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Ao Ary...Camarada e Poeta
Eu perco…
Perco sempre e sempre peco.
Tenho acreditares tão longe que no coração dos outros não passo dum pobre lírico.
Não sei como integrar formas de luta e amar, corpo, sangue, mãos e trigo.
Um dia era uma vez…
Sempre foi uma vez para todos uma criança pesada de destinos.
Troquei afectos por martelos com foices pintei o belo de operários e campesinos.
Não me esqueci de nada.
Dos pulhas de unha lavada, da censura no meio da estrada, do meu país torturado…
Anda aí uma escumalha de gravata e voz de gralha a esquecer-se do passado.
Quando foi a madrugada da Grândola camarada já eu era filho doutros.
Gente de alma chorada, navegante e escravizada, com resistência no rosto.
Eu sou o então…
O foi bonita festa pá, o depois do adeus, um cravo capitão.
Por mais que me desprezem sou o sangue da classe que faz do poema pão.
Não interesso porque perco e perder pela miséria não tem lugar no social.
Podres de vós que não prestam e se prestam por vergonha a adubar o capital.
Sinto coisas de fumo nos braços…
Fumo fúnebre, agoniado!
Por aqui, onde versam sementes de corpo sentido, vejo…
Poemas de morte e cinza nos portões mortos da Lisnave.
Prosas de prato vazio, pranto no Vale do Ave…
Foi bonita a festa pá…
O Abril antes do Maio, torresmos, sandes de paio e os homens para a cozinha.
Muito facho pôs um cravo e fez o povo de parvo conforme assim convinha.
Não vos sei os porquês…é certo.
Mas ás vezes está tão perto, impossível de não ver…
Vossos avós eram pobres, não eram burgueses e nobres, não tenham vergonha de o dizer.
Depois há eu o íntimo, o eu ínfimo que de amor já sei falar.
Mas dou meu corpo à greve troco o amor que é breve pelo amor de lutar.
Então por isto e mais…
Foi bonita a festa pá!
Ficou que quando alguém desiste, há outro alguém que resiste…
Poema maior não há.
Espero sempre o correio com boas novas do tempo que virá à minha vista…
Erguido tempo de vitória, erguida alta com glória…
A bandeira comunista.
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Comentários
Re: Ao Ary...Camarada e Poeta
Tudo vale pela posição social, pelo estatuto, pelo dinheiro. E por esse tudo, chegamos ao ponto que chegamos... que se saiba aprender com os erros, e se abram os olhos de uma vez por todas...!
Viva a liberdade de expressão! :hammer:
Grande texto!
Beijo,
Clarisse