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Eskizofrénico - Capitulo 4 - Parte 2
O silêncio dos seus pensamentos só eram interrompidos pelo barulho do motor do carro patrulha. Perdida em divagações no banco traseiro, Rita tentava a custo uma saida mental de todos os ultimos acontecimentos.
Sem saber ao certo o que eles pretendiam dela, tentava arquitectar uma boa desculpa, para dar ao seu progenitor.
Não poderia nunca contar a ele, que um louco qualquer, atirado de um carro e que por sinal era cliente do café onde trabalhava, a arrastara para uma cave, com uma alusão a uma estória digna de um filme de classe B.
Se optasse por contar tal, seria ela a ser internada e não o doido.
Mas o que a policia poderia querer dela? Porque justo agora, que ela decidira saltar fora do mundo de Marco, a policia surgia.
Mais grave que tudo, os dois sujeitos não proferiam qualquer frase, limitavam-se a seguir estáticos, alheios às duvidas que ela pudesse ter. No fundo, pensou ela, era como se a sua presença fosse um dado adquirido.
Com o rosto colado na janela, um esgar de surpresa percorreu-lhe o olhar. Acabavam de passar pela esquadra e o carro continuava em marcha. Para que esquadra iriam então?
Não. Não podia ser. Será que Marco estava a falar a verdade? Qual fora a frase que ele proferira..." Eles vêm tudo".
Rita respirou fundo e num lampejo de loucura, começou mentalmente a elaborar o seu Puzzle. Desta vez partiria da certeza que tudo o que Marco dissera era verdadeiro.
Sendo assim, estes não eram policias e ela estava na iminência de ser raptada. Oh meu Deus, pensou. Como poderia tal estória ser verdade?
Num impulso de sangue frio, levou discretamente a mão á carteira, abriu a tampa do seu Nókia e num gesto subtil, remarcou o ultimo numero para o qual ligara e rezou para que Carina atendesse. De seguida , subiu o indicador direito até ao botão do volume e aumentou-o.
Como se só quizesse manter conversa, aproximou-se dos bancos dianteiros:
-Estamos longe da esquadra, Senhor Agente?
-Não muito. Mais uma vez lamentamos ter de a incomodar, mas seremos breves.
-Confesso que não entendo o porquê de ir á esquadra? Eu poderia facilmente dizer o que sei sobre Marco Fortes, ou seja... nada!
A revelação do nome provocou por uns segundos alguma hesitação nos sujeitos, tendo o condutor abrandado a marcha.
-Marco Fortes?
-Sim, o sujeito da foto que me mostraram, senhores guardas.
Os dois homens entreolharam-se, tendo o agente Paulo Rodrigues concluido:
-Bom se sabe realmente o nome dele, então sabe mais do que pensávamos.
Reconhecendo que errara ao deixar escapar uma informação tão importante, a jovem mordeu o lábio arrependida e tirando o discretamente o telemovel da carteira, consultou o visor. Carina ainda se encontrava em linha. Boa! pensou ela. De seguida, ocultou a lata de gáz pimenta no bolso do casaco.
Dando uma vista de olhos ao redor, viu a ponte de pedra e subindo um pouco o tom de voz, falou no tom mais
calmo que conseguiu:
-Oh a ponte das Almas, já há algum tempo que não vinha para estes lados. Mas isto não fica já um pouco longe?
Do outro lado da linha, deitada na cama, atónita com a chamada de Rita e tentando perceber o que se passava, Carina ia escutando com toda a atenção as falas da amiga.
Conhecia-a bem demais, para notar o tom de receio na voz dela e após ter ouvido ponte das almas, apressou-se a apontar num papel, esperando que os dois pontos de bateria fossem os suficientes para aguentarem a chamada. Por algum motivo nada lógico, Carina achava que se movesse o aparelho a chamada podia se desligar, e evitava igualmente fazer qualquer ruido. De subito ouviu um chiar de pneus, sons de luta e um grito feminino. O seu coração disparou e o ar de terror tomou conta do seu rosto ao ver que a chamada tinha caído.
Não tenso o sangue frio da amiga, as primeiras lágrimas escorreram dos seus pequenos olhos castanhos e quando finalmente conseguiu raciocinar, levantou-se, meteu o telemóvel nlo bolso e agarrando o casaco preto, saiu em direcção à rua. não poderia voltar a ligar, sob o risco de denunciar a quem pudesse estar interessado, de que ela estava minimamente ao corrento do que se passava.
Por outro lado, se a amiga corria perigo, seria fácil aos agressores, ( sim porque percebera que eram pelo menos dois, caso contrário ela não teria dito senhorguardas), localizar a ultima chamada e encontrá-la.
Carina sabia da história da noite anterior, sabia da estória de Marco, só não conseguia perceber o que a policia tinha a ver com aquilo tudo.
De subito estacou no meio do passeio de cimento. Se a policia estava envolvida, então a casa de Rita estaria vigiada. A quem poderfia recorrer? A chefe da rita, por ter o café devia estar igualmente sob vigia. Só lhe restava o impossivel, procurar o "buraco" ou o Marco. Se ao menos Rita o tivesse descrevido, ela poderia reconhecê-lo. Mas as informações de Rita sobre o buraco foram tão vagas. Ela tinha de agir, mas como?
Após ter visto a jovem entrar no carro patrulha, o sinistro vulto escondido na esquina do prédio em frente, bateu iradamente com o punho na parede e num esforço enorme para decorar a matricula da viatura, proferiu entre dentes:
-Tolinha, eles apanharam-te. Eu avisei-te que Eles iriam te ver. E agora, o que faço?
Após a viatura ter desaparecido no horizonte, Marco Fortes encarou a figura possante do pai de Rita e hesitando uns minutos, pensou, " Porque não?".
Esperou que a porta se fechasse e com toda a precaução possivel, atravessou a rua.
Eles não iriam esperar muito e ele sabia como eles podem ser crueis, quando não ouvem o que querem.
-Pobre miuda! - Pensou.
-------------Fim Parte 2
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Comentários
Re: Eskizofrénico - Capitulo 4 - Parte 2
Mefistus,
De noite... dormes... e levitas a alma, vais mais longe e em pensamento, tenho a "certeza", sorrateiros (tu e a “Rita”), vão puxar os calcanhares ao Tim Burton! E ainda riem dele enquanto fazem um brinde!
Isto que fazes: "Com o rosto colado na janela, um esgar de surpresa percorreu-lhe o olhar".
Uma simplicidade, sem não perder a riqueza literária, associado ao diálogo que transpões nas personagens, é como estando dentro dos bastidores. Quase que posso dizer olá à Rita.
Interessante, é mesmo a tua riqueza linguística, o teu vocabulário, sem no entanto (como atrás demonstrado) perder a clareza da acção, acontecimentos, em suma, a nossa compreensão aquando da sua leitura. Cativante!
Fabuloso como sempre, o Mefistus a desenhar mundos… São bocados e juntados de “rabiscos de alma” “em corpo de dor”.
PS: Reforço o meu anterior pedido, não te atrevas a fazer mal à Rita! Vê lá o que fazes.
Um Abraço Grande!