VONTADE DE CHORAR
A solidão que procuro em mim, é uma escalada falsa e fria. Tal Outono se espalhasse
escuro no cinzento das palavras ácidas de dizer, doces por dizer, friamente ditas, eruditas.
É tinta que não pinta, que não se move, morta. Tal Afrodite deixasse de ser Deusa e o amor uma árvore de mármore, lágrimas.
É tinto que não embriaga a sede do sentimento. Tal lume sem fogo soltasse fumos de paixão enjoativa, noites escaladas qual gume me beijasse.
É barriga sem boca onde ressona a fome de ser borbulhaço, medramente tóxico num frasco de memórias fora do seu prazo de validade, fora de mim vísceras rudes.
O silêncio que procuro em mim é um vento que me esculpe na poesia cumes perfeitos sem formas, depurado.
É peso que não pesa na balança do grito acontecer, ontem silêncio, hoje ruído, amanhã não sei.
É amar de qualquer maneira o que se ama num destino espumante, embebido em bagaço destilado das pétalas das rosas, floresta, aresta de ódio.
É voz pouco falante no decote da noite que nos come os olhos. Tal lua fosse as mandíbulas de um tubarão, o serão frio de um pio sem fonte.
É cetim áspero que alimenta a vontade de chorar, a vontade de morrer, de morar em nenhures. Tal água não molhasse o rosto.
A verdade que procuro em mim é uma tábua de sol que me ajuda a caminhar sobre os lodos do passado. É janela aberta aos obstáculos que perfumam o dia-a-dia com pólen que nos encoraja o ego, que abre o abismo.
São horas escravas de um geleia demorada no pensamento aquando um olhar estranho nos alarma aromas doces e acres, amar.
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 2448 reads
Add comment
other contents of Henrique
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Aphorism | BEM VISTO | 0 | 6.275 | 01/15/2015 - 15:36 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | DESTRUIÇÃO | 0 | 716 | 01/13/2015 - 21:56 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | CALMA | 0 | 1.969 | 01/13/2015 - 14:13 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | QUE VIDA ME MATA DE TANTO VIVER | 0 | 1.006 | 01/12/2015 - 21:18 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | SEM AUSÊNCIA | 0 | 1.988 | 01/12/2015 - 18:03 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Pior do que morrer, é não ressuscitar... | 0 | 2.805 | 01/11/2015 - 23:04 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | CHOCALHO DE SAUDADE | 0 | 1.381 | 01/11/2015 - 17:30 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | GRITO QUE AS MÃOS ACENAM NO ADEUS | 0 | 1.982 | 01/11/2015 - 00:07 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | SOVA DE ALGURES | 0 | 1.168 | 01/10/2015 - 20:55 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | SORRATEIRAMENTE | 0 | 1.571 | 01/09/2015 - 20:33 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | SILÊNCIO TOTAL | 0 | 1.840 | 01/08/2015 - 21:00 | Portuguese | |
Prosas/Terror | FUMAR É... | 1 | 5.700 | 06/17/2014 - 04:23 | Portuguese | |
Poesia/Love | COMPLETAMENTE … | 1 | 1.872 | 11/27/2013 - 23:44 | Portuguese | |
Videos/Music | The Cars-Drive | 1 | 2.319 | 11/25/2013 - 11:52 | Portuguese | |
Poesia/Passion | REVÉRBEROS SÓIS … | 1 | 1.955 | 08/15/2013 - 16:23 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | AS ENTRANHAS DO SILÊNCIO … | 0 | 1.371 | 07/15/2013 - 20:37 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | TIQUETAQUEAR … | 0 | 2.312 | 07/04/2013 - 22:01 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | AMOR CUJO CARVÃO SE INCENDEIA DE GELO … | 0 | 2.422 | 07/02/2013 - 20:15 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | ONDE A NOITE SEMEIA DESERTOS DE ESCURIDÃO … | 0 | 1.859 | 06/28/2013 - 20:58 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | ESCOLHO VIVER … | 1 | 2.106 | 06/26/2013 - 09:42 | Portuguese | |
Fotos/Art | Se podia ser mortal? | 0 | 4.172 | 06/24/2013 - 21:15 | Portuguese | |
Fotos/Art | Um beijo com amor dado ... | 0 | 2.778 | 06/24/2013 - 21:14 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | AZEDAS TETAS DA REALIDADE … | 0 | 1.648 | 06/22/2013 - 20:36 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | FAÍSCAS NA ESCURIDÃO … | 0 | 2.815 | 06/18/2013 - 22:52 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | QUANTO BASTE … | 0 | 1.572 | 06/10/2013 - 21:23 | Portuguese |
Comments
É cetim áspero que alimenta a vontade de chorar
Revi-me nas palavras que são arte das suas... o deleite poético
que encerra, o monstro sagrado do seu génio!
Fico à espera do seu livro e da sua alma gémea, amando as letras
como se um filho de Deus se tratasse no seu trono.
Abraço.
Um verdadeiro testemunho
Um verdadeiro testemunho artistico e uma visão melodiosa da vida... bela mas, por vezes, triste....
Parabéns pelo excelente texto!