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Acho que a paixão foi dormir

Onde estaremos pergunto?
Será que um dia ainda esperaremos por nós...
São as rotinas que nos fazem e nos trazem ainda o que fomos.
Falo-te de chama…
Temo-a em lugares distraídos do nosso tempo a arder no passado.
Acabou a paixão como quinquilharia transacta.
Buscamos peças soltas de nós em sucatas fotográficas que gritam memória.
Tenho uma tabuleta ilegível que grita por ti.
Das partilhas e das partidas sempre sobrou o abraço.
Onde estaremos…
Dou-me a pensar nos vazios de tempo num paliativo que minore esta ausência que tem a paixão em divorcio…
Lembro-me de ti.
Do ano em que tivemos a primeira televisão a cores e o teu enxoval tinha quase a nossa idade.
Conto de fadas que juntas-te a talheres e te deram as tias acolchoados, turcos e rendas com concelhos em saldo, mesinhas e chás que os homens são todos iguais fora da cama.
Cozinhas enormemente...
Benditas menopausas da tua mãe e das amigas que te ensinaram magias de panelas e tachos.
O verão na Fonte da Telha são férias que trago bronzeadas com saudades de ti.
Ao pé da rede do parque havia uns calhaus polidos onde me sentava no fim da tarde.
Havia uma baía de corvos quietos onde ficava a pensar coisas serenas, a desentir medos de te perder nos temores içados no estandarte da noite.
Quando o sol se envaidecia a pôr rubros no oceano, afagamos silêncios no poente do futuro sempre interrogado.
Quase engravidavas pelos verões a cintilar azuis nos olhos.
Directas, rum e anchovas e tu que lhe davas com a Joan Baez naquela viola comprada no rossio...e o amanhã...Onde estaremos pergunto?
Será que um dia ainda esperaremos por nós...
Sabes…
Acho que a paixão não morreu.
Vou no carro sozinho e regresso sempre onde até a chorar fazemos amor com amor numa moção cúmplice e amiga.
Conhecemos tanto de nós que surpresas talvez só umas metástases, ou a nossa certidão de óbito exclame o amor.
Deixando-nos na mão a mão da saudade e os corpos febris.
Não faço se acontece aos outros o mesmo.
Tomara, para isentar esta rotina bandida que roubou a paixão deixando o amor órfão de par.
Hoje vou chegar e cheira-te o cabelo…
Acariciar o teu corpo nos trintas, a desentir medos de te perder por não te tocar.
A afligir uma maleita que me leve primeiro para nunca mais sentir a tua ausência.
Somos a declaração dos impostos conjunta, as férias na Fonte da Telha e a escola dos putos, o despertador do teu lado e uma baía de corvos que reflectem nas águas moreias incandescentes…
Somos funerais, casamentos, baptizados, festas de anos e a tua mãe a chorar num vestido de noiva.
Somos gripes, constipações, diarreias e ressacas mortíferas de Joan Baez…
Quando olhamos de frente vemos cuidados na retaguarda de nós que ninguém sabe decifrar…
Vou-te deitar no meu peito.
E o amanhã…
Onde estaremos pergunto?
Será que um dia ainda esperaremos por nós...

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quinta-feira, maio 13, 2010 - 00:02

Poesia :

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Lapis-Lazuli

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Comentários

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Re: Acho que a paixão foi dormir

"Das partilhas e das partidas sempre sobrou o abraço.
Onde estaremos…
Dou-me a pensar nos vazios de tempo num paliativo que minore esta ausência que tem a paixão em divorcio…
Lembro-me de ti.
Do ano em que tivemos a primeira televisão a cores e o teu enxoval tinha quase a nossa idade.
Conto de fadas que juntas-te a talheres e te deram as tias acolchoados, turcos e rendas com concelhos em saldo, mesinhas e chás que os homens são todos iguais fora da cama."

É tão bom encontrar pedaços de nós naquilo q lemos nos outros, permite-nos pensar q não vivemos em planetas assim tão distantes e diferentes... Da-nos um estranho conforto empático e revela q o nosso umbigo não é assim tão disfuncional e extraterrestre!
Gosto tanto de te ler e muitas vezes, o meu umbigo sente-se menos solitário, qd o faço!
Beijinho em ti, Lápis!
Inês

imagem de nunomarques

Re: Acho que a paixão foi dormir

Sentir? Consigo-o sentir...porque o escreves desta maneira...porque afinal, também sinto, todos o sentimos, porque..caramba...Tu escreves!!!!!

Abraço
Nuno

imagem de analyra

Re: Acho que a paixão foi dormir

Na economia afetiva que impera no viver quotidiano massificado pela necessidade de sobrevivência, a paixão? Dormita em coma induzido até que algum poeta brilhante de-lhe uma boa dose de entrega e acredite na sobrevida com amor.

Lindo teu texto.

Gostei imensamente de ler. Sinto a necessidade da paixão, pois sem ela a vida é um grande coma medicamentoso, economizando o oxigênio escasso do cérebro dialético e econômico.

imagem de Outro

Re: Acho que a paixão foi dormir

"Tenho uma tabuleta ilegível que grita por ti."

Lindo Adolfo!!

A paixão acho que é "o ter prazer de gostar de" "o gostar de gostar de".
Não sei o nosso corpo aguentaria uma paixão constante.
Assim como não aguentaria uma ejaculação continua.
Porque o cérebro deve fazer tamanha descarga de serotonina, dopamina e tudo que acaba em ina e nos dá prazer. (estranhamente são muitos)

Por isso a paixão vai aparecendo em varias fases das nossas vidas.
Nos casamentos com 30 anos, quando um dos "casados" por segundos lhe passa pela cabeça o quão ama o outro casado. Nesse momento ele está apaixonado.
A paixão pertence ao verbo estar.

Há que fomenta-la sem duvida.
Há que oferecer flores, cantar serenatas, e dedicar poemas , não literalmente.

Mais uma vez conseguiste através da escrita oferecer a quem te leu, uma ideia dificil de traduzir com palavras.

Gracias!!!

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