Placenta - " Ou a Sorte Casta"

I -Introdução

 

Três de sete escalas musicais,

soaram nas gargantas ancestrais

Seres de castanho vestido

Vinho tinto em cálice vertido.

 

No cheiro de enxofre no planalto

Perto da meia noite, lua cheia

uma cruz em ouro e prata, ao alto

Caminharam, após a ceia.

 

Duas ninfas formosas e de branco

abriam o compasso mistico, em pranto

Os quatro Seres de capuz castanho

caminhavam num passo estranho.

 

Havia aqui uma densa melodia

no ar do público que não sorria.

Sem credo, fado ou jubilo, a vela ardia

e queimaria sempre até ser dia.

II - Expiação

 

Numa tumba de pedra cinzenta

Uma das ninfas se deitou, atenta

O oráculo da Lua Celeste

Principiou o ritual agreste:

 

"

Corpo que tome até ser dia,

Na casta e carente ninfa, entregue

Ritual que ouse o Santo agradar

Para que possa a todos nós perdoar.

 

Expiação de nossos pecados singelos

Pela força do sexo, assim tomada

Que do Santo seja agrada.

Que pelo Santo seja disvirrginada!"

 

De joelhos num gesto irreflectido

o Pai da pobre ninfa escolhida

Não escondia o choro incontido

e clamava em voz sumida:

"

Ò Divina Ana bem parida

que de todas, foste escolhida

Rogai por nós sem choro

Minha filha preferida!"

 

A ninfa que a todos saudava,

viu ser-lhe retirado o manto branco

expondo ao Mundo o seu corpo

tremendo na palidez da lua:

"

Pois que seja agora a sorte anunciada

Pois que em meu corpo, seja consumada

Expiação de toda a loucura dada

Antes fudida que cremada!"

 

III- Concordata

No silvo das palmas dadas

O Oráculo nu,de cajado em riste

Sem preliminares ou preparativos

Logo pos a ninfa aos gritos.

 

Solavancos intencionais

em posições conceituais

loucuras institucionais

Ondas de parzeres carnais.

 

Gemidos e gritos já largados

no rosto do Patere, ignorados

cospo que oscilava em murmurio

sob o rosto do Oráculo, Iturio!

 

Na terceira onda de prazer,

jacto de branco largado

no corpo jovem violentado,

Fez-se luz na visão do profeta.

 

Não consta que tenha gemido a lua

não se sabe se a sorte foi nula.

Mas um a um os oráculos de castanho

cumpriam o ritual, fecundando-a

 

Quatro homens de prazer,

sob a noite velada a tomaram

com o sexo a arder

sobre a Tumba a deixaram.

 

IV- Conclusão

 

Quedou-se o oráculo do sermão

esqueceu-se o Pai do perdão

tomado de vergonha e injuria

sacou da faca e fez lamuria:

"

Ah que triste fim para um pai,

que deu o ouro ao bandido

todo este ritual perdido

e a minha filha, violada!"

 

Precipitou-se sobre o oráculo

de braço loucamente erguido

segurou-o a Madalena

Mãe da pobre ninfa:

"

Olhai Moisés que foi má sorte

a nossa doce menina...

Podia ter sido uma princesa

Foi o Santo que a tomou!"

"

Se foi Santo onde está o milagre

que só vejo perversidade

falso teatro aqui montado

que o oráculo seja morto e enterrado"

 

Em gritos de raiva incontido

o pai agarra o Oráculo,

mas perante a plateia,

foi a pobre ninfa a esfaqueada"

 

"

Ó pai que me fizeste?

A mim que tudo deste.

Eu que agora minha virgindade dei

Para te erguer ao Santo, como Rei."

 

vendo a Ninfa ensaguentada

logo o publico fugiu de medo

Foi a sorte do Santo afastada

Nunca mais foi o pai perdoado.

 

Cinco dias depois se tinha suicidado

lá no meio do monte, pobre coitado

Entre as azinheiras enforcado.

Morto com pecado!"

 

 

 

----------------------------------FIM-----------------------------

 

http://rabiscosdealma.blogspot.com/

 

 

 

 

 

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Jueves, Enero 6, 2011 - 11:56

Poesia :

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Mefistus

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Comentarios

Imagen de Librisscriptaest

Porque do sacrificio dos inocentes nunca pode nascer a paz...

Um belo conto poetico que retrata a realidade de muitas culturas antigas, o sacrificio em nome da absolvição divina... Como sempre tens o teatro dentro da alma e sobes e desces o pano em actos cheios de cenario que nos colocam na primeira fila de um palco que nos prende... Um tema controverso, o da crença, do acrificio carnal em troca de beneficios espirituais... A busca pelo poder sempre desculpou muita coisa e a submissão de outrem é o poder mais desejado pelos homens... Acredito que a haver entes dvinos, forças espirituais, energias universais ou afins, apenas olham com pesar e desgosto a forma como as religiões as encaram...  Mas isto agora foi so um desabafo, pq como sempre o q escreves deixa-me a pensar...

Beijinhos grandes em ti, trovador!

Inês Dunas

Imagen de Clarisse

Placenta - " Ou a Sorte Casta"

Olá Rogério,

Um registo no qual és único... mais uma história rimada...

Embora tivesse gostado, pessoalmente prefiro as história cómicas. Talvez pela necessidade de rir... loooool

Bom te ler, como sempre.

Clarisse

Imagen de Henrique

ninfas formosas

Poema espetacular!!!

Escolho a sorte casta!!!

 

:-)

Imagen de rainbowsky

Sorte?

Para ler de um só fôlego do princípio ao fim.

Muito bem Mefistus.

Parabéns!

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