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EU E O CHÃO DO PÁTIO
Nos fundos do rancho, abro a porta
Vejo o limoeiro e a figueira
Também vejo a pitangueira
E outra figueira, já morta
Galharia seca, torta
Ainda serve em seu final
Para se atar o varal
Que seca as roupas surradas
Sempre as mesmas usadas
Que a mim não fazem mal
No chão o pasto que aparo
Sofre quando a seca ocorre
Amarela mas não morre
Resiste e não pede amparo
Aguenta se o preço é caro
E, diga-se de passagem,
Depois da chuva a imagem
Volta verde outra vez a ser
Ciclo que tem o poder
De eternizar a paisagem
Diferente desse pasto
Que quando cresce eu aparo
O meu tempo é curto e caro
E sem perceber eu gasto
E sem saber que eu existo
Como as coisas materiais
O chão que não me refaz
Nada sabe sobre mim
Onde eu vou morar no fim
Para brotar nunca mais
Esse chão que é derradeiro
Para quem um dia parte
Serve para a obra de arte
Que constrói o João barreiro
Sem material de pedreiro
Usado pra fazer casas
Ele usa o bico e as asas
E o barro, sábio segredo
Para depois cantar cedo
Junto à prenda, sem despesas
-Num momento, de repente
Por força do imaginário
Eu saio do obituário
Séculos depois, um instante
E o chão, indiferente
Quanto a mim, por suposto
Segue fazendo a seu gosto
O milagre que renova
E o velho pátio é a prova
Onde seca e brota o pasto.
Sérgio da Silva Teixeira
BAGÉ/RS/BRASIL.
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