A Lenda de Enoah - Capitulo 8

O vento fustigava o cavaleiro, que se resguradava o mais possivel atrás de uma enorma rocha, evitando não só a exposição directa ao contato visual de olhares indiscretos, bem como evitar que o vento gélido, provindo dos Pantanos o congelasse.
Sir Percival, tornado temporáriamente em peão, praguejava pela demora da filha da montanha, que a aguardava impaciente nos limites de Ischtfall, o reino de Leopoldo II.
A impaciência toldava-lhe os movimentos e o vento forte, arrefecia-lhe o nobre espirito. Mas era sobretudo o medo que gelava a alma de Sir Percival. o medo da missão, o medo do desconhecido. Temia a loucura do rei, num plano perigoso e cheio de lacunas. Ele era um nobre, um cavaleiro e um estratega militar, jamais tomaria tal risco e jamais colocaria a sobrevivencia do reino nas mãos de uma aldeã.
Mesmo que sobrevivessem aos perigos e lendas que o povo contava de Arkhan, as terras perdidas,teriam de entrar em Orgutt. Um reino fortemente militar, guardado por mais de cem mil guardas. Puro suicidio!
Hesitante, olhava a vasta nublina que sempre cobria os pântanos, tentando descortinar se a pequena ponte de pedra ainda existia.
Ischtfal era ladeado pelas enormes montanhas, das quais Enoah, pretendia tornar-se rainha, e a trezentos metros da muralha do reino, os pantanos e a floresta densa de Arkhan.
Os pantanos nem sempre existiram, mas após o diluvio final, provocado pelos grandes Deuses, tomaram forma e criaram uma separação natural entre Ischtfall e Arkhan. Até mesmo os cavalos, hesitavam entrar na nublina. Desde a batlaha final e o diluvio que então tanto Orgut como Ischtfall, desprezaram Arkhan considerando-o território abandonado.
Muitas lendas surgiram então, de seres e fantasmas que habitavam tais locais.Seres demoniacos, irreais e a verdade é que por vezes camponeses e peões desapareciam, depois de se aventurarem a sair de Ischtfal.
Só havia um trilho seguro para rumar a Orgutt em relativa segurança: Pela ponte que atravessava o Rio Ischmorr e pelo caminho desbravado por entre as margens pantanosas. um caminho de terra, que mal cabia uma carruagem ou coche.
A tribo das montanhas tambem conhecia as lendas de Arkhan, mas ao contrário dos dois maiores reinos, conheciam melhor o terreno e os perigos reais. Por vezes, a demanda da procura de alimento, levava-os até bem longe dos limites do reino de Ischtfall.
Percival consultou os céus, onde nuvens negras surgiam a cobrir todo o manto azulado. Em breve seria noite e provavelmente choveria e onde andaria essa aldeã?
Subitamente ele sentiu que não estava só e desembainhando a espada, redobrou a atenção, quando num empurrão, perdeu o equilibrio e caiu:
-Que feitiçaria vem a ser esta? Quem sois?
Uma voz familiar surgiu perto dele, zombando:
-Grande guerreiro sois, que caìs ao minimo toque.
-Enoah?
-Vamos oh grande guerreiro. É tarde!
Envergonhado e ainda surpreso ao a ver meterializar-se á sua frente, desculpou-se:
-Bem sabeis que não vos posso ferir. Sois importante para a missão.
Enoah, sorriu de desprezo, olhou o pântano e esclareceu:
-Não pretendia ficar invisivel, mas estava a ser seguida.
-Conseguis ficar invisivel? Pelos Deuses isso é bruxaria!
-Bruxaria? Não, é apenas controle da mente e da matéria. Em relação ao vosso corpo e nas potencialidades que vos foram dadas ao nascer, vocês de Ischtfall, são profundamente ignorantes.
Percival ignorou o inicio de um confronto verbal e não desviando a atenção da jovem, inquiriu:
-Dizeis que te seguiram?
-Sim. Lacaios do Rei certamente.
-Do Rei? Duvido. Porque te seguiriam eles e não a mim?
-Se não eram do rei, eram de alguem interessado....-
