Para um colibri
O que dizer sobre seu olhar? Impenetrável e incorruptível como o das mais lindas flores. De uma profundeza tamanha e de uma identidade única. És linda. De uma beleza sem limites e de uma calmaria tamanha que até os corações mais tempestuosos procuram conforto.
Se amar é isso, então amo-te. Amo-te com um amor sem maldade, com um amor sem intenções diversas. Pudesse, estudaria teus padrões e tua singularidade e compor-te-ia em uma canção e entoaria em minha memória eternamente.
Pudesse, fragmentaria minha essência e me converteria em uma unidade atemporal para poder acompanhar-te, como um ser que vigia aquilo que tanto preza. Notavelmente, percebo que não posso ter-te, mas só a possibilidade de te sonhar me conforta.
Pudesse, colapsaria o tempo e carregar-te-ia para um paraíso intocável e apreciaria todas as curvas de seu corpo e as projeções de sua mente. Confesso-te que ainda não me confortaria. Fixaria meus olhos aos seus, buscando penetrar em sua essência.
És leve e sinuosa como o navegar de um pássaro, porém única na sua diversidade. Teu olhar e tuas palavras soam como uma melodia, como uma projeção indecifrável, mas segura e encantadora.
Como a mais jovial das rosas e a mais misteriosa tem na sua essência um padrão orientável. És tu, aquela cuja essência és intocada. Tão bela quanto a refração e difração de um feixe luminoso sobre um filete de água.
Confesso-te que jamais lhe ofereceria todas as rosas, ou todos os aromas. Procuraria a rosa mais rara e a essência mais frágil e presentear-te-ia. Oferecer-te-ia a constelação mais distante e singular, a constelação mais bela e mais rara. Desenharia no teto do teu quarto um universo e preencheria de estrelas. Pincelaria teu nome com os pigmentos mais raros.
Às vezes demasiadamente me pergunto o quanto durará este sentimento, pois desejo que ele seja eterno enquanto dure. Percebo que vivê-lo não basta, almejo eternizá-lo para contemplar-te eternamente. Então prefiro acreditar que não és humana, que és um sonho. Algo intocável e imprevisível. Não almejo somente sonhar, quero existir junto a ti.
Perfilo palavras e elas, vez por outra impactam em minha interpretação e vejo que tudo posso estar tão perto e às vezes tão longe de ti. Começo a acredita que este deve ser os devaneios de quem ama. Então prefiro acreditar naquela projeção que tive outrora. Você e eu perdidos em um loop temporal, distante de toda realidade humana a contemplar a imensidão do mundo.
Vez por outra perco-me a imaginar tocando sua cintura e embalando-te como se embala um cântico. Percebo que amar já não é suficiente e que um coração temeroso deseja uma companhia eterna. Certa vez disseste-me que no final todo mundo morre. Confesso que percebi superficialidade em suas palavras, notei que o sentimento que há em ti não é tão completo, ou que não acredita em algo longo.
Digo-te, pois, que no final ninguém morre. Que as memórias, assim como a fênix renascem em terrenos nunca dantes navegados. As memórias, as memórias nunca morrem, e nada morre. Não é que algo se tornou despercebido que não existe. O que acontece é que ainda não foi descoberto ou está emparedado na imensidão implacável das memórias.
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