Para no fim desembocar num sopro

Para no fim desembocar num sopro…
Era beleza só e afinal.
Uma beleza terrorista, inconsequente... repentista.
Uma dúvida tão bela, que o mundo ainda não acontecia e só choravam cascatas na terra.
Por aqueles dias a ventania, que ainda não tinha nome nem função, atribulava uma precoce inquietude molecular.
Um engarrafamento de meridianos inventava cordilheiras e oceanos num frenético estertor de murmúrios perpétuos.
Não se sabia de nada, nem o cheiro das entranhas em parto tumultuoso tinham o perfume de útero, tão só, porque o ponto de interrogação se afirmava absoluto no romance do tempo.
As árvores germinavam agrestes, sem saberem ser fruto da fecundação sublime dos elementos, que eram a afirmação eminente de um desastre épico e urgente.
Agora, o tempo, já não era um relógio parado, e um sismo cego celebrava a catarse universal num jorro de cores catástrofe e paixão.
Baptizou-se a natureza e o Homem sem culpas corria nu pela terra.
Toda a carne era difícil e crua, intacta e pura.
Num respirar quase cósmico brotou um espelho de água verde que reflectiu os esconderijos mundanos que faltavam ao nome do mundo.
Uma orgia planetária descobriu o pecado sobre a forma de fogo, terra, madeira, metal e água…
Idolatrou-se o domínio dos elementos e o Homem tornou-se num espectro, quando lhes inventou nome de deus…eram agora já escravos e…mortais.
Muito tempo passou muito depressa, o século era sempre pretérito e a vida um edifício Homérico.
O romance do tempo exclamava pelos pontos de interrogação e coisas que não tinham nome anunciaram-se ao mundo num cataclismo infame…guerra, ódio, desprezo, indiferença e bíblia.
A terra ganhou amos e os chicotes eram agora patrões enfurecidos num colérico bailado de morte.
O sangue do Homem plantou as cidades na terra e a tristeza era uma força embrutecida de operários sujeitados.
Desenharam-lhe o destino sem acabar o romance, plantando pontos finais numa História que nunca tem fim.
Do epicentro das metrópoles exploradas, das searas esquecidas, dos rostos com fome nasceu o grito e veio a luta…
Para no fim desembocar num sopro…de esperança
Era beleza só e afinal.
O romance do tempo não tinha pontos finais e o Homem que luta…
Não conhece…a rendição!

Submited by

Sábado, Febrero 20, 2010 - 21:19

Poesia :

Sin votos aún

Lapis-Lazuli

Imagen de Lapis-Lazuli
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 10 años 38 semanas
Integró: 01/11/2010
Posts:
Points: 1178

Comentarios

Imagen de jopeman

Re: Para no fim desembocar num sopro

mto boa meditação, adornada com a arte, inconfundível, da tua escrita

mto bom

abraço

Imagen de Obscuramente

Re: Para no fim desembocar num sopro

Talvez, um dia o vento sopre, e não haja mais que o pó... para o qual devemos retornar...

Sempre bom ler-te.

Abraço.

Imagen de MarneDulinski

Re: Para no fim desembocar num sopro

BELEZA DE POEMA, GOSTEI MUITO!
Normalmente não gosto de metáforas em excesso, até deixo de ler muitos poemas por este motivo, mas este, gostei demais!
Meus parabéns,
Marne

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Lapis-Lazuli

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Fotos/Perfil 3517 1 4.427 03/13/2018 - 20:32 Portuguese
Poesia/Aforismo In Vapore Sano 4 3.446 03/13/2018 - 20:32 Inglés
Poesia/Aforismo Era só isto que eu queria dizer 1 3.149 02/27/2018 - 09:22 Inglés
Poesia/Aforismo salgo :33 Isaías sonha que aos fala aos camones 0 2.644 06/20/2014 - 14:41 Inglés
Poesia/General Boca Do Inferno 0 6.106 07/04/2013 - 21:44 Portuguese
Poesia/Pensamientos veludo 3 3.183 05/15/2013 - 16:34 Portuguese
Poesia/Aforismo Segundo Reza a Morte 0 2.945 10/04/2011 - 16:19 Portuguese
Poesia/Meditación Fumo 0 2.956 09/23/2011 - 11:00 Portuguese
Poesia/Aforismo De olhos fechados 3 3.383 09/20/2011 - 21:11 Portuguese
Poesia/Aforismo Tundra 0 2.832 09/20/2011 - 15:36 Portuguese
Poesia/Meditación Vazio 3 2.951 09/16/2011 - 10:00 Portuguese
Poesia/Aforismo Intento 0 2.433 09/05/2011 - 15:52 Portuguese
Poesia/Aforismo Palma Porque sim...Minha Senhora da Solidão 0 2.767 08/29/2011 - 10:13 Portuguese
Poesia/Aforismo Editorial 0 3.051 08/29/2011 - 10:08 Portuguese
Poesia/Pensamientos Ermo Corpo Desabitado 0 3.055 08/29/2011 - 10:04 Portuguese
Poesia/Aforismo Dos passos que fazem eco 1 2.627 06/21/2011 - 21:06 Portuguese
Poesia/Meditación Autoretrato sem dó menor 3 4.305 03/28/2011 - 22:34 Portuguese
Poesia/Aforismo Todo o mundo que tenho 2 2.939 03/09/2011 - 07:23 Portuguese
Fotos/Perfil 3516 0 4.927 11/23/2010 - 23:55 Portuguese
Fotos/Perfil 3518 0 4.533 11/23/2010 - 23:55 Portuguese
Fotos/Perfil 2672 0 5.886 11/23/2010 - 23:51 Portuguese
Prosas/Otros A ultima vez no mundo 0 3.040 11/18/2010 - 22:56 Portuguese
Prosas/Otros Os filhos de Emilia Batalha 0 3.259 11/18/2010 - 22:56 Portuguese
Poesia/Desilusión Veredictos 0 2.952 11/18/2010 - 15:41 Portuguese
Poesia/Intervención Nada mais fácil que isto 0 2.961 11/18/2010 - 15:41 Portuguese