Laço de Comunicar

Observamos o mundo. O nosso cerebrozinho ainda em desenvolvimento não nos permite ainda entender bem o que se passa à nossa volta. Somos protegidos como uma rosa numa redoma, mamamos e dormimos. Brincamos, choramos e sorrimos. Belos, inocentes, mágicos. Assim somos nós em bebés. Até que surge a necessidade de nos fazermos compreender e descodificar o mundo imenso, cativante, injusto mas que é tudo o que temos. Precisamos de criar um vínculo profundo, um laço para nos agarrarmos à vida. E como fazemos isso? Aprendendo a comunicar, tornando-nos seres sociais a exprimir razão e afecto, coerência e paradoxo, simplesmente sendo. Podemos comunicar de diversas formas e todas elas são igualmente importantes: através de gestos, olhares, de uma determinada postura, aparência, movimentos de cabeça, proximidade, da forma como falamos e ligamos as palavras entre si para construir um discurso com nexo. Muitas vezes comunicamos mesmo quando não queremos através de pequenos detalhes que não podemos facilmente controlar: o tom de voz a exprimir uma vasta gama de emoções, a velocidade da fala, o registo oral que adoptamos que é como uma radiografia da nossa educação e convivência social. A comunicação é o nosso bilhete de identidade, a nossa âncora de sobrevivência, a expressão criativa de quem somos, dos nossos pensamentos e, em última análise, do nosso coração. O silêncio tem um valor próprio inalienável. Pode significar coisas distintas desde o amor mais absoluto à distância mais profunda. Une e separa consoante a situação, a relação entre as pessoas. A imagem e a palavra são diferentes entre si mas podem complementar-se: um olhar longo e doce com um “Adoro-te” bem como um esgar de rejeição com um “Nunca mais me dirijas a palavra”. Alegram e magoam de igual forma. A comunicação traz consigo causas e consequências, nada do que fazemos é inofensivo ou está isento de juízos valorativos e de moral. Tudo é mensagem, tudo se cria, transforma, comunica e vive. Até a própria morte. Como tal, é preciso cuidado e método na forma como nos aproximamos do mundo. De boas intenções está o Inferno cheio, já diz o ditado. Há que sermos claros, precisos, se não queremos transmitir uma ideia errada; estarmos atentos aos duplos sentidos. A ambivalência pode ser divertida mas não é tão instrutiva como muitos querem fazer crer. E tudo isto é o que sou: as minhas ideias, o meu sangue, o meu instinto. O tempo é precioso e emprego-o assim, da maneira como acho melhor. Comunica, solta-te, encanta-te, revolta-te, deixa a tua marca neste mundo porque sabes que a tua passagem por ele é breve. Escuta, dança, ri, sonha, beija, ama; está ao teu alcance mudares consoante entenderes. Sê como uma borboleta e voa, não temas, não te prendas, ouve a melodia da vida e aprende a cantá-la. Comunica! Deixa-te enredar nas suas maravilhas, nas teias dessa linha que está ao teu dispor. Comunicar vem do latim communicare e designa justamente partilhar alguma coisa com alguém. Põe em comum a tua existência. E vais encontrar-te perdido nos confins entre sonho e realidade, num laço belo, meigo, delicado, suave, indescritível. Porque tudo o que é humano é imperfeito não pode haver uma definição perfeita daquilo que o caracteriza e das suas actividades. Somos demasiado pequenos. Somos mortais. Mas podemos exprimir-nos e abarcar o mar, as estrelas e o sol. O céu e Deus. Num laço talvez frágil e sem dúvida precário. Mas seguramente infinito.