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Eu sei voar
O que me vale a mim ser isto…
De que me valem incógnitas portas entreabertas se não sei do outro lado…o mundo.
Sou da rua do adeus, longa alameda de perpendiculares inebriantes onde choram violinos e esquina a amargura mosqueada de névoa antiga.
Tudo aqui é o longe.
Esmolas de horizonte nos achaques andrajosos do roto bolor diário no império dos ninguéms á mingua de quase nada.
Houve um crime na terra.
Tinha correntes e troncos no dorso escravo dos vencidos, tinha vestes prostitutas nos leitos do desapego, tinha umas mãos crianças com remendos nos joelhos e lágrimas encardidas.
Quando anoitece a luz clepsidras assassinas alongam o tempo em negrura nos vãos esconsos da miséria.
O que me vale a mim ser isto…
Um pouco de quase nada que letra magoa nas palavras de ser som e utopia.
Oiço o hino do sangue…
Tributo noites degoladas no poente armilar do carpido metralhado nas searas da loucura.
Queria não pensar, nunca mais pensar.
Queria a noite poética, trocar prosas por versos com rimas esfuziantes de abraços aos abandonados.
Queria não ter culpa…
Esta culpa quando como, quando rio, quando sou o quase nada a dizer coisas de amor…
Vou-me embora.
Vou voar pela cidade.
Eu sei voar.
Começo a correr devagarinho pela rua do adeus.
Depois mais depressa, depois mais e mais e vou…
Tenho uma cauda mágica e trago todos comigo numa excursão ás estrelas.
Vou num voar estonteante mostrar ao universo crianças a sorrir com remendos nos joelhos.
Vou com lágrimas dos tantos ás padarias da noite dar de comer aos ninguéms.
Depois sei lá…
Levo-os á praia e baptizo todos com nomes iguais.
Homem tal, Homem tal, Homem tal.
O que me vale a mim ser isto…
De que me valem incógnitas portas entreabertas se não sei do outro lado o mundo com homens iguais a mim.
Eu sei voar...
Todos sabemos.
Tem dias.
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Poesia :
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Comentários
Re: Eu sei voar
Oi!
Assumo sou fã da tua Poesia!
Esse teu poema é magistral...
Abraço.
:-) Suzete Brainer.
Re: Eu sei voar
Sou da rua do adeus, longa alameda de perpendiculares inebriantes onde choram violinos e esquina a amargura mosqueada de névoa antiga.
Um longe tão bem encurtado com o teu bom talento!!!
:-)
Re: Eu sei voar
Bolas..que dizer...
"O que me vale a mim ser isto…
...
Houve um crime na terra.
Tinha correntes e troncos no dorso escravo dos vencidos, tinha vestes prostitutas nos leitos do desapego, tinha umas mãos crianças com remendos nos joelhos e lágrimas encardidas.
...
Queria não pensar, nunca mais pensar.
...
Queria não ter culpa…
Esta culpa quando como, quando rio, quando sou o quase nada a dizer coisas de amor…
...
De que me valem incógnitas portas entreabertas se não sei do outro lado o mundo com homens iguais a mim.
Eu sei voar...
Todos sabemos.
Tem dias."
Todo ele magnifico. Todo ele sentimento. Perfeito, lindo. Obrigado
Um abraço Lapis
Re: Eu sei voar
Caramba!
Estava a ver se pegava aqui numas linhas suas, a que mais gostasse de comentar, e deparou-se isto:
Do principio ao fim todas são fantásticas!
É daqueles que ao escrever nos sentimos verdadeiro poeta.
Gostava amigo Adolfo Borges de saber voar como você.
Abraço.
Vitor.
Re: Eu sei voar
Lápis como sempre muito bom te ler , e melhor ainda saber que voas mesmo quando Tem dias.
Abraços
Susan