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DIABLO - Capitulo 1 ( Parte 1/2)

Porto Seguro - México- Orfanato de Nossa Srª de Guadalupe - 1995


O vento rugia fortemente sobre o telhado imaculado do grande orfanato, sacudindo violentamente as já gastas portadas de madeira. O uivo crescente ia sendo acompanhado de fortes bátegas que caiam amiude em todo o vale, cobrindo como pequenas lágrimas de cristal o manto nocturno.
Com as palmas da mão escondidas na pequena almofada, evitando respirar ou gemer de medo, o pequeno Paco tentava a custo manter os olhos fechados.
Usara todos os truques possiveis para enganar o medo e até cantar baixo em segredo ele havia tentado. Apesar de tanto ele como o irmão terem sido entregues ao orfanato, havia melodias cantadas à cabeceira da cama, há alguns anos pela voz doce da mãe, que ele nunca esquecera.
Eram essas melodias mexicanas, antigas, que haviam passado de geração em geração, pela tradição oral, que ele trauteava vezes sem conta, para afastar o medo:
-Manito?
-Sim Paco?
-Estou com medo!
-Medo de quê?
-Do vento....A Mamã dizia que eram as almas penadas à procura de crianças mal comportadas!
-Tolice Paco. A mamã dizia qualquer coisa para tu não a chateares!
Manito, apesar de ser o irmão gémeo de Paco, era no seu interior bem diferente dele. Era mais protector, mais aventureiro, mais consciente, mais incentivador. Ao contrário de Paco, que nunca entendera porque a mãe os abandonou, ele reservara um ódio de estimação à mãe e simultaneamente a todos os adultos, que via como uma ameaça á sua segurança e à do seu irmão.
Um dia, um belo solarengo dia Mexicano, a mãe entrou na pequena casa, vestiu-os, beijou-os e tudo o que de estranho fez foi o de colocar um amuleto ao pescoço de Manito e encarando-o com frieza, assegurou:
-Manito, és o mais forte dos dois. O mais corajoso. Transportas em ti a essência dos mais bravos guerreiros Maias. Deves olhar sempre por Paco. Os dois serão serão sempre um, enquanto ele te tiver a ti. O teu irmão, ele é diferente, é timido, ingénuo e fraco, mas a sua alma é a metade da tua. Olha por ele!
-Mas mamazita, porque falas desse modo? O Paco não corre perigo!
A mulher morena, de caracois volumosos, ajoelhou-se diante do rapaz de peito nu e beijando-o furiosamente na fae, segredou-lhe:
-Agora não! Mas virá o dia da maldade, deves sempre protegê-lo!
O jovem ia ripostar a sua opinião, quando ao longe o barulho do carro ecoava ameaçadoramente pela região.
Sem mais uma palavra, acabou de os vestir e transportou-os no Taxi até ao Orfanato, onde os entregou e desapareceu sem olhar para trás.
O vento crescia de intensidade e subitamente no grande dormitório Manito apercebeu-se que o irmão chorava:
-Paco, não se passa nada. É apenas vento.
-Manito, tenho medo.
-Assim não vais dormir!
-Não consigo.
Do outro lado do dormitóro, um miudo gordito que ouvia o diálogo dos irmão, não perdeu a oportunidade de gozar com os dois irmão:
-Uh, o coitadinho do Paco tem medo do vento. Ah,ah,ah! - Ria descaradamente o rapaz.
-Cala-te Juan! Paco tem medo e depois?
-Oh esse teu irmão é um mariquinhas. Com quatorze anos e tem medo do vento. Ah,ah,ah! - Atacava o rapaz.
-Juan, se não te calas eu vou até aí e verás do que terás medo.
-Oh pois o irmão forte! Que venha o Paco!
-Manito?
-Sim Paco.
-Eu não quero que discutas por mim.
-Cala-te e dorme!
-Posso ir para a tua cama?
Uns segundos de hesitação sob o riso sarcástico de Juan foram os suficientes para que Manito se decidisse:
-Anda rápido, mas tens de aprender a não ter medo.
-Eu tenho sempre medo.
-Menino da mamã, fraquinho! - Gritava bem disposto Juan.
