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SEM ONDE NEM QUANDO

Temo o poder
da linguagem que amesquinha
o meu ser qualquer coisa senão morro.

Sou corpo amarrado
num sono desnorteado
ao colo de uma insónia intensa,
transformando-me desconhecido
como os mistérios por desmascarar
nas profundezas do oceano por explorar.

Sinto-me eclipse
nas palavras escritas na luz jusante
do meu caminho de sombras agrestes,
aliadas à agonia do meu sorriso perdido
numa ilha qualquer nas minhas visões insanas.

Arrasto-me fantasma
pelos pântanos de um anel de medo
no pânico do meu olhar enforcado nas vozes
dos meus Anjos da guarda salvos pelo meu choro.

Estrangulo o ar que respiro
vezes sem conta a contas com a solidão
no silêncio das bestas que profanam a sepultura
sem onde nem quando no meu cérebro paranóico.

Fecho os olhos
como quem salta de um abismo
neste escuro que me toca a alma de vazio
matando a cor dos corais que restam neste tormento.

Sou filho do tempo
delirando ao vento como um rochedo
desprezado à beira-mar para receber o infatigável
esmurraçar das ondas vivas nesta face esculpida de dor.

Estendo-me
num lençol de lágrimas,
seco meu sangue até que sucumba a tristeza
que estruma o meu solo e me lava do suor de ódio
que me suja a fé à mercê de uma mão que pede perdão.

Este seria o meu último poema
se o meu lema fosse morrer já neste deserto
de cactos que se lamentam na minha ferida do passado.

Submited by

domingo, novembro 29, 2009 - 00:20

Poesia :

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Henrique

imagem de Henrique
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Título: Membro
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Comentários

imagem de jopeman

Re: SEM ONDE NEM QUANDO

Intenso, sufocante, derradeiro
Uma ferida do tempo, sem onde nem quando que cicatrize

Poderoso
Abraço

imagem de AnaCoelho

Re: SEM ONDE NEM QUANDO

Cheguei ao fim deste poema sem fôlego...inspirado e sublime numa força que marca a leitura...

Brilhante

Beijos

imagem de RobertoEstevesdaFonseca

Re: SEM ONDE NEM QUANDO

Parabéns pelo belo poema.

Gostei.

Um abraço,
REF

imagem de marialds

Re: SEM ONDE NEM QUANDO

Poema contundente, tristeza profunda, um belo traçado.
Parabens.

imagem de MarneDulinski

Re: SEM ONDE NEM QUANDO

LINDÍSSIMO POEMA, GOSTEI MUITO!

CHEGUEI ATÉ A TEMER, MAS QUANDO CHEGUEI A FIM FIQUEI FELIZ COM SUA DECISÃO!
Este seria o meu último poema
se o meu lema fosse morrer já neste deserto
de cactos que se lamentam na minha ferida do passado.
Meus parabéns,
MarneDulinski

imagem de KeilaPatricia

Re: SEM ONDE NEM QUANDO

DESTACO:
"Estendo-me
num lençol de lágrimas,
seco meu sangue até que sucumba a tristeza
que estruma o meu solo e me lava do suor de ódio
que me suja a fé à mercê de uma mão que pede perdão."

PROFUNDO

MT BOM

:-)

imagem de FlaviaAssaife

Re: SEM ONDE NEM QUANDO

Henrique,

Noite, insônia, passado, tormenta...um coquetel e tanto!! Ainda bem que é um poema onde expressas de forma metafórica toda esta agonia em tristeza sentida. Mas, que não seja o último, pois tua poesia não poderia morrer e do passado só nos resta aprender!

abraço

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