MEA CULPA
Viver-me
é um medonho quanto,
um desmaio do chão ao céu espanto.
Ausência é o que não fiz.
Sentir-me
é um quesito
mesquinho de tempo,
mea culpa de Satanás amnistiado.
Ruído é o que não disse.
O caminho do ser
medra aos pés noivados
de pão e vinho à boca das covas.
Rés vezes
de pedra soletrada
em luar de proa sem barco,
parco estar este não sei onde ser.
Saudade é a distância que não pisei.
Padece a fantasia
no covil dos cornos
que se abaixam açoite
na cicatriz de folhas em branco.
Solidão é os risos que não dei.
Adormece a noite
cantada de acontecer,
o dia folga na maré da alma
onde o corpo fica esquecido além por ir.
Atlântidas por descobrir
são Midas no meu dormir.
Sono é o que não amei.
Idas sem volta,
diabos à solta na frieza dos lábios,
desertos sábios ensinam a palavra infinito.
Acendo ascender à morte.
Ventos pavios,
violinos navios a navegar o norte.
Sabedoria é o que não sei.
Sobram sombras
no berço da voz quando o silêncio
é um rio parado na viuvez das margens.
Amores são viagens pela imortalidade.
Tropelia é o que não decidi.
O sol é um sapato
que trago calçado para sonhar.
Acordar é uma pedrinha
que me descalça dos sonhos.
Eu é quem não conheço.
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 2077 reads
Add comment
other contents of Henrique
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Aphorism | BEM VISTO | 0 | 8.903 | 01/15/2015 - 14:36 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | DESTRUIÇÃO | 0 | 926 | 01/13/2015 - 20:56 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | CALMA | 0 | 3.972 | 01/13/2015 - 13:13 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | QUE VIDA ME MATA DE TANTO VIVER | 0 | 1.716 | 01/12/2015 - 20:18 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | SEM AUSÊNCIA | 0 | 3.165 | 01/12/2015 - 17:03 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Pior do que morrer, é não ressuscitar... | 0 | 4.095 | 01/11/2015 - 22:04 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | CHOCALHO DE SAUDADE | 0 | 2.167 | 01/11/2015 - 16:30 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | GRITO QUE AS MÃOS ACENAM NO ADEUS | 0 | 3.579 | 01/10/2015 - 23:07 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | SOVA DE ALGURES | 0 | 1.696 | 01/10/2015 - 19:55 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | SORRATEIRAMENTE | 0 | 2.270 | 01/09/2015 - 19:33 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | SILÊNCIO TOTAL | 0 | 2.776 | 01/08/2015 - 20:00 | Portuguese | |
Prosas/Terror | FUMAR É... | 1 | 7.664 | 06/17/2014 - 03:23 | Portuguese | |
Poesia/Love | COMPLETAMENTE … | 1 | 2.364 | 11/27/2013 - 22:44 | Portuguese | |
![]() |
Videos/Music | The Cars-Drive | 1 | 3.522 | 11/25/2013 - 10:52 | Portuguese |
Poesia/Passion | REVÉRBEROS SÓIS … | 1 | 2.514 | 08/15/2013 - 15:23 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | AS ENTRANHAS DO SILÊNCIO … | 0 | 1.413 | 07/15/2013 - 19:37 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | TIQUETAQUEAR … | 0 | 2.513 | 07/04/2013 - 21:01 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | AMOR CUJO CARVÃO SE INCENDEIA DE GELO … | 0 | 2.954 | 07/02/2013 - 19:15 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | ONDE A NOITE SEMEIA DESERTOS DE ESCURIDÃO … | 0 | 2.558 | 06/28/2013 - 19:58 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | ESCOLHO VIVER … | 1 | 2.412 | 06/26/2013 - 08:42 | Portuguese | |
![]() |
Fotos/Art | Se podia ser mortal? | 0 | 5.863 | 06/24/2013 - 20:15 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Art | Um beijo com amor dado ... | 0 | 3.711 | 06/24/2013 - 20:14 | Portuguese |
Poesia/Meditation | AZEDAS TETAS DA REALIDADE … | 0 | 2.743 | 06/22/2013 - 19:36 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | FAÍSCAS NA ESCURIDÃO … | 0 | 5.601 | 06/18/2013 - 21:52 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | QUANTO BASTE … | 0 | 3.555 | 06/10/2013 - 20:23 | Portuguese |
Comments
Re: MEA CULPA
"Viver-me
é um medonho quanto,
(...)"
E quanto é medonho viver ascendendo a morrer, quando as tropelias dos sonhos são hipérboles apendicites que rasuram os sapatos do sol.
"Eu é quem não conheço", mas conheço o que agora diz aqui, o efémero trago que engole o mundo e o devolve deformado.
Gostei do poema
:-)
Re: MEA CULPA
henrique,
Destaque:"Acordar é uma pedrinha
que me descalça dos sonho" uma verdade.
Obrigada pelo texto que li e bebi com prazer
Abraço