Enoah consultou por momentos,de olhos fechados, o ambiente em procura de passos. Apurou o poder de audição e sintonizou-se com o vento que zumbia. Depois abriu rapidamente os olhos e perante a estupefacção do companheiro de missão, sentenciou:
-Temos pouco tempo, em breve eles surgirão. Vamos!
-Atravessaremos a ponte, rápidamente.
-Não. Não vamos pela ponte!
-Que dizeis?
-Não sei. Não sinto segurança. Sinto perigo.
-Pois podeis sentir que quizeres. Eu digo que o unico caminho é pela ponte e iremos! - O olhar fulminante de Percival, não provocou a minima reacção em Enoah.
-Peço desculpa, meu senhor!
-Assim sim. Vê, já nos começamos a entender.
Enoah riu e concluiu:
-Não acabei a frase, oh meu senhor!
-Não? Mas haveis pedido desculpa!
-Pelo meu erro. Pois não sois só ignorante na questão do corpo. Sois tambem arrogante e machista....Só virtudes, espero!
Atónito e irado percival levou a mão ao cabo da espada.
-Oh por favor, deixemo-nos de arrogancias leves. Vamos. Siga-me!
Pela hora da andorinha, os dois em passo acelarado ignorarama ponte de pedra, e entraram em Arkhan, por um trilho de pedras que sulcavam o rio.
Enoah vestida com o fato-capuz da tribo e Percival, que optara por roupas aldeãs,ocultava a espada pelo sobretudo de ferreiro.
Parecera-lhe a ele que as sandálias rusticas que a jovem calçava, iam ser inuteis nos pantanos e felicitava-se por ter optado pelas botas de cano alto dos cavaleiros de Ischtfall.
No palácio Real, a rainha transcrevia feilmente a Leopoldo o que Betarice havia presenciado, e os olhos azuis e habitualmente calmos do rei, faiscaram:
-Impossivel que ele estivesse a avisar alguem. Não teve tempo e ninguem soube, pois so comuniquei a convocatória de uma reunião ao meu fiel conselheiro.
-Achais que pode ser outro motivo, que não algo de traição?
-não devemos er precipitados. O povo adora-o e ainda preciso de saber o que os Deuses pensam deste meu plano.
-Consta que haveis dispensado a filha da montanha?
-Dispensado? Não, ela retomou temporáriamente á montanha, a fim de se despedir da tribo. Regressará em breve ao palácio.
Oito anos de casamento deram a possibilidade de Latvéria aperceber.se do modo como o rei contrai os lábios quando mente. Não era habitual, mas nesse momento ele o fez e ela permaneceu assustada e pensativa.
Pensativo estava igualmente Vlad Gambinus, quando recebeu o conselheiro, nessa hora da andorinha:
-Aquela a quem chamam de filha da montanha, regressou á montanha, mas os meus espiões perderam-lhe o rasto pouco depois.
Gambinus, irritado pelo fracasso, atirou com o copo de bronze, ainda com o magnifico vinho de Ischtfall para a lareira, e grosseiramente, criticou:
-Como é que homens bem treinados, perdem o rasto de uma aldeã?
-Na verdade, não encontro justificação possivel. Mas há algo de estranho.
-Estranho, dizeis?
-Com efeito. Quando os homens voltarm para trás, já desistindo de voltarem ao rasto dela, repararam em pegadas que surgiam do nada. Como se alguem tivesse passado por eles sem que eles o vissem..
-Isso é impossivel.
-Decerto, meu senhor. Mas mesmo assim...
-Ora, parecem-me mais explicações infantis para o fracasso do que lhe haveis pedido.
-Pode ser, meu senhor.
Gambinus, bebeu um pouco de vinho hesitante e como se fosse subitamente alertado por algum factor, inquiriu:
-Exactamente onde viram eles as pegadas?
O conselheiro encolheu os ombros e com medo respondeu:
-Perto do limite dos dominios. Na direcção da grande rocha.
-Mas isso, fica a meio do caminho da montanha e em sentido contrário!
-Eu sei meu senhor! Mas não é tudo...
-Não?
-Não meu senhor, outras pegadas estavam perto. de botas de cavaleiro, meu senhor.
-Basta! Em breve dirás que eles viram algum ser mitico de Arkhan
O conselheiro calou-se e retirou-se desiludido, deixando Gambinus a pensar onde estaria Percival.

