CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Um pouco de pele

   Tu e eu, neste preciso instante e em qualquer lugar, com os teus olhos aqui, mesmo aqui,
a percorrerem os meus, e os meus em busca da profundidade dos teus, vamos tentar a única
coisa que vale verdadeiramente a pena fazer: afastar um pouco a morte. A tua e a minha morte.
E tudo o que merece a pena ser feito, merece ser bem feito.
   Não sei se, alguma vez, lemos o mesmo poema ou ouvimos aquela canção; não sei sequer
se, um dia, terei o privilégio de olhar contigo na mesma direcção. A única certeza que julgo ter
agora é esse olhar pousado em mim e basta-me isso para te tentar alcançar.
   Antes de começarmos, devo alertar-te para algo: em caso algum subestimes o teu poder. Este
carrossel até pode estar às voltas há já dois parágrafos mas posso assegurar-te que, assim o
ordenes tu, e ele parará suavemente e poderás sair com toda a tranquilidade. Convém-me que
tenhas esta consciência, porque me recordo que entre a dor e o medo, por vezes escolho a
primeira. Porquê? Porque já vivi momentos em que à sabedoria da indiferença preferi a nada
sensata resolução de enlouquecer agarrado ao estandarte do afecto ou à bandeira da
imaginação. Sabes, todos nascemos loucos mas há uns quantos infelizes que assim permanecem.
   Nunca será demais repeti-lo: em caso algum subestimes o teu poder. Antigamente os animais
falavam, hoje, os tolos escrevem. Pois que viva o progresso.
   Continuas aqui? Óptimo, fico feliz. Penso que chegou o momento que te prometi no inicio. O
instante em que, sabendo nós que nunca a poderemos vencer, tentaremos impor-lhe vida.
   Aqui a tens, agarra-a se quiseres, a minha mão. Ainda antes que te apeteça chamar-me
aldrabão, charlatão ou outra qualquer palavra terminada em ão e que queira dizer mais ou
menos o mesmo, imploro-te que retires esse olhar estupefacto do pouco de pele que te ofereço
e te lembres que, para quem vive, a dor é inevitável mas o sofrimento é o que há de mais absurdo
sobre esta terra. Sonhar e sentir o que nos for possível  e, lá bem no final, quando a lâmina do
sabre se aproximar, digo eu, talvez espernear um pouco.

Publicado originalmente:
Isto de se ser humano
istodeseserhumano.blogspot.com

Submited by

terça-feira, abril 10, 2012 - 16:52

Prosas :

No votes yet

José Sousa

imagem de José Sousa
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 10 anos 37 semanas
Membro desde: 11/17/2011
Conteúdos:
Pontos: 57

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of José Sousa

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Prosas/Pensamentos Flores e punhais 0 828 07/31/2012 - 21:27 Português
Prosas/Contos A carga da brigada ligeira 2 1.086 07/15/2012 - 10:51 Português
Prosas/Comédia A víbora 8 1.015 07/14/2012 - 18:24 Português
Prosas/Pensamentos Um pouco de pele 0 617 04/10/2012 - 16:52 Português
Prosas/Contos A caverna dos leões 0 864 03/08/2012 - 10:59 Português
Prosas/Drama O bolo 0 950 01/13/2012 - 18:41 Português
Prosas/Contos Sal 0 738 01/07/2012 - 11:07 Português
Prosas/Comédia A inquisição espanhola 2 842 01/04/2012 - 19:55 Português
Prosas/Pensamentos Aqui onde tu estás 2 1.197 12/30/2011 - 10:30 Português
Prosas/Pensamentos Resistência e rasgo 2 1.716 12/28/2011 - 23:08 Português
Prosas/Romance Lar, doce lar 0 1.197 12/25/2011 - 17:15 Português
Prosas/Lembranças A terra de ninguém 1 1.281 11/27/2011 - 18:36 Português
Prosas/Contos O outro lado da rua é um lugar distante 0 991 11/17/2011 - 20:48 Português