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Eskizofrénico -Capitulo 3 - Parte 2
A noite cobria assustadoramente os dois vultos na berma da estrada, como que os escondendo do olhar ávido de predadores imaginários.
Deitado, a recuperar a respiração, com a cabeça assente no colo de Rita, o jovem fazia um esforço descomunal para recuperar a calma e a voz.
Impotente e indecisa a jovem , deitava ávidos olhares ao seu redor em busca de ajuda. Que poderia fazer?
Ela era jovem e inexperiente, com pouco sangue-frio e não poderia responder ao impulso de chamar a policia. Que diria a eles, se nem ela sabia o que se passava? E mesmo, assumindo que poderia chamar a policia, como eles entenderiam o jovem? Ele normalmente era dificil de entender, quanto mais em pânico.
Olhou discretamente para o rosto ensaguentado do jovem, admirando os seus olhos vivos e dinâmicos. Tudo dependeria dela.
Poderia usar o telemovel e pedir ajuda à sua chefe, mas ela sabia bem que a chefe não iria mover uma palha por ele.
Não. Ele era responsabilidade dela, era o que no seu intimo ela sentia e competia-lhe para já o colocar em lugar seguro. Se ao menos tivesse carro! Em breve alguem passaria e alertaria a policia e tudo estaria perdido.
Estremeceu diante dessa ideia. Porque ela receava a policia? Claro, porque se a policia o levasse, ela deixaria de o ver. Então era isso, ela não o podia negar. Ela queria-o só para ela. Estudá-lo, analisá-lo e ò ceus, amá-lo!
Assustada com tal coonclusão, tentou se afastar, quando ainda em esforço, como que reagindo por impulso mental, o jovem principiou a levantar-se, erguendo-se suavemente num esforço e gemido de dor:
-Sr. Simões, não deveria fazer esforços!
O jovem encarou-a ante a palidez da frágil Lua que os espreitava e perplexo por ela o ter tratado pelo nome, rugiu:
-Como sabes?
-Oh, sei algumas coisas suas. Mas agora não é hora.
-Não me deves tocar. afasta-te!
-Como?
-Eles podem estar a ver. Não te metas.
-Eles?
-Sim. Eles vêm tudo. Eles sabem tudo...Eles vão voltar!
-Não entendo.
-Claro que não. És apenas mais um cordeiro, uma ovelha neste Mundo.
-Olhe aqui, eu não estou para aturar...
-Não estavas. Agora eles viram-te!
-Não. Ninguem nos viu! Mas temos de sair daqui.
-Sair para onde? Não temos fuga possivel.
-Por Deus, não é capaz de agir normalmente uma vez na vida?
Perante o berro dela, o sujeito encolheu-se, sacudiu-se como pode de um modo enérgico e retirando á pressa um lenço branco do bolso, limpou o rosto, enxaguando os sulcos de sangue que lhe escorriam.
Olhando a jovem com atenção, encolheu os ombros e estendeu-lhe a mãio:
-Pelos vistos estamos nisto juntos.
Ciclicamentge em todos os grande momentos das nossas vidas, existem momentos irrepetitiveis. Momentos unicos, em que dependente da decisão que tomamos, poderemos alterar para sempre o n osso rumo e o nosso Destino.
Para Rita Guedes, a jovem empregada de café, aquele foi o momen to, aquele foi o instante. Num gesto repentino e quase sem pensar, estendeu a mão à dele, erguendo-se tambem ela e oferecendo o seu ombro como suporte para o coprpo combalido dele, principiou a caminhada pelo passeio, sem rumo certo.
-Eles julgam-se inteligentes, mas eu fintei-os. Oh sim, eu tramei-os à grande!
-Mas quem são eles?
-Ainda não o sabes? não os viste?
-Não. Só te vi a cair do carro.
-Não falo de hoje. falo de todos os dias. Nunca os viste?
Rita fechou ligeiramente os olhos e por segundos arrependeu-se de lhe ter estendido a mão. Depois, recordou-se que a policia o colocaria num asilo qualquer e recuperou o seu sorriso de grande humanitária.
-Sabes que por vezes me assustas?
-Sabe que está a tratar-me por tu?
Ela olhou-o fixamente:
-Desculpe. Devo estar nervosa!
-Nervosa?
-Com tudo isto.
-Mas isto não é nada. estamos quase no inicio e só entrou agora.
Desistindo de tentar uma conversa racional com o sujeito, indagou:
-Para onde vamos?
