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Crónicas de Mauro - O Roubo do saleiro

Viena- Austria 23 Maio de 2003

O dia anoitecia rápidamente, e ele preparava-se para mais uma tarefa.
Não era uma tarefa desprovida de perícia. Pelo contrário, era uma forma de aumentar o seu já considerável peculio.
Mauro, tinha um defeito. Era colecionador. Um colecionador inato, atento e obstinado.
Desde a infância que tudo colecionava. Selos, envelopes, notas, moedas, fotos, musicas, registos.
Na verdade não se limitava a colecionar. Gastava todo o seu tempo a inventariar o que possuia.
Sim, Mauro tinha ainda outra caracteristica...Era Esquizofrénico.Desde os 12 anos diagnosticado, desde os 12 anos vigiado. Começara de inicio pelo prazer de roubar. Da Cleptomania, evoluira para esquizofrenia.
Assim, Mauro não via o colecionismo como um passatempo, mas como uma obrigação.
Para Mauro, as coisas belas, eram mensagens ocultas de anjos dissimulados. De planos imediatos.
Aos 18, tornou-se perito em todas as diversas formas de arte.
Era um prazer didático, ouvir as suas dissertações sobre o estilo Manuelino, ou Gótico,sobre a literatura do Século XV, ou sobre Picasso.
Falava com a mesma importância e espirito altivo, sobre selos dos correios, moedas raras ou simplesmente sobre a introdução do Alfabeto no Mundo.
Aos 20 já tinha estudado, todos os compêndios de História e memorizado todas as datas.
Mas desta vez, ia atingir o pico da sua carreira como colecionador.
Estava frio. Na verdade estavam 4 graus e ameaçava chover a qualquer instante. e luvas colocadas, sondou uma vez mais as imediações do Museu de Arte Antiga e memorizou o plano previamente estudado,e assim que o guarda efectuou a ultima ronda, avançou obstinadamente, até ao grande Carvalho, que subiu com a agilidade de um símio.
Alcançado o topo, saltou para o muro da propiedade em causa, com uma precisão incrivel e em passos curtos, mas estudados alcançou a varanda.
De acordo com os planos que obtivera, não havia qualquer camera na varanda da direita, nem outra artimanha defensiva, eplo que sabrindo o canivete,procurou nas dobradiças o contacto do alarme e numa pericia invulgar, separou-o metódicamente do apoio magnetizado. Antes de o remover, levou a mão`ao casaco, e colocou um simples clip, a forçar o contacto.
Com o alarme silenciado, forçou a porta e entrou.
Em vistas anteriores, tirara fotografias, á sala e com caixas de cartão a simular os objectos, treinara no seu quarto do hotel,durante uma semana, de forma a poder se orientar, com pouca luz no interior.
Assim que se sentiu em segurança, acendeu a pequena lanterna de bolso, e aproximou-se do objecto pretendido.
Como calculara, não existia qualquer alarme individual, ou protecção especial para a pequena, mas valiosissima obra de arte de Benvenuto Cellini.
Sentado na frente da peça, analizou-a por uns instantes.
tratava-se de um Saleiro executado para Francisco I em ouro e ébano (1540-3),estilo renascentista,considerado pelos especialistas como sendo uma obra-prima de ourivesaria.
Os personagens simbolizam a Água e a Terra entrelaçados, como representa a posição de ambos na peça. A figura masculina com o tridente na mão e os cavalos marinhos na base, identificam-se com Poseidon-Netuno, deus do mar.
Mauro, retirou um saco de pano almofadado, especialmente criado para o efeito, colocou a peça dentro dele, cõm o mesmo cuidado que uma mãe coloca o bebé numa alcova, colocou-o na mochila e esta nas costas, cos as duas alsas suspensas nos ombros..
Assim que o relógio deu um Bip horário, ( pré programado para o efeito, escondeu-se silenciosamente e aguardou.
Segundos depois, o foco de luz da lanterna do guarda, iluminou a sala, desaparecendo segundos depois.
Suspirando, retirou uma carta de jogo, o ÀS de Paus, colocando-o no sitio da peça roubada e dirigiu-se para a varanda.
Na impossibilidade de usar o Carvalho como saìda, Mauro sacou da mochila, um par de sapatos ( Três numeros acima do que usava), guardando os que usava e saltando para o muro, precorreu o caminho inverso, mas ao chegar á grande árvore, aguardou para ter a certeza que ninguem passava, saltando prontamente para a calçada. Ai abandonou um sapato, prepositadamente, caminhou descalço de um pé até á carrinha estacionada e depois de entrar, calçou os antigos sapatos.
Avançou um quilómetro, conduzindo tranquilamente e ao passar por uma artéria secundária, atirou fora o sapato restante.
Apalpando a mochila, sorriu satisfatóriamente, e abrindo o porta luvas, retirou o pequeno Nókia, atraves do qual fez a chamada:
-Pai.Levo companhia para jantar.
-Benvenuto, filho.
-Estou aí dentro de 10 minutos!
-Até já.
.................

