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Por falar em você, qual é vossa mercê?
Com quem estou lhe dando?
Um louco em pele de ordeiro,
um ás do ascetismo
com um titico de cético…
É hora de ouvir muitas e más –
quem com o ferro desfere, agora tá ferrado.
Você não sabe obedecer sem sofrer,
nem mandar ver sem machucar –
não sabe ser bonito sem espinhos…
Toda palavra será no fundo uma agressão?
Teu coração bate no peito sua meia culpa!
Você ama o saber mais do que sabe amar;
faz tanto pelo conhecimento
que se esquece de perguntar
o que o conhecimento pode fazer por você…
Amor não é rua de mão única, meu amor.
Dá a mão, quer logo um abraço.
Mas se pede a mão, dá no pé!
Amor não é passarim de gaiola,
nem nota que se enjaula numa pauta.
Não entende do rabiscado, toque de orelha!
Você decora seu lar
com as cores do inferno
por puro estoicismo de estar
preparado para o pior de tudo?
Os maus hábitos fazem o monstro!
Insiste em bater cabeça dura na mesma tecla:
só não quebra a cara de pau
porque a madeira é de lei.
Faz questão de exibir
uma indiferença tão ostensiva
que não deixa dúvida da sua falsidade.
Conhece-te a ti mesmo significa não te autoenganes!
És teu maior inimigo.
Tudo o que você não tocou é fantástico,
tudo o que já conspurcou, trivial –
depois da posse, o desejo nem tosse.
Mas se segurar demais é poda –
prazer que se amputa não se desfruta nem se refuta…
Você sempre apreciou apreciar as coisas:
tudo que pairava em tua visagem
logo virava paisagem –
cadê a mira dessa miragem?
Tanto incensou o altar
dos seus deuses de bolso
que então todo o panteão
caiu tonto de montão.
Tão desastrado que derruba
tudo que é sagrado: ideal e ideologia,
amor e moral, arte e religião…
Tem tudo que é recaída,
então vê se cai na real:
cada queda te vacina,
não vê que te vitamina?

Se acha um Arturo Bandini,
mas releia suas frases de efeito:
só um ateu pode ter fé,
a crença é oposto da fé –
heresia que soa até meio mantra;
os ciclopes, tendo apenas um olho,
não podiam ver em profundidade –
a síntese da sua iniciação científica;
o preço é o tamanho econômico
das coisas e dos seres – uma obviedade;
em terra de cego, quem tem um olho
vê cada absurdo – sem comentário;
o que realmente importa
não precisa ser escrito,
nem merece que o seja –
boas desculpas, uma melhor que a outra.
Quer entrar para a história da literatura,
e que depois da tua morte
os editores arranquem-se
os cabelos raros
por não terem auferido mais cedo
e as crianças nos colégios
possam ver tua foto e sejam
obrigadas a decorar teu nome completo,
o da obra prima, o da cidade
em que você nasceu, as datas
de nascimento e de óbito!
Quanta glória, bens adeus!

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Saturday, December 19, 2009 - 21:21

Ministério da Poesia :

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