CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Lapidada por Estilhaços

Poderia lançar-te à rua como o Ourives Parnasiano,
Esculpida com lentas salivas... perfumada para o prelo...
Ou envitrinar-te pálida como el viejo vaso grego...

Mas ponho-te imediata, urgente e sem segredo, em desespero...
Vestida ainda em placentas, nas ruas vais nua em pelos...
Sem cesárea ou banheira, nasceste assim pela terra, escorrendo pelo bueiro...
Na pressa de quem tem sede ou na fome de um mundo inteiro...

Como uma marcha revolta...
Filha do homem, sem tempo para ter medo...
Avança o meu poema como uma turba confusa e concisa...

Poderias ser como a musa num museu estatuada...
Ou no Louvre emparedada como a Lisa...
No entanto, és medusa rabiscada... És a mona primitiva e obtusa!

És semente plantada, quase escondida... fecundando milhões de hectares...
Ser bruta matéria-prima florida... e repartida...
Como a prole que se multiplica... Incêndio que se propaga...

Poderia domesticar-te ate saíres perfeita, saltitando por avenidas, abotoada...
Nas valsas ver-te rodar como palpitante estrela... Serenata serena...
Mas sei que nasceste em silencio, ao aborto, sobrevivida... Sirenes ligadas vermelhas...
Assim vai meu poema... pelas veredas...

Poderia ter-te em pérolas adornadas, em prêmios embevecida...
Mas seus nervos foram forjados em fábrica, por mãos operárias parida...
Suas paredes são mãos calejadas, pedra a pedra por pedreiros...
Assim vai meu poema... pelos sendeiros...

Poderia ver-te casada na igreja,
no altar como deusa, com homem de boa família...
Mas o sangue estivador tem a dose exata de suor, boa dose de licor...
E sabem colher com suas mãos, a carne das ruas salgadas...
Assim vai meu poema... pelas estradas...

Poderia sim, entoar versos idílicos dos antigos menestréis feudais...
Com liras afinadíssimas e seus baluartes bacantes, seus bandolins enfeitiçados...
Tocando flauta pelos paramos, poderia travestir-te de cordeiro e espalhar a boa nova de seu parto... Fantasiar sob o pelego da ovelha...

Mas te projeto como um punho cerrado de raiva...
Do pavio querendo a centelha...
Pronta para enfrentar bombardeios...

Poderia eu, como pai... lapidar-te com detalhes... séculos de pinceladas...
Para ver-te repartir a luz nas sete cores primárias...

Mas sei que és mal acabada, rebentada com navalhas em suas carnes...
Foste entalhada com machado sem fio...
Meio aleijada, retorcidos os joelhos...
Nos muros, podendo ser lida nos becos quando estala a luz do alumínio negro...

Mas te vejo assim, lapidada apenas por estilhaços, granadas, obuses...
Explosão de morteiros... Fogueiras... Tiroteios...
Queimando em brasa seus calcanhares... Isqueiros...
Fumaça de fósforo branco sufocando os ares...
Nossa garganta em chamas procura por água, encontra o lacrimogêneo...
Respira esse pano embebido em vinagre... Sai pela rua desesperada, salva-te... Ligeiro...

Não temos tempo para acabar o poema...

Submited by

quinta-feira, março 3, 2011 - 16:26

Poesia :

No votes yet

marcelocampello

imagem de marcelocampello
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 11 anos 51 semanas
Membro desde: 03/02/2011
Conteúdos:
Pontos: 310

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of marcelocampello

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Poesia/Meditação A história da cabeça que fugiu dos pés! 4 1.795 06/10/2012 - 21:03 Português
Poesia/Meditação The story of a head that ran from its feet 0 2.336 06/10/2012 - 11:07 inglês
Poesia/Geral Dr. Jekyll: Pb > Au 0 1.886 12/12/2011 - 10:26 Português
Poesia/Geral Cavaleiro de Copas 0 1.973 12/09/2011 - 18:40 Português
Poesia/Intervenção BELO MONTE 0 1.632 12/09/2011 - 18:03 Português
Poesia/Geral Gilliat e Deruchete 1 2.846 12/01/2011 - 17:42 Português
Poesia/Geral Pessoas são como países (reeditado) 0 1.714 10/25/2011 - 13:47 Português
Poesia/Geral PESSOAS SAO COMO PAISES 0 1.661 10/25/2011 - 13:41 Português
Poesia/Geral ENTROPIA MONETÁRIA 0 1.868 10/07/2011 - 14:50 Português
Poesia/Geral MORO NESSA CASA VAZIA 0 1.821 10/07/2011 - 14:46 Português
Poesia/Fantasia Amores e Mamutes 4 1.748 04/30/2011 - 15:59 Português
Poesia/Amizade Jocasta, Amelie Poulain e Lili Carabina 2 2.435 04/28/2011 - 19:40 Português
Poesia/Geral A MENINA NA CAVERNA 0 2.167 04/27/2011 - 14:16 Português
Poesia/Geral O Eco, a Sombra e as Estrelas 1 2.316 04/27/2011 - 02:48 Português
Poesia/Geral FANTASIA MIGRANTE 3 1.919 04/19/2011 - 18:00 Português
Poesia/Geral Canção em Espiral 1 1.594 04/16/2011 - 03:08 Português
Poesia/Geral Tropa serena 0 2.420 04/16/2011 - 00:52 Português
Poesia/Geral Desculpai-me insetos! 2 2.476 04/13/2011 - 21:52 Português
Poesia/Geral Algum abandono previsível! 3 2.074 04/12/2011 - 13:02 Português
Poesia/Geral Mom made a doll 0 1.929 04/09/2011 - 22:18 inglês
Poesia/Geral Jocasta, Amelie Poulain e Lili Carabina 0 2.697 04/09/2011 - 15:18 inglês
Poesia/Geral The poem's not love 0 2.057 04/09/2011 - 15:17 inglês
Poesia/Geral Adrift 0 2.318 04/09/2011 - 15:16 inglês
Poesia/Geral Encerrai a cavalgada! 2 1.699 04/09/2011 - 10:51 Português
Poesia/Geral Passou o tempo querida! 6 1.830 04/05/2011 - 11:33 Português