O principio do esquecimento

Como lençóis brancos estendidos na terra, ondulantes como espuma revolta que lágrima em sal e colírio na rebentação inflamada das ondas e da maresia do verbo querer…quero!
Trovões e relâmpagos e uma sangria de estrelas cadentes no enfeito do cosmos em celestes azuis, que tremenda o universo no êxtase de ser imortal.
Cidade…e eu só silêncio.
Que sinto o tanto e o ser no mergulho do lodo…toda a verdade do mundo para lá do vidro deste comboio universo de gente desprendida…peço atenção!
Agora…reparem no ar que envolta mentiras ancestrais e roguem perdão.
Os crocodilos choram já vi…choram a sério como crianças roubadas ao cheiro e ao ventre de mães rasgadas no limbo em procura de olhos parentes.
Choro também…e do vidro do comboio, bolas de sabão, galeões e tesouros, arco-íris aos teus pés desembravecem meu corpo em mistura demente de mim…a pensar pelos sonhos…e…
Todos os “assim’s” são minha alma sorrir na terra dos “ses”…
Se poetas do ser e das coisas inventassem o sol que brilha para todos…
Paraísos inimagináveis, lanternas e lampiões no ilumino das almas perdidas no sempre…
Oceanos serenos sem corsários e querubins, feiticeiros e magos do negro que pintam os dias de morte.
Aqui ando eu…a pensar…se ao fim destas letras ainda se lembrarão de mim.
Aqui…
Vazio…
Soco inconstante que deserta a alma em vagos adeus.
Por aqui ando…
Vazio ao redor dos olhos, de todos os olhos que se desviam de mim.
Quem me sabe, decerto jamais ousaria consolar-me com psicologias de algibeira e falinhas paternalistas de ser e circunstância…
Hoje ia lá…hoje era o dia…
Violar a noite num estoiro esbelto e terrorista…
Talvez mortalhas benzidas no vazio que fuma repentes vadios de mim e dos cegos e dos surdos, dos sem nada e abrigo.
Nesta Lisboa tão puta encostada a uma esquina do Tejo com verdete nos colhões marinheiros, suplico á noite oceanos tintos á porta de outra Madalena sem arrependimentos, que o fado que toca são mulheres de naifa na liga em batalhas de noite e de pão…
Arrumadores de kispo e jornal que noticiam beatas apanhadas do chão…
Proxenetas de aguardentes breves a cuspirem o veneno que cheira a madrugada…e agora Lisboa…minha puta amada…
Bolas de sabão, galeões e tesouros com arco-íris aos teus pés desembravecem meu corpo em mistura demente de mim…a pensar pelos sonhos…e…
Piratas, corsários, bruxos e querubins, Neptuno, Minotauro, astrolábios e oriente, drogados, cabo-ruivo, o largo de Moscavide, a rotunda do relógio, a rua do crucifixo, a porta do gingão, o Record, o Diário de noticias e o largo do Camões…e o jardim de São Pedro de Alcântara…a inundar-me a saudade desta cidade que quero…
Como lençóis brancos estendidos na terra, ondulantes como espuma revolta que lágrima em sal e colírio na rebentação inflamada das ondas e da maresia do verbo querer…quero!
Saber se ao fim destas letras…ainda se lembrarão de mim…
Se ainda me lembrarei de mim.

Submited by

Lunes, Febrero 22, 2010 - 22:39

Poesia :

Sin votos aún

Lapis-Lazuli

Imagen de Lapis-Lazuli
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 9 años 45 semanas
Integró: 01/12/2010
Posts:
Points: 1178

Comentarios

Imagen de Susan

Re: O principio do esquecimento

Seu poema é de tirar o folego.
Amei
Susan

Imagen de MarneDulinski

Re: O principio do esquecimento

Lapis-Lazuli
Um lindo Poema desta Linda Lisboa, que com todos os problemas de uma cidade grande, uma Capital, ainda a queres, a ama...
Meus parabéns,
Marne

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Lapis-Lazuli

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Fotos/Perfil 3517 1 3.660 03/13/2018 - 21:32 Portuguese
Poesia/Aforismo In Vapore Sano 4 2.802 03/13/2018 - 21:32 Inglés
Poesia/Aforismo Era só isto que eu queria dizer 1 2.461 02/27/2018 - 10:22 Inglés
Poesia/Aforismo salgo :33 Isaías sonha que aos fala aos camones 0 2.034 06/20/2014 - 15:41 Inglés
Poesia/General Boca Do Inferno 0 5.583 07/04/2013 - 22:44 Portuguese
Poesia/Pensamientos veludo 3 2.597 05/15/2013 - 17:34 Portuguese
Poesia/Aforismo Segundo Reza a Morte 0 2.495 10/04/2011 - 17:19 Portuguese
Poesia/Meditación Fumo 0 2.384 09/23/2011 - 12:00 Portuguese
Poesia/Aforismo De olhos fechados 3 2.811 09/20/2011 - 22:11 Portuguese
Poesia/Aforismo Tundra 0 2.386 09/20/2011 - 16:36 Portuguese
Poesia/Meditación Vazio 3 2.434 09/16/2011 - 11:00 Portuguese
Poesia/Aforismo Intento 0 1.991 09/05/2011 - 16:52 Portuguese
Poesia/Aforismo Palma Porque sim...Minha Senhora da Solidão 0 2.309 08/29/2011 - 11:13 Portuguese
Poesia/Aforismo Editorial 0 2.452 08/29/2011 - 11:08 Portuguese
Poesia/Pensamientos Ermo Corpo Desabitado 0 2.634 08/29/2011 - 11:04 Portuguese
Poesia/Aforismo Dos passos que fazem eco 1 2.108 06/21/2011 - 22:06 Portuguese
Poesia/Meditación Autoretrato sem dó menor 3 3.751 03/28/2011 - 23:34 Portuguese
Poesia/Aforismo Todo o mundo que tenho 2 2.430 03/09/2011 - 08:23 Portuguese
Fotos/Perfil 3516 0 4.274 11/24/2010 - 00:55 Portuguese
Fotos/Perfil 3518 0 3.978 11/24/2010 - 00:55 Portuguese
Fotos/Perfil 2672 0 5.456 11/24/2010 - 00:51 Portuguese
Prosas/Otros A ultima vez no mundo 0 2.474 11/18/2010 - 23:56 Portuguese
Prosas/Otros Os filhos de Emilia Batalha 0 2.672 11/18/2010 - 23:56 Portuguese
Poesia/Desilusión Veredictos 0 2.436 11/18/2010 - 16:41 Portuguese
Poesia/Intervención Nada mais fácil que isto 0 2.431 11/18/2010 - 16:41 Portuguese