O CIO DO POEMA
Enquanto a lua
entretém a noite com bailes
de pé descarrilado, fixo os lábios
do pensamento ao beijo do silêncio.
Passam-me as horas em transe, caladas.
O cintilar das estrelas quebra-se em raios quietos.
Raios em torpor estouvado
que se alastram em multidão na chuva dos meus olhos.
A madrugada é o meu lugar, porto de abrigo do meu estar.
Da noite saboreio o ninguém das palavras,
dela sinto a distância intransitada do amor.
O instante da noite apregoa o cio do poema.
Em grito leve,
desliza como a primeira chuva
do fim do Verão em rostos lambuzados de solidão.
As tintas da noite
são afago de ausência ao chão do horizonte.
Norte de visão toante na sombra da aurora decomposta.
Meus passos são pétalas da noite,
meus joelhos são espinhos de ser deserto
em mar de esperança nas ilhas das mãos que não tenho.
À noite, a minha voz é flor posta em solo de fantasia,
meu corpo é um copo de vinho adormecido ao colo do infinito.
É a noite a luz enorme
que em mim dorme em ventos doidos,
ventos que de dentro das árvores trazem
a primavera aos meus braços, o fruto à minha boca.
Braços que durante a noite
são ramos pardos de impaciência
onde o sorriso da vida pousa, onde a sede morde.
Noite é o meu nome
quando os nervos do tempo
me chamam pisá-lo em fome de o parar.
A noite é o cais da minha alma,
o caos que me aduba o corpo com desejos clandestinos.
Quando a noite chega,
a manhã é um novelo de destinos,
uma colmeia de sois voando os séculos dos meus sonhos.
Se conheço a noite, sou eu.
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"À noite, a minha voz é flor
"À noite, a minha voz é flor posta em solo de fantasia,
meu corpo é um copo de vinho adormecido ao colo do infinito."
À noite, a noite onde o "eu" se despe...