PESSOAS SAO COMO PAISES

Pessoas são países, também tem suas fronteiras...
Guardadas por tropas armadas, polícia treinada, cachorros sombrios...
As vezes bem delimitadas... Traçadas de rios, desertos, praias... secretos oásis...
As vezes meio difusas, são linhas imaginárias... As vezes são cordilheiras...

As vezes em guerra, cicatrizes se enrolam em gazes...
Pessoas são como pátrias... em suas praças erguem bandeiras...
Pessoas se armam como fragatas, nuclearmente se desenergizam...

Pessoas...
Se fecham como Coréias, se abrem como mercados...
Se matam como cordeiros... retorcem-se como ciprestes,
Apressam-se como coelhos...

Pessoas as vezes em pazes se trancam nos paraísos...

Pessoas são países... Trazem uma bomba no peito... são árabes desesperados...
Rota a memória de um povo...
Apagam suas cantigas, suas histórias, suas raízes...
Sua cultura, seus mistérios... se calam suas esfinges...

Pessoas tem leis seculares, seus túmulos...
Tem lapides frias esculpidas em mármore...
Onde guardam mártires já olvidados... Já esquecidos... Bombardeados...

Pessoas tem sonhos que são reprimidos...
Desejos não concretados... Problemas mal resolvidos...

Para entrar em seus domínios... Precisa de um selo, um visto...
Que permita o passo no território como turistas distraídos...
Sendo o preço do passeio, o livre rodar do destino...

Passaportes vencidos, somos repatriados... na força bruta de um exílio...

Que alguma embaixada permita-me o beijo...
Um consulado que o pranto console...
Que a ONU empreste seu ombro desconfortável...

Que eu aliste meus devaneios em brigadas populares, barricadas vermelhas...
Derrotar “Charle de Gaulle” em meia oito referendo

Sin el permiso, penetram pelos atalhos, são ciganos clandestinos...
Simples refugiados, ou fraternos foragidos...

Pessoas são velhos castelos que precisam ser derrubados...
Por mãos de mouros escravos, por sangue árabe bravo...

Pessoas são latifúndios...
Cercados, improdutivos...
Que precisam ser ocupados... semeados, inteiros... Por mãos campesinas, nutridos...

Pessoas são países onde por vezes ardem batalhas...
Cai o poder instituído, queda da Bastilha... E vibra sonoríssimo badalo...

... Depois da última pedra, abrem-se as grades para soldados sem fardas... Desuniformizados, rotos, barbados, descansam nas margens dos rios...
Prontos para pousar os cravos em nossos fuzis carcomidos...

Pessoas precisam de pontes rústicas sobre os fossos ressecados...
Escadas que ultrapassem os muros de pedras erguidos...

Murcham velhas tradições podridas... acendem-se velas...
Voam paliçadas militares, abre-se a cidadela...
Dandara se ressuscita em páscoa!

Uma cadela no cio nos perturba o sono... E cachorros a perseguem...

Nas mãos de um povo cansado, erguem-se vivas novas canções... hinos se fazem...

Amor, sei que terás novo porto... e assim, no frescor de uma maré, sinto a brisa marinha bafejar minha face, convidando para singrar novamente os mares...
Sangrar novamente o peito... talhar devagar os mastros... costurando as velhas velas...

Vou acendendo a fornalha, preparando o fôlego do fole... Passo em vista a casa de máquinas, o carvão, o óleo cru e a dinamite...

Cão perdigueiro...

Amor... sei que feridas são cicatrizes... e temos as chagas...
Amor. Sei que pessoas são como países... e temos as chaves...

Aqui eu te ergo, aqui tu me fincas...
Aqui te semeio, aqui te enraízas...

Bem vinda, por inteira em meu peito!

Submited by

Martes, Octubre 25, 2011 - 14:41

Poesia :

Sin votos aún

marcelocampello

Imagen de marcelocampello
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 12 años 4 semanas
Integró: 03/02/2011
Posts:
Points: 310

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of marcelocampello

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/General Eu carrego em meu peito um elefante 1 899 04/05/2011 - 04:14 Portuguese
Poesia/General jogando os dados - azar: الافراج عن البيانات - عازار 1 1.190 04/03/2011 - 00:49 Portuguese
Poesia/General Assim que os poetas deliram? 3 704 04/02/2011 - 03:05 Portuguese
Poesia/General Deixa escorrer a água querido! 1 699 04/01/2011 - 23:36 Portuguese
Poesia/General O verso do não amor 6 772 03/31/2011 - 19:27 Portuguese
Poesia/General À DERIVA 6 801 03/21/2011 - 15:38 Portuguese
Poesia/General O labirinto de calcário 2 996 03/14/2011 - 19:36 Portuguese
Poesia/Intervención Não me peçam gentileza! Vou dar murros! 0 1.275 03/13/2011 - 18:35 Portuguese
Poesia/General Aquieta o Realejo e Seu Macaco! 0 1.096 03/13/2011 - 15:55 Portuguese
Poesia/General Os Namorados (Páris e Helena) 4 841 03/07/2011 - 19:15 Portuguese
Poesia/Dedicada Minha mãe fez uma boneca 0 995 03/07/2011 - 14:09 Portuguese
Poesia/General O Albergue Anarquista 2 931 03/05/2011 - 16:33 Portuguese
Poesia/General Bailas comigo pela eternidade? 2 748 03/05/2011 - 01:13 Portuguese
Poesia/Dedicada Soldado da Coluna Prestes 2 1.156 03/05/2011 - 00:54 Portuguese
Poesia/General Fetiche ao Imaginário 0 857 03/04/2011 - 17:53 Portuguese
Poesia/General Reine em mim Realidade! 0 673 03/04/2011 - 17:48 Portuguese
Poesia/General Quanta neve... 2 651 03/03/2011 - 22:03 Portuguese
Poesia/General O homem insone 0 670 03/03/2011 - 19:26 Portuguese
Poesia/General Sem Disfarces 0 924 03/03/2011 - 19:01 Portuguese
Poesia/General Lapidada por Estilhaços 0 604 03/03/2011 - 17:26 Portuguese
Poesia/General Pessoas são como países... 0 627 03/03/2011 - 17:26 Portuguese
Poesia/General as lágrimas corretas... 0 867 03/03/2011 - 17:22 Portuguese
Poesia/General Centauro 0 757 03/03/2011 - 17:19 Portuguese
Poesia/General Meu terno 0 711 03/03/2011 - 17:14 Portuguese
Poesia/General Fagocitose 0 736 03/03/2011 - 12:37 Portuguese