele retomou o controlo de todas as faculdades. Respirou fundo e pensou nas recomendações sensatas fornecidas pelo alto comando.

A experiência de centenas de testemunhos colhidos por um sem número de desventurados irmãos acabara por dar alguns resultados, mas ainda muito longe daquilo que é desejável.

Parte desses irmãos perderam tudo, inclusive a sanidade mental, mas outros ainda conseguiram transmitir informações que aos poucos vão servindo para cumprir os desígnios da paz universal.

Um dia a harmonia entre todos os povos será possível, mas no caso dos habitantes da Terra não está a ser nada fácil, apesar de séculos e séculos de tentativas de aproximação.

Ainda estava presente na sua memória aqueles olhos frios como a própria morte e aquelas feições de uma brancura verdadeiramente arrepiante...

Também a reacção da terráquea, desmaiando ao constatar a excelência do seu porte, é a mais comum de acontecer, tendo em conta anteriores encontros – acredita-se ser uma defesa intuitiva destes seres primitivos ao sentirem-se na presença de alguém tão superior.

Como ultrapassar o problema se ninguém consegue suportar a presença destes seres e se eles insistem em ficar desacordados?!

Por Deus, por mais filmagens e fotos a que tenha assistido, por muitos dias de preparação mental, nunca imaginara sentir tanto medo, nem que podiam existir criaturas tão horrendas!

Só de pensar nisso, sentiu-se impelido a vomitar novamente...
***
***

23.04.2012, Henricabilio

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Jueves, Junio 21, 2012 - 16:37
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Henricabilio

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Comentarios

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com esta atmosfera

com esta atmosfera incomum
tentei transmitir uma situação que acontece vulgarMente
na nossa sociedade hipócrita
- tantos olhos e tão poucas maneiras de ver do mesmo jeito.

Grato pela presença!

Abilio Henriques

Imagen de Odete Ferreira

Gostei deste

Gostei deste relato ficcionado, amigo Henricabilio. Bem escrito e prendendo o leitor.

Parabéns!

Bjo :)

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Este tipo de contos está a

Este tipo de contos está a ter boa receptividade...
mas como é pouco comentado gostaria de saber
quem e em que circunstâncias os lê pois possuo mais escritos.

Saudações

Abilio

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