Eskizofrénico - Capitulo 2 - Parte 2
A tarde surgiu trazendo com ela, um jovem calmo e atencioso. Em passos seguros entrou no café, e sem sorrir, sentou-se calmamente na usual mesa , evitando o olhar incisivo da dona do café, murmurou o pedido de um café e de costas muito diretias, bebeu de um trago o liquido castanho, limpando demoradamente a boca ao guardanapo de papel, enquanto os seus olhos se detinham atentos para lá da janela do estabelecimento.
O sol voltava em força, em pequenos espasmos, por entre as nuvens que desfilavam incertas, e no exterior todas as pessoas pareciam autómatos, circulando, gingando, falando, em suma, preocupadas com elas.
Ele contudo permanecia calado, apático e terrivelmente triste. Claro que as suas feições passavam despercebidas á dona do café, que sempre que ele chegava, esforçava-se por se manter ocupada e ignorá-lo.
Havia qualquer coisa naquele sujeito de fato azul desalinhado e gasto que a irritava profundamente e ela odiava estar irritada.
Contudo, assim que as quinze horas chegaram, Rita surgiu para assumir o seu turno de trabalho e como já vinha um pouco atrasada, correu directa aos vestiários, trocando a camisa branca, pela farda do café.
Não demorou muito tempo e quando surgiu no pequeno corredor, deteve-se uns segundos analisando o jovem, a quem a chefe intitulava de " case- Study".
Pela primeira vez, ela via-o absorto, de olhar contemplativo e verdadeiramente interessado no que a janela mostrava.
De passos seguros, caminhou até ao balcão e tendo o cuidado de baixar a voz, inquiriu:
-Chefe, qual foi a bronca?
-Bronca?
-Com ele. Está quieto, calmo e a olhar pela janela. não era suposto estar a escrever no caderno?
-Agora que falas nisso, não o vi a limpar a mesa e bebeu um café de chávena normal sem reclamara.
-Verdade?
-Está sem pasta.
O olhar das duas jovens estacaram no jovem, estudando-o. Habitualmente ele limpava a mesa, vinha de mala castanha e pedia o café numa chávena que trazia. E agora, mantinha-se impávido e sereno, evitando o olhar das jovens.
Rita sorriu ao de leve e piscando o olho á chefe, tomou a iniciativa:
-Vou encarar a fera.
-Estás certa de que é uma boa ideia?
-Com ele, nunca tenho a certeza de nada. Mas ele não está bem e eu não fico tranquila se não falar com ele.
O tom de voz sincero da voz dela, surpreendeu a chefe, que surpresa pela reação, calou-se e optou por se refugiar na cozinha.
-Boa tarde.
-Boa tarde.
-Já tomou café?
-Não me lembro...acho que sim.- O seu tom de voz era apático e sinistramente baixo.
Rita endireitou o pescoço e olhou-o profundamente:
-Sente-se bem?
-Tantas perguntas...oh pare, estou doente!
-Desculpe. Só perguntei porque não o vi a escrever.
-Escrever?
-Sim, no caderno preto.
Por uns segundos o jovem fitou apreensivamente o rosto inquiridor da jovem e encolhendo os ombros, retorquiu:
-Não sei escrever. Nunca soube. Agora deixe-me.
Sem saber o que pensar a jovem retirou-se atónita para trás do balcão e sem conseguir colocar as ideias em ordem disparou para a chefe:
-Ok, isto foi muito estranho. A menos que o coitado tenha um irmão gémeo exactamente igual, não sei o quie se passou agora.
-Ele está confuso?
-Não. Diferente, bastante diferente em poucas horas.
-Não haja duvida que é um cromo estranho.
-Não sei, nunca o vi assim. Tenho receio.
A chefe atirou o pano que trazia sob o ombro para o balcão e ripostou:
-Rita, ouve-me bem. não sei o teu interesse por aquela criatura, mas não sigas esse caminho. Ele é doido, sabe deus os problemas que tem. Não precisas dele.
-tem razão chefe. Eu não preciso dele, mas estou convencida que ele precisa de mim. Não v~e como ele está a sofrer?
-Não vás por ai. nada sabes dele. cdeixa o mundo girar. não tentes salvar o mundo. È uma guerra que não podes vencer.
-Não se trata de ser samaritana. Mas há algo nele que me fascina verdadeiramente.
à superiora hierárquica, encolheu os ombros acenasndo negativamente a cabeça e num desabafo, sentenciou:
-Cuidado miuda, aquele traste cheira-me a sarilhos. Se te atrai, foge. Homens não prestam. Mesmo os loucos.
Ela sorriu ao de leve e ganhando coragem, retorquiu:
-Os homens são o diabo, dizdem. Mas todas as mulheres procuram um diabo que as carregue.