-------FIM CAPITULO 8

www.mefistus.skyrock.com

Submited by

Jueves, Abril 29, 2010 - 10:37

Prosas :

Sin votos aún

Mefistus

Imagen de Mefistus
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 4 años 5 semanas
Integró: 03/07/2008
Posts:
Points: 3000

Comentarios

Imagen de Clarisse

Re: A Lenda de Enoah - Capitulo 8

Olá Mefistus,
Sem mais demoras vou para o capitulo 9...
Beijos

Imagen de Librisscriptaest

Re: A Lenda de Enoah - Capitulo 8

Bem... Enoah e Percival promete e de q maneira!!!
As fantásticas capacidades de Enoah, q a tornam uma heroína tão fascinante, têm um carácter q flutua entre o místico sobrenatural e o universo intimo das mulheres!
E Gambinus a par e passo revela-se o verdadeiro vilão, mesquinho, ganancioso, arrogante, falso, perigoso...
Cada personagem revela-se uma constante surpresa, até a perspicácia de Latveria me surpreendeu ante a mentira desajeitada de Leopoldo!
Estou aqui de pedra e cal à espera do proximo!!!
Sou fã incondicional da saga!!!
Beijinho grande, grande em ti!
Inês

Imagen de Mefistus

Re: A Lenda de Enoah - Capitulo 8

E brevemente mais novas personagens.
E todo um mundo imaginativo
e...

O grande prazer de saber que tambem me les....

Obrigado!

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Mefistus

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/Amor Saber A Mar! 4 3.713 02/19/2019 - 15:26 Portuguese
Prosas/Contos Desculpa Se Sou Puta -Parte 1 - Capítulo 3 0 3.147 02/07/2015 - 10:18 Portuguese
Prosas/Contos Desculpa Se Sou Puta -Parte 1 - Capítulo 2 0 4.132 02/07/2015 - 10:11 Portuguese
Prosas/Contos Desculpa Se Sou Puta - Parte 1 - Capítulo 1 - 0 6.809 02/07/2015 - 10:07 Portuguese
Prosas/Contos Desculpa se sou Puta! - Introdução 0 3.797 02/07/2015 - 10:03 Portuguese
Prosas/Contos Desculpa se sou Puta! - Introdução 0 2.885 02/07/2015 - 10:00 Portuguese
Poesia/Amor Saber A Mar! 0 0 07/09/2012 - 14:31 Portuguese
Poesia/Amor Saber A Mar! 0 4.214 07/09/2012 - 14:30 Portuguese
Poesia/Aforismo Cativa Saliva na boca triste 0 5.593 06/04/2012 - 12:52 Portuguese
Poesia/Meditación Haveria Sempre Poesia, Nas horas loucas de maresia 2 5.649 04/21/2012 - 04:56 Portuguese
Poesia/Desilusión Melancolia 0 3.697 11/04/2011 - 11:11 Portuguese
Poesia/Pensamientos Para onde vou ó dor! 0 2.527 11/04/2011 - 10:42 Portuguese
Poesia/Meditación Trova a dois Terços! 0 3.675 11/04/2011 - 10:34 Portuguese
Poesia/Intervención Ó Chefe dá-me um emprego! 1 8.213 10/25/2011 - 09:30 Portuguese
Poesia/Dedicada Em amêndoas Tragado 3 3.616 10/24/2011 - 09:15 Portuguese
Poesia/Intervención Uma breve nostalgia! 0 4.131 10/24/2011 - 09:06 Portuguese
Poesia/Meditación No pio da Perdiz 0 3.883 10/24/2011 - 08:58 Portuguese
Poesia/Fantasía Baila Marisa Baila! 3 4.478 09/01/2011 - 10:17 Portuguese
Prosas/Terror Diablo- Capitulo 4 (parte 4/4) 0 3.328 04/09/2011 - 00:02 Portuguese
Prosas/Terror Diablo - Capitulo 4 ( parte 3/4) 0 3.855 04/08/2011 - 23:59 Portuguese
Prosas/Terror Diablo - Capitulo 4 ( parte 2/4) 0 4.541 04/08/2011 - 23:56 Portuguese
Prosas/Terror Diablo Capitulo 4 (Parte 1/4). 0 4.567 04/08/2011 - 23:49 Portuguese
Prosas/Terror Diablo Capitulo 3 (Parte 3/3) 0 4.636 04/08/2011 - 23:46 Portuguese
Poesia/Meditación Dançarina de saia Púpura 2 4.993 04/07/2011 - 22:35 Portuguese
Poesia/Meditación Como um corpo suspenso em cordas de linho 1 5.013 02/27/2011 - 19:51 Portuguese