TEMPO DE SOBRA

O tempo parece antigo
Parece andar confuso
Sou testemunha e acuso
O tempo de inimigo
Não sei qual a sua idade
Nem o cientista louco
O que sei do tempo é pouco
E ninguém sabe a verdade

Pode parecer moderno
Este clima diferente
No inverno fazer quente
No verão fazer inverno
Se antes não era assim
Pode ser do tempo um sonho
Pois deve ser enfadonho
Não ter começo nem fim

O tempo não teme o bravo
Nem o mais inteligente
Pois todo o ser vivente
Do tempo é só um escravo
Ele ataca com frieza
Deixa seco e congela
Destrói o morro e a favela
Matando na correnteza

Quando ele fica ranzinza
Complica a situação
Desperta algum vulcão
E tapa tudo de cinza
Depois o tempo manera
Talvez tenha seus amores
E enche os campos de flores
Quando chega a primavera

De nada o tempo faz caso
Tanto faz final feliz
O tempo só tem matriz
Seu negócio não tem prazo
No tempo a vida se cria
Tem tempo o que tem começo
Mas tem que pagar o preço
Pois ele não negocia

O tempo anda ocupado
Não pode ir a reuniões
E inúteis convenções
Que nunca dão resultado
E até ouço o tempo rir
De papéis, assinaturas
Das históricas figuras
Que assinam pra não cumprir

Tempo dono do universo
Teu espaço não tem fim
Quem sabe esqueces de mim
Eu faço, não fazes verso
É tão imenso o teu mundo
Me deste tempo e me toma
Fugir de ti só em coma
Ou no sono mais profundo

O tempo é tudo, menos burro
Está presente sem chegar
Até ditado faz mudar
Sem trabalhar e sem dar murro
Quando anda meio vadio
Derruba um costume, sem medo
E faz o raio, seu brinquedo
Cair de novo onde caiu

O tempo às vezes passeia
E fica meio disperso
Se perde no universo
Tira um cochilo, sesteia
Com seu horário infinito
Todo o espaço como estrada
Tanto o tudo quanto o nada
O tempo acha bonito

O tempo não tem aliado
Chega em tudo de carancho
Não se esquece nem dum rancho
De pau-a-pique barreado
Lembra de tudo e não anota
Data vencida não tolera
Não poupa nem uma tapera
Que se desmancha lá nas “grota”

Com a morte ou nascimento
O velho tempo não se importa
Não tem fronteira nem porta
Qualquer hora é seu momento
Nunca fica obsoleto
E na hora não tem saída
Vai esgotar a minha vida
E desmanchar meu esqueleto

Com os meus versos eu cutuco
Quem pensa que o tempo manobra
O tempo para o tempo sobra
Não fica velho nem caduco
Não chora e nunca fica triste
Para ele ninguém é caro
Não é escuro nem é claro
Nem mesmo sei se o tempo existe.

Sérgio da Silva Teixeira
BAGÉ/RS/BRASIL.

Submited by

Thursday, July 6, 2023 - 21:33

Poesia :

No votes yet

Sérgio Teixeira

Sérgio Teixeira's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 2 weeks 1 day ago
Joined: 01/24/2011
Posts:
Points: 984

Add comment

Login to post comments

other contents of Sérgio Teixeira

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/General PERIGO REAL E IMEDIATO 2 1.696 04/08/2021 - 15:09 Portuguese
Poesia/General A DERROTA DA MORTE 2 1.820 04/07/2021 - 15:46 Portuguese
Poesia/Fantasy ETERNA INFÂNCIA 0 2.669 03/08/2021 - 01:19 English
Poesia/General PLANOS PARA O FUTURO 1 1.893 02/28/2021 - 11:18 Portuguese
Poesia/Sonnet SONETO DO MORTO VIVO 2 2.148 01/27/2021 - 17:26 Portuguese
Poesia/General DÉCIMAS DO ATORMENTADO 2 1.426 01/27/2021 - 16:16 Portuguese
Poesia/Sonnet SONETO ANTAGÔNICO 3 2.434 01/27/2021 - 16:13 Portuguese
Poesia/General DESEJO DE MORTE 4 1.629 01/24/2021 - 23:24 Portuguese
Poesia/General DÉCIMAS DA PANDEMIA 1 2.000 12/04/2020 - 13:03 Portuguese
Poesia/Sonnet SONETO DA ESCURIDÃO 2 1.793 10/30/2020 - 12:15 Portuguese
Poesia/General POEMA DO HOMEM INVISÍVEL 0 2.431 10/10/2020 - 20:45 Portuguese
Poesia/General DESPEDIDA 0 1.881 07/04/2020 - 21:40 Portuguese
Poesia/General POR UNS E OUTROS MOTIVOS (RACISMO) 3 1.927 06/16/2020 - 21:07 Portuguese
Poesia/General SOMOS TODOS IGUAIS (?) 2 2.352 05/25/2020 - 21:23 Portuguese
Poesia/General O CANTAR DO MEU SILÊNCIO 2 1.753 05/06/2020 - 16:26 Portuguese
Poesia/Sonnet SONETO ÀS FLORES DA SEXTA-FEIRA SANTA 0 1.958 04/10/2020 - 16:10 Portuguese
Poesia/General DÉCIMAS DO MAL QUE FEZ A PAZ MUNDIAL 2 1.903 03/27/2020 - 01:51 Portuguese
Poesia/General ANALISTA DE MIM MESMO 0 1.735 03/17/2020 - 14:38 Portuguese
Poesia/Sonnet SONETO DA EXPERIÊNCIA 0 2.285 02/17/2020 - 17:52 Portuguese
Poesia/Sonnet SONETO DO ACASO 0 2.115 02/07/2020 - 11:45 Portuguese
Poesia/General INÚTIL SABER 0 1.872 01/22/2020 - 22:41 Portuguese
Fotos/Personal LIVRO RECENTE 0 3.482 01/05/2020 - 14:06 Portuguese
Fotos/Personal LIVRO RECENTE 0 5.537 01/05/2020 - 13:59 Portuguese
Poesia/General AGONIA DO ANO 0 2.246 12/30/2019 - 00:45 Portuguese
Poesia/General DEVANEIO 2 2.271 12/22/2019 - 12:08 Portuguese