Tudo passa ás vezes
Nós porque sim e tanto amor para lá das coisas que éramos.
Tínhamos para dar qualquer coisa que se dizia a olhar e olhar não bastava às vezes.
Às vezes…
Às vezes olhava-te silêncios de fumo á janela.
Parecias a cidade voante lá ao fundo das escadas quando o tempo se fartou de nós e o café veio por fora…
Morava na casa uma recordação velha de amor e os electrodomésticos viviam lá pelos cantos que eu paro de escrever para liga-los e lembrar-me de tudo.
Pareço mais velho.
Sabes aqueles dentes grandes detrás?
Saiu um á mão sem dor pelo espelho da barba num resigno de abandono.
Há tantas coisas pelo chão espalhadas e nenhuma delas és tu.
Como enlatados com sabor a lata e gostava de saber dos lençóis ou se queres vir aqui porque estou no quarto a chorar ás vezes.
Às vezes…
Deito-me com a luz acesa porque ganhei medo ao escuro.
Uma destas noites vi-te a fumar á janela.
Estavas escura.
Acordei noite inteira lá ao fundo das escadas quando o tempo se fartou de nós e o café veio por fora…
Rodopiavam no ar furacões bailarinos, folhas, bruxas, cadáveres andarilhos, o vento cantava estremeções, arrepios, vidros, átomos, mares revoltados, chovia, a lua hesitava assim á coisinhas e as árvores da rua eram monstros de sombra.
Tudo passa.
Os dentes, o amor, a dor e tu…tudo!
Vou a festas daquelas onde me gostam de ter e beber e foder ás tantas da noite sem ti.
Os amigos são uma cirrose de conselhos hepáticos a cheirar merdas e perfumes e gajas e camas e carros e quadros e letras e tretas e roupas e hálitos e…
E tu…
Onde andas?
Saio.
Procuro por onde estivemos os dois.
Nós porque sim e tanto amor para lá das coisas que éramos.
Tínhamos para dar qualquer coisa que se dizia a olhar e olhar não bastava às vezes.
Às vezes…
Sento-me a olhar o rio e vejo-te ao longe de nós a pensar…
Um cesto cheio de roupa suja…
Ainda muito do que deixas-te.
Não quero que o cheiro se perca…
Nem que a casa perceba o silencio…
Porque é que estamos sozinhos.
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 565 reads
Add comment
other contents of Lapis-Lazuli
Tema | Título | Respuestas | Lecturas | Último envío | Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Fotos/Perfil | 3517 | 1 | 4.077 | 03/13/2018 - 21:32 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | In Vapore Sano | 4 | 3.197 | 03/13/2018 - 21:32 | Inglés | |
Poesia/Aforismo | Era só isto que eu queria dizer | 1 | 2.842 | 02/27/2018 - 10:22 | Inglés | |
Poesia/Aforismo | salgo :33 Isaías sonha que aos fala aos camones | 0 | 2.363 | 06/20/2014 - 15:41 | Inglés | |
Poesia/General | Boca Do Inferno | 0 | 5.812 | 07/04/2013 - 22:44 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | veludo | 3 | 2.831 | 05/15/2013 - 17:34 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Segundo Reza a Morte | 0 | 2.676 | 10/04/2011 - 17:19 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Fumo | 0 | 2.581 | 09/23/2011 - 12:00 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | De olhos fechados | 3 | 2.972 | 09/20/2011 - 22:11 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Tundra | 0 | 2.592 | 09/20/2011 - 16:36 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Vazio | 3 | 2.598 | 09/16/2011 - 11:00 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Intento | 0 | 2.199 | 09/05/2011 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Palma Porque sim...Minha Senhora da Solidão | 0 | 2.442 | 08/29/2011 - 11:13 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Editorial | 0 | 2.681 | 08/29/2011 - 11:08 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | Ermo Corpo Desabitado | 0 | 2.742 | 08/29/2011 - 11:04 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Dos passos que fazem eco | 1 | 2.355 | 06/21/2011 - 22:06 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Autoretrato sem dó menor | 3 | 4.060 | 03/28/2011 - 23:34 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Todo o mundo que tenho | 2 | 2.700 | 03/09/2011 - 08:23 | Portuguese | |
Fotos/Perfil | 3516 | 0 | 4.506 | 11/24/2010 - 00:55 | Portuguese | |
Fotos/Perfil | 3518 | 0 | 4.254 | 11/24/2010 - 00:55 | Portuguese | |
Fotos/Perfil | 2672 | 0 | 5.587 | 11/24/2010 - 00:51 | Portuguese | |
Prosas/Otros | A ultima vez no mundo | 0 | 2.760 | 11/18/2010 - 23:56 | Portuguese | |
Prosas/Otros | Os filhos de Emilia Batalha | 0 | 3.089 | 11/18/2010 - 23:56 | Portuguese | |
Poesia/Desilusión | Veredictos | 0 | 2.641 | 11/18/2010 - 16:41 | Portuguese | |
Poesia/Intervención | Nada mais fácil que isto | 0 | 2.762 | 11/18/2010 - 16:41 | Portuguese |
Comentarios
Re: Tudo passa ás vezes
Mais um excelente poema que encontro no WAF!
:-)
Re: Tudo passa ás vezes
Que linda mensagem deixa teu pensamento , é o que acontece quando nos arremete o bichinho da saudade...
Onde lembramos que nem mesmo olhar nos basta , como você diz : Às vezes...
Gostei muito!
Abraços
Susan