O homem que fazia chover
Porque havia sírios e cedros e chuva sem ti.
Porque a cinza do céu e o tumulto dos pássaros me inventaram o só.
Porque tudo era escravo do futuro defunto em adeus…
Porque o mundo partido aos bocados tinha horas do ontem onde existias.
Lembrei-me do homem que fazia chover.
Musical e passado um harmónio vadio vagueava os Outonos.
Hipnotizado ataúde que moravas eterna no nojo da terra abaixo dos pés.
Crepita de crentes, vizinhas e gente que não conheci…
Com os seus sentimentos ao meu abandono com saudades de ti.
Então vaporou do tempo um tempo sem tempo de nós…
Um harmónio de frio, tempestades e rios correntes na voz.
Depois tremente, doente, invisível, estacou sem corpo…
Meu olhar no vazio, que sentiu tal frio de me sentir morto.
Perdi-me então por ali…
Num tempo de lençóis brancos que cheirava o verão…
Agua salgada e lágrimas de sol pela calçada.
E á frente toda a gente…que sente…
O tonto da tasca, o Tadeu tanoeiro e o sacristão…
O padre, os amigos, o pai sentido, a Conceição.
O Zé a Celeste, o tempo agreste no dia chorar…
Foram todos levar-te, aonde me foste abandonar.
Cravos, crisântemos, arranjos com faixas abraçadas nos lírios…
Olhei para o ar como se fosses pairar por cima dos sírios…
Depois melodia, que fiquei para ultimo do teu ultimo dia.
A harmónica e o homem que fazia chover… e chovia.
Emperrou á entrada do campo num calar sepulcral.
Tu que me amavas e acreditavas e por sinal…
Eu descrente…creio que deus…
Foi ao teu funeral.
Mãe.
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 790 reads
Add comment
other contents of Lapis-Lazuli
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Friendship | Carroça dos cães | 0 | 2.067 | 11/18/2010 - 16:34 | Portuguese | |
Poesia/Love | Um quarto de hora de rio | 0 | 1.090 | 11/18/2010 - 16:31 | Portuguese | |
Poesia/Love | Lucy in the sky with diamonds | 0 | 1.032 | 11/18/2010 - 16:28 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Exorcizamus | 0 | 1.567 | 11/18/2010 - 16:21 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Pai nosso dos violinos | 0 | 1.177 | 11/18/2010 - 16:17 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | "Recordações Da Casa Amarela" | 0 | 1.047 | 11/18/2010 - 16:09 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Laranjas de natal | 0 | 1.003 | 11/18/2010 - 16:08 | Portuguese | |
Poesia/Passion | Vénus no altar dos ímpios | 0 | 1.462 | 11/18/2010 - 16:07 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Speedball Brown Sugar | 0 | 1.018 | 11/18/2010 - 16:07 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Incongruência | 0 | 1.077 | 11/18/2010 - 16:07 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Eu vos saúdo Maria | 0 | 1.191 | 11/18/2010 - 15:46 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | De que carne somos feitos | 0 | 1.565 | 11/18/2010 - 15:45 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Cozido á portuguesa | 0 | 1.469 | 11/18/2010 - 15:45 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Belas...uma terra perdida em mim | 0 | 1.161 | 11/18/2010 - 15:45 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | O equilibrista | 0 | 1.083 | 11/18/2010 - 15:32 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Vou dançar a Polka | 0 | 1.132 | 11/18/2010 - 15:32 | Portuguese | |
Poesia/Love | Já por detrás do bugio | 0 | 1.474 | 11/18/2010 - 15:30 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Fascismo | 0 | 1.794 | 11/18/2010 - 15:30 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | A divina tourada | 0 | 1.661 | 11/18/2010 - 15:27 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Remissão | 0 | 906 | 11/18/2010 - 15:27 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Reencantamento | 1 | 1.297 | 09/23/2010 - 17:33 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Compasso a passo e arrasto | 3 | 966 | 09/21/2010 - 11:12 | Portuguese | |
Poesia/Love | Do peito | 10 | 1.219 | 09/17/2010 - 22:43 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Deslembrança | 2 | 496 | 09/16/2010 - 22:27 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | A vida são dois dias | 1 | 1.464 | 09/16/2010 - 21:32 | Portuguese |
Comments
Re: O homem que fazia chover
Poema belo e profundo.
Faz e dá que pensar.
Vitor.
Re: O homem que fazia chover
Deixo a minha admiração pelo poema e por tudo o que ele transmite. De belo e de triste.
Abraço
Nuno
Re: O homem que fazia chover
Voraz palavras para o sangue evaporado pela despedida da vida, com toques loquazes, como uma despedida, como um arrependimento, como um cético que no final abre uma brecha no coração. O filho que esmurra a terra à procura de culpa ou de significados, só que toda significância está aí, no acto de o querer e no desabafo que criaste. E a poesia faz-se perante a dor do poeta.
Alcantra
Re: O homem que fazia chover
Bom poema!!!
:-)
Re: O homem que fazia chover
Em primeiro lugar peço-te desculpa...
Li, reli, voltei a ler e continuei sem saber, se havia de comentar, ou não...
Optei por o fazer...
Apenas pq tenho q te dizer q é dos poemas mais bonitos e comoventes q ja li...
Desculpa...
Beijinho em ti
Inês