De pés descalços e com a cara humida das lágrimas que lhe escorriam pela face,Paco dirigiu-se até à cama do irmão onde se deitou, aconchegado pelo seu abraço e principiava adormecer, mesmo sob os risos sarcásticos de todo o dormitório, que impulsionados pelo Juan, iam fazendo pouco de Paco.
Tal ruido anormal durante a noite, alertou o vigilante do dormit´rio que achou por bem acordar o responsável pelo Orfanato.
De robe e pijama azul escuro, Don Rodriguez apressou-se a ir ao dormitório. Nunca escondera o fardo de ter sido encarregado de tal orfanato e na verdade nada podia fazer, uma vez que fora mandado para lá, em virtude de certas acusações que era alvo na sua terra Natal : Málaga.
Aproveitando a amizade com o Bispo de Barcelona, requereu recurso e foi colocado no México, numa falsa missão humanitária, até que a poeira da pedofilia volatsse a pousar e os fieis se esquecessem.
Abrindo de rompante as pesadas portas de madeira do dormitório , encontou o ambiente infestado de risos e de palavras de escárnio ara com os dois jovens, que prontamente cessaram assim que ele assomou no corredor:
-Pela Santa Guadalupe, que raio se passa por aqui?
Encolhidos dentro dos cobertores, os jovens agora calados, evitavam olhar Don Rodriguez, que caminhava em passo curto, atento ás camaratas dos jovens.
De subito, o sujeito estacou autoritário diante da cama de Manito:
-O que vem a ser isto? - Indagou num tom de voz autoritário.
-Paco tinha medo! - Respondeu pausadamente Manito.
-E?
-Pediu para dormir comigo.
-Ah! coitadinho do Paquito! - Os risos voltavam ao dormitório.
-Foi o que pensei. - Retorquiu secamente Manito.
Erguendo as mãos aos céus como numa falsa prece, Don Rodriguez aproximou-se dos jovens e num tom ás pero, advertiu:
-Pensás-te? Mas quem és tu para pensar, fedelho?
-Como?
-As regras são claras. Há uma norma de conduta severa e não tolero qualquer alteração á boa conduta!
-Mas não fizemos nada!
-Cala-te imbecil!
Num gesto rude, Don Rodriguez agarrou o pulso frágil de Paco e puxando-o violentamente para o chão, tentou arrastá-lo para a sua cama.
Manito ergueu-se num salto e empurrou ligeiramente o pesado corpo de Don Rodriguez para trás:
-Não toque no meu irmão. Nem com um dedo, ouviu?
Num ar de desafio, o pesado padre encarou o petiz que o enfrentava de peito feito e ripostou prontamente esbofeteando-o com força, de seguida comentou:
-Creio que temos aqui dois desordeiros!
-Verdade, señor.
-Tal não pode acontecer!
-Que sugere señor?
Rodriguez aspirou violentamente o ar, como se estivesse a ficar sem oxigénio e ordenou:
-Já que o mais novo tem medo, ele que aprenda a combater o medo. Ordeno que ele vá imediatamente para o exterior e dê duas corridas à volta do Orfanato.
-Mas señor... - Interrompeu alarmado o vigilante.
-Mas nada. Não quero choramingas aqui! E quanto a este bravo, traga-mo aos meus aposentos, eu irei-lhe ensinar o que é disciplina.
-Como desejar, señor!
Assim que o padre voltou costas os dois irmãos abraçaram-se e sem perder tempo, manito tirou o amuleto do pescoço e colocou-o ao pescoço de Paco:
-Não tenhas medo Paco. É só vento, eu estarei contigo....Sempre!
-Prometes? - Indagou o irmão nervosamente.
-Eu estou dentro deste Amuleto. Eu te vigiarei e protegerei sempre, Paquito. Sê Forte!
Em lágrimas Paquito viu o seu irmão seguir Don Rodriguez, enquanto tetava adiar o infortunio da má sorte sua de cumprir castigo, perante os risos descontrolados de Juan.
O vento lá fora tornava-se mais assustador e fechando os olhos, Paquito acariciou o amuleto, como para ganhar coragem.

Fim Parte 1

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quinta-feira, dezembro 16, 2010 - 21:45

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