-Seja. A vida é tua, mas aviso-te que vais sofrer.
decidida a jovem, saiu do balcão e tentou uma vez m ais:
-Não o vejo de pasta. Está de férias?
-Sim. férias....Isso, é isso que eu estou.
-Trabalha onde?
pela primeira vez , o jovem exibiu um sorriso confiante e vasculhando os bolsos tirou um cartão de visita, amarrotado do bolso:
-Gaspar & Gaspar , Lda. Uma firma de import/ Export.
-Isso é bom.
Parecia á jopvem que o sujeito já estava mais relaxado e menos confuso.
-Posso ser curiosa?
-não sei. curiosa como?
-Que funções ocupa lá?
O sujeito ia sorrir, quando olhou repentinamente pela janela e assustando-se com algo que vira, levantou-se e pálidamen te, saiu a correr, deixando a jovem especada.
Fim capitulo 2
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 3245 reads
Add comment
other contents of Mefistus
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Prosas/Contos | A lenda de Enoah - Capitulo 15 - Parte 1 - | 2 | 1.670 | 07/26/2010 - 23:39 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A Lenda de Enoah - Capitulo 14 | 2 | 3.425 | 07/26/2010 - 23:38 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A lenda de Enoah - Capitulo 12 | 2 | 2.422 | 07/26/2010 - 23:36 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A lenda de Enoah - Capitulo 11 | 2 | 1.994 | 07/26/2010 - 23:34 | Portuguese | |
Prosas/Contos | Eskizofrénico - Capitulo 1- Parte 2 | 1 | 1.490 | 07/23/2010 - 08:46 | Portuguese | |
Prosas/Contos | Eskizofrénico - Capitulo 1 | 4 | 1.232 | 07/19/2010 - 20:14 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A lenda de Enoah - Capitulo 1 | 5 | 1.635 | 07/19/2010 - 12:54 | Portuguese | |
Prosas/Saudade | Curtain Down! | 0 | 1.849 | 07/14/2010 - 15:19 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Este corpo que agora largo | 2 | 1.301 | 07/14/2010 - 11:55 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Oscilações de Uma Alma Triunfal | 5 | 1.371 | 07/03/2010 - 15:30 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A Lenda de Enoah - Ultimo capitulo parte 2 | 1 | 2.294 | 07/03/2010 - 15:09 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Damos Graças pois então! | 3 | 2.262 | 07/02/2010 - 13:45 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A Lenda de Enoah - "A morte de Gambinus" | 0 | 3.417 | 07/01/2010 - 10:28 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | No Mundo do Faz de Conta | 6 | 3.549 | 06/28/2010 - 12:49 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A Lenda de Enoah- Capitulo 19 | 0 | 3.561 | 06/28/2010 - 10:53 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A lenda de Enoah - Capitulo 18 | 0 | 1.780 | 06/25/2010 - 23:51 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A lenda de Enoah - capitulo 17 | 1 | 2.466 | 06/23/2010 - 21:47 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A lenda de Enoah - Capitulo 10 | 4 | 1.998 | 06/17/2010 - 00:23 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A lenda de Enoah - Capitulo 9 | 2 | 1.667 | 06/17/2010 - 00:04 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A Lenda de Enoah - Capitulo 8 | 3 | 1.759 | 06/16/2010 - 23:29 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A lenda de Enoah - Capitulo 7 | 4 | 1.844 | 06/09/2010 - 14:17 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A lenda de Enoah - Capitulo 6 | 6 | 1.218 | 06/07/2010 - 10:43 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A Lenda de Enoah - Capitulo 5 - | 3 | 1.817 | 06/03/2010 - 01:35 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A lenda de Enoah - Capitulo 4 - | 5 | 1.945 | 06/03/2010 - 01:22 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A lenda de Enoah - Capitulo 3 | 6 | 1.394 | 06/02/2010 - 16:04 | Portuguese |
Comments
Re: Eskizofrénico - Capitulo 2 - Parte 2
Uma nova faceta da personagem surge, um lado completamente oposto daquilo q o leitor ia conhecendo até agora...
Não sabe escrever...
Se calhar não sabe mesmo e só rabisca no caderno, isto deixou-me intrigada e deliciada...
porque estará triste?
q tipo de trabalho exercerá na Empresa?
(LOL Gaspar é o nome do meu gato)
E a Rita q fascinio consegue tb exercer nele?
De facto a sua maneiraconsegue ir saltando obstaculos...
"Já bebeu café?
Não me lembro..."
Ele é extremamente meticuloso e de repente nem se lembra se bebeu o café...
Muito, muito interessante!
Beijinho em ti!
Inês
Re: Eskizofrénico - Capitulo 2 - Parte 2
Resumidamente: Um jovem louco e portador quase de dupla personalidade; e uma jovem empregada de balcão que gosta do mistério que envolve o jovem!
Um bom enredo e obviamente uma boa escrita, facílimo de ler!
Parabéns