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Juramento

Não sou pessoa de jurar, nem pelos vivos nem pelos mortos. Não tenho muitas certezas apesar de ter muitas opiniões formadas e uma quantidade incomensurável de coisas para dizer. Acredito nas segundas oportunidades e nas terceiras, apesar de na minha vida diária me ser díficil perdoar traições, já que não esqueço facilmente, particularmente o que é doloroso. Quando se torna insuportável lidar com tantas vozes na minha mente, apago a luz e fico no escuro, dançando devagar para ninguém, roçando-me nas paredes, como se me estivesse a treinar para dar qualquer tipo de espectáculo. Há sensações que só uma boa noite de sono, daquele bem profundo e entorpecedor, podem curar. A indolência nesse limite temporal pode trazer muita clarividência e levar a decisões acertadas. Há outros estados, porém, que só se dissipam quando nos pomos em marcha numa ginástica física e mental, para oxigenar bem todas as células do corpo e evitar que a mente adoeça.
Não pertenço a nenhuma ordem estática nem tenho uma grande estrutura ou planos muito bem delineados, em filas megalómanas na minha cabeça. Se o fizesse, talvez enlouquecesse em exigências e gritos esquizofrénicos, quando na realidade sei distinguir o que é meu (uma parte ínfima), do que é exterior (mais de 90%). Apesar de ser muito auto-defensiva, rendo-me sempre a uma individualização colectiva, é isso que me tornou mais serena. Vejo aquilo em falho mas não guardo rancores comigo, avanço e construo um novo dia de raiz como se fosse uma arquitecta ou engenheira civil. Equilibro o meu lado de moça de Letras com a pouca Matemática que domino e solto-me, estatelo-me e recomponho-me, imediatamente. Não roio as unhas, angustiando-me pelo que não posso controlar e tempero a minha persona psicótica, nervosa e cheia de ego com aquela que eu gosto: risonha, sempre a brincar e que sobretudo não se leva demasiado a sério. Que sabe entreter os outros, escutar os seus problemas, dar conselhos e se deita todas as noites, com a perspectiva animadora de sonhar com os bebés que quero ter, com uma família enorme, uma mansão no meio do campo, uma praia escaldante e paradisiaca ou simplesmente o rosto inigualável de um rapaz especial. Dou tudo de mim a cada segundo e a consciência disso é maravilhosa.
Talvez devêssemos todos fazer o juramento de Hipócrates, zelar pela saúde dos que estão perto de nós, para o bem duradouro da Ciência e da Humanidade, jurando pela nossa honra e por tudo em que acreditamos, obedecer aos ditames da nossa consciência e dignificar a nossa profissão e a nós mesmos, ao po-la em prática. Talvez hajam mesmo quatro humores corporais: sangue, fleuma ou pítuita, bilis amarela e bílis negra, que nos façam sentir bem ou mal, conforme as quantidades presentes no corpo. Assim, na crença hipocrática formar-se-ia a doença e dor (discrasia) e os estados de equílibrio (eucrasia). Na estrada que percorremos o clima, a raça ou a nossa dieta alimentar não podem ser o essencial; é o ramo da personalidade. Juro então não desistir e deixar-me levar, fascinada pelos sonhos que nunca chegam ao fim.

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quarta-feira, junho 10, 2009 - 17:24

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Paulagouveia

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