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Era uma vez na América

Era uma vez na América…
Ontem na Rua do Carmo.
Sei que as horas eram tempo, daquele tempo ainda cedo que demasia invernos longos.
Ali…
A noite é uma flauta que inspira ponteiros lentos num calcar semi-preciso no chuvisco da calçada.
Encolhidos acasos e quarto cães num cobertor dormem ao som da música sobranceiros ao Chiado.
Era uma vez na América…
Ontem na rua do Carmo.
Tengo hambre…por favor…
Assim dito!
Uma infecção condoída de um antes que antes foi gente tenebrosa como os mistérios e abandonada como Cristo crucifica-me um cobre lento aclarado em penúrias.
Embrulhos de papelão cobrem pedaços de alma com uma flauta empírica a solfejar o Yesterday ali como no filme…
Era uma vez na América…
Ontem na rua do Carmo.
Procuro Lisboa aqui no meio de gente com fome no coração da capital.
Cigarros americanos, cocktails nas vitrinas, os gangs de Nova York passageiros como mortalhas ardentes pelo confronto com esta cidade velha…
Lisboa é um gang só…
Pelo envieso do Sodré rendam noites prostitutas como era na América quando tudo era lá…
Pastilhas americanas, comida desperdiçada, gente deitada ao lixo, lixo deitado á gente com flautas entristecidas pedintes e indigentes, sem abrigos e despojados, arlequins e homens estátuas em praças de desabrigo onde não estátua a liberdade.
Fumos acres e dolentes, lastimosos como a pátria, quarto cães num cobertor dormem ao som da música sobranceiros á indiferença…
O Inverno alforriado rastilha a noite crua de misérias explodidas bem no centro da América ontem na Rua do Carmo…
Ambulâncias esfaqueadas, vidros tintos como sangue, imposturas, intrujices,
reclames luminosos, um casal atina o beijo ali como no filme…
Era uma vez na América…
Era uma vez em Lisboa, naquela ou noutra rua com marcas americanas no desarranjo das vielas onde já não mora fado.
Cafés americanos, hotéis americanos, barcos americanos, turistas americanos, uma infecção condoída de um antes que antes foi gente tenebrosa como os mistérios e abandonada como Cristo crucifica-me um cobre lento aclarado em penúria, Tengo hambre…por favor…em inglês de Castela, em inglês do Castelo aprendido a pedir pão nos becos esconsos de Alfama...eu a fingir-me Americano com vergonhas lusitanas da miséria á minha porta, com vergonhas democráticas vestidas de hipocrisia muito anglo-saxónica a esquecer o quão imenso é o cobertor da bandeira onde dormem quatro cães ao som da musica,no meio da Rua do Carmo…
Sentires americanos, entorpecentes americanos…os americanos o quê…
Era uma vez na América…
Ontem na Rua do Carmo…
Tengo hambre…por favor!!!

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segunda-feira, março 8, 2010 - 23:00

Poesia :

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Lapis-Lazuli

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Comentários

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Re: Era uma vez na América

Interessante, mais uma vez nos contas uma história com conteúdo…

:-)

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Re: Era uma vez na América

Era uma vez na América…
Era uma vez em Lisboa, naquela ou noutra rua com marcas americanas no desarranjo das vielas onde já não mora fado.

Ontem na Rua do Carmo...

Um texto maravilhoso, que descreve Lisboa nos seus teatros de rua e palco da vida - um belo retrato que só Lapis-Lazuli sabe descrever como ninguém nos seus sentimentos poéticos ao seu estilo - único.

Abraço.
Vitor.

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