Só no dia seguinte o alerta foi dado. O inspector Wolfgang Fritz, analisava a cena do crime.
Era impossivel que um roubo num Museu, pudesse ter sido tão banal e diabólicamente simples.
De inicio desconfiou dos guardas, mas o surgimento de um sapato, baralhara a cena.
Fora um crime tão simples e ingénuo, que Fritz não possuia a minima pista.
Não havia qualquer impressão digital, qualquer marca, qualquer vestigio. Apenas uma carta, de um naipe. Diabólicamente infernal, pensou Fritz.
Quanto mais tentava compreender como, mais pistas bizarras surgiam. Agora um dos seus subordinados, encontrava um outro sapato. Longe dali. Fora um transeunte preocupado, que notificara.

Para todos os efeitos Fritz estava perdido!

Lisboa, Portugal 25 de Maio de 2003
Um sujeito gordo, de bigode curto, analisava com malicia a pequena peça de arte.
Após minucia detalhada, sorriu com gosto e voltou a cumprimentar Mauro.
Nunca acreditara que ele conseguisse.Nunca acreditara que ele expedisse a encomenda da Austria, pela Fedex, com o rotulo de frágil, como se fosse uma encomenda banal.
Mas a verdade é que resultara e agora , uma peça de 60 milhões de Dólares, era sua.
Para Mauro, o dinheiro não lhe interessava, mais que a passagem de avião , hotel e alimentação que o sujeito pagou, tudo o que ele queria, era a nota de Dólar, impressa ao contrário.
Fora uma troca justa, e Mauro sabia, que qualquer colecionador é um potencial ladrão.
Mas o que mais o movia era ser aceite pelo Pai. Ele que dominava um selecto grupo de jovens estraordinários que praticavbam golpes difieis, mas nunca impossiveis.
-Qual o plano, agora?
-Plano Mauro?
-Eles vão andar á procura.
-Ah claro que vão!
-E não receia?
-Na verdade não. Eles julgam que foi um roubo de ocasião. Um ladrãozeco vulgar. O plano é pedir um resgate irrisóriamente baix, para que continuem a pensar assim.
-E o saleiro?
-Que tem ele? è perfeito!
-Eu sei. Mas tenciona vender?
O sujeito forte riu,depois encolheu os ombros e proferiu sinceramente;
-Sou colecionador. Gosto de desafiar o sistema. Nunca vendo o que obtenho. è para meu usufruto pessoal.
-Muito bem, eu já tenho o que pretendo.
-Não. Ninguem tem o que pretende nunca. Mauro, gostei de ti. Estás interessado em partilhar um mundo de aventuras como estas?
-Certamente, sr...
-Pai. Chama-me pai. E bem vindo ao grupo dos 4.Mereceste-o!
Com um sorriso de satisfação, Mauro abandonou a residência e dirigiu-se para o Porto, a fim de voltar a ser o Zé ninguem do costume.

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quarta-feira, dezembro 2, 2009 - 16:29

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Mefistus

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Comentários

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Re: Crónicas de Mauro - O Roubo do saleiro

Gostei do texto.
Uma boa escrita, que daria, um talvez um bom romance?

Bjs

Matilde D'Ônix

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Re: Crónicas de Mauro - O Roubo do saleiro

Onix:
A situação-o roubo propriamente descrito, é real e me inspirei nisso.
Gosto particularmente destas pequenas histórias

Obrigado pelo seu constante apoio e parabens pela nomeação.

O Waf, sabe reconhecer e ser grato e isso agrada-me!

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