-Lição de Vida- 3º PARTE

Pouco depois Ricardo chegava a sua casa.
Estacionou e saiu do carro. Deixei-me estar dentro.
Ricardo abriu-me a porta rispidamente e pegou-me no braço, obrigando-me a sair.
- “Estás-me a magoar!” – disse.
- “Cala-te! Vê se tens o mínimo de compaixão pela tua mãe. Ali dentro, deixa de ser o traste que te tornaste!”
Os meus olhos tornaram-se trémulos com as suas palavras.
Puxei o braço e ele largou-me.
Entramos dentro de casa.
- “Filha!” – disse-me a minha mãe abraçando-me.
Não correspondi. Afastei-me.
- “Mas que raio de filme é este mãe? O que estás aqui a fazer? porquê é que estás a chorar?” – perguntei á bruta.
O Ricardo olhou-me furioso e com o seu tom de voz disse-me.
- “Modera-te!” – avisou-me.
- “Cala-te!” – ripostei – “E tu mãe, que tens na cabeça para fazer este escândalo, pode-se saber?”
Parou de chorar. Olhou-me como que se desiludida.
- “Disseram-me que tinhas morrido”
- “Não, ainda não. Não há-de tardar, mas para vossa infelicidade” – olhei Ricardo – “Eu ainda não morri, mas não se preocupem. Ando a dar o meu melhor para que tal aconteça rápido, muito rápido” – sorri.
A minha mãe desfez-se em lágrimas.
- “Eu não quero que morras” – disse-me.
- “Não sejas hipócrita mãe!” – disse Joana descendo as escadas com Margarida – “É claro que queremos que morras. Aliás, por mim já podias ter morrido. Serás daqueles casos onde nem sequer o nome haverá na lápide. Ninguém saberá quem és porque não passas de uma vagabunda”
- “Cala-te Joana!” – disse-lhe Margarida – “é a tua irmã!”
- “É bom ver que estão todos bem. Agora acho que vou embora”
- “Espera” – disse Ricardo encostado a um pequeno móvel da entrada - “Quem foi que morreu? No jornal falava-se numa rapariga e na foto haviam duas raparigas, tu e outra”
- “Foi a outra que morreu. Chamava-se Leonor. Tinha 18 anos como eu. Satisfeitos?” – perguntei com a voz trémula.
- “Tu conhecia-la?” – ripostou-me
- “Não te interessa. Desde quando é que te interessas por mim? E agora, vou-me embora porque ao contrário de vocês, eu tenho uma vida para ganhar com o meu próprio esforço”
- “Não sabia que abrir as pernas requeresse assim tanto esforço.” – Disse-me Joana friamente – “Já és profissional nisso. Não há de custar assim tanto”
A mãe mandou Joana calar-se e eu sai.
- “Espera” – disse Ricardo saindo atrás de mim. Alcançou-me e virou-me para ele.
- “Diz”
- “Tu… Tu andas mesmo na vida?” – perguntou-me.
- “Não me faças dizer aquilo que não quero. Não te quero magoar” – acariciei-lhe a face.
- “Porquê é que não deixas a droga Inês? Porquê?” – perguntou-me tristemente – “Tu sabes que te iríamos ajudar a sair dela”
- “A vossa boa vontade não me chega. Admitamos, sou um traste e vou morrer. Agora que se lixe, quando chegar a hora morro. E tanto me dá morrer sozinha numa casa de banho pública ou numa casa grande com todo o conforto”
- “Não dá nada. Eu sei que não dá”
- “Ricardo, porquê é que eu te deixei?” – perguntei