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A terra de ninguém
Reconheço-o.
Tenho quase um ódio de estimação pela frase "gostos não se discutem".
A limitação é, com certeza, da minha parte, mas não consigo encaixar este grupo de palavras
em muitos momentos enriquecedores da minha vida, sempre que encontrei alguém em terra de
ninguém.
Durante a I guerra mundial, os soldados borrifaram-se para as ordens dos generais, e pararam
de combater. Não foi algo que tivessem organizado. O que aconteceu foi simples: um pequeno
grupo começou a cantar algo que todos conheciam, aos poucos, mais vozes se foram juntando
de todos os lados em conflito. Em toda a frente ocidental as armas iam-se progressivamente
calando.
Homens que cantam não matam.
Quando a canção terminou instalou-se, em centenas e centenas de quilómetros de trincheiras,
um profundo silêncio. Milhões de soldados franceses, ingleses e alemães começaram então a
sair dos seus abrigos e a caminhar em direcção ao inimigo. Durante horas entenderam-se por
gestos e risos, fumavam, bebiam e cantavam em conjunto, mostraram fotografias ou cartas da
família, trocavam a fivela do cinto pelo atacador das botas.
Com grande esforço e promessas de castigo, os oficiais conseguiram pôr ordem naquele caos
e fazer com que cada um fosse para a sua cova.
Nas altas esferas já havia gente roxa de suster a respiração.
A manhã seguinte recomeçou com aquilo que todos sabemos: a matança.
Era a noite de natal de 1914 e a canção chamava-se "Noite Feliz".
Alguns dirão que terá sido intervenção dívina; eu, mais simplório, mais terra a terra, gosto de
pensar que haverá poucas coisas mais importantes para discutir do que os gostos de alguém.
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Comentários
Olá Sofia, boa
Olá Sofia, boa tarde.
Sabes, ver-te reflectir é, por si só, um privilégio sem preço. Quando
tenho a sorte de ter um amontoado de palavras a merecer a atenção
de uma das tuas refleções a sensação é excepcional. Obrigado.
Concordo contigo: que por vezes basta que um cante, que cada vez
a uniformidade tecnocrática a que chamamos individualismo pós
moderno torna o canto mais difícil. Mas lembro-me sempre de uma
frase que gosto muito "pensa como um homem de acção, actua
como um homem de pensamento". Tenhamos esperança que
também no meio desta "matança" haja cantos dissonantes.
Mais uma vez agradeço as tuas palavras. Um fraterno abraço para
ti e para os teus.