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Manuel do Povo...na Póvoa da morte
Manuel do Povo é da Póvoa.
Partiu hoje parvo a pensar pensamentos partidos em si.
Manuel do Povo pedreiro de ombros caídos nos ponteiros do sol…
Pindérico e caído na paleta de cores que pinta a manhã.
O reboco dos prédios pinta de cinza as portas do mundo,
Sombras erguem-se altivas ao milímetro de pose do povo que passa.
O Manuel, a passo de marmita no braço apressa o vagar.
Passam pessoas na rua, chiam pneus... e o Manuel a andar.
Tem um pente no bolso com salpicos de caspa e uns trocos famintos…
Na cabeça oca uma ponta de sono e uns copos de tinto.
Manuel pato bravo perdido e achado nas partidas do mundo.
Nas paragens nas pontes, petroleiros, fontes, estaleiros e hortas.
Nas putas, nos copos, no degredo dos corvos, no fundo do fundo.
O Manuel pedreiro despenteado nos dentes e careca na boca,
Andrajo de gente de falar poluente, com uma voz rouca…
Tem ar de desgraça, no penhasco da alma onde se acoita vencido.
Manuel do Povo, Manuel da malta, Manuel fodido.
Ficou invisível no quadro da estrada com dois pincéis.
Corpo disforme que passava discreto a coleccionar amanhãs.
Fotocopia de gente, identidade universa de milhões de Maneis.
O Manuel do Povo, morreu hoje na Póvoa…eram dez para seis.
Nota: O enterro é amanhã num cemitério vazio.
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Comentários
Re: Manuel do Povo...na Póvoa da morte
Parabéns pelo belo poema.
Um abraço,
REF