-Para o " buraco".
-Desculpe?
-Para o forte. Para curar as feridas.
Estaria ele a falar de hospital? Estaria a falar do apartamento dele?
-Eu procuro um Taxi. - Ofereceu-se ela.
-Taxi? está louca? Eles dominam os táxis.
-Ai! Não está em condições de caminhar muito e precisamos de sair rapidamente daqui.
-Estou com a cara desfeita, sujo e rasgado. Como acha que o taxista vai esquecer um passageiro assim.
-Bem, isso tem alguma lógica.
-Claro que tem. como disse, sou mais esperto que eles.
Rita suspirou baixinho e desistiu de o tentar entender. Notava com grande agrado, que os passos dele eram cada vez mais firmes e seguros, que a sua força estava de volta e aliviada por já não precisar de o segurar.
Preocupava-a as horas e o que o seu pai diria. Como general aposentado do exército, ele seguia à risca o controle horário e a caserna mudara-se com a sua reforma lá para casa.
Subitamente ele estacou, encostou-se à parede amarela de um pequeno edifìcio e certificando-se que ninguem olhava, empurrou a jovem para o corredor sujo do edificio, entrando de seguida.
-Então é aqui que ele mora! - pensou a jovem.
Sem proferir qualquer palavra, Simões subiu as escadas de pedra, seguido de perto pela jovem e alcançando o primeiro piso, dirigiu-se á janela do corredor. pacientemente passou a mão por cima da calha da janela, tirando uma chave e sem olhar para a jovem, abriu a janela, inquirindo:
-Sabes saltar?
-Saltar?
-Sim. Vais ver que é fácil é só juntares as pernas e...
-Claro que eu sei saltar. Mas saltar para quê?
-Então, para irmos para o " buraco".
A jovem acercou-se da janela e contemplou o exterior. Havia apenas um pátio a curta distancia e nenhuma abertura, seja em forma de porta ou janela.
-Eu salto primeiro. - Alertou ela.
-Tem de ser. Eu preciso arrumar isto.
- Meu Deus , onde eu me fui meter.
Sem hesitar, a jovem pulou o parapeito e saltou. A queda não era grande e as All-Star amoreteceram o impacto. Deu-se por satisfeita de sempre ter feito atletismo e sacudindo as palmas das mãos, olhou para cima e ficou perplexa. A janela já estava fechada e ele tinha desaparecido.
Magoada por ter sido enganada, Rita praguejou baixinho, ameaçando-o de morte, enquanto analisava os bastidores á procura de soluções. Tal como imaginou, não via qualquer porta ou janela. Que louco construiria um pátio se não o usufruia.
De subito um assobio curto, coonduziu-a até á beira do muro do pátio e olhou ameaçadoramente para o solo, para lá do pequeno muro.
De maõs nos bolsos, Simões inquiriu:
-Mas demoras a descer ou quê?
-Descer?
-Sim. tens de saltar. Como queres ir para o buraco?
Irritadamente ela deu uma palmada com o punho no parapeito e rugindo um " Grrr", subiu e saltou.
Como a calçada estava humida,as sapatilhas escorregaram fazendo-a cair com algum aparato, de encontro a dois caixotes do lixo verdes.
-Tinhas dito que sabias saltar! fizes-te muito barulho-olha lá, mas que treta é esta?
-Como?
-Para que subi e saltei, se já estava nesta esquina?
-Então, para eles não te verem.
-Irra que tu não bates mesmo bem. Acabou-se os saltos e toda essa treta de "eles", ok?
Ele sorriu abertamente e apontando com o dedo indicador direito para um edificio, sentenciou:
-O buraco é já ali. Não precisas de saltar mais.
-Obrigada.- protestou ela nervosamente.
-Ora, só me preocupo contigo. Já vi que não sabes saltar!
Atónita e com vontade de o espancar, ela seguiu atrás dele , ameaçando-o baixinho, até diante da porta verde.
Rodando a chave na fechadura, convidou:
-Entra rápido.
-Ah não. Tu vais á frente.
-Seja.
Sob a densa iluminação dos focos de luz do corredor, ele desceu até á cave e abriu uma pequena porta, convidando-a a entrar.
Num gesto pacinete, fechou a porta por dentro ás escuras, e acendeu a luz.
-------------Fim Parte 2
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Comentários
Re: Eskizofrénico -Capitulo 3 - Parte 2
em duas palavras: simplesmente fantástico!
bj