Despido de tudo quanto sou...
Andei distraído procurando o que não via
Nem vejo, visto que sou pequeno,
Viro o rosto pra de onde venho
E não pra onde fui posto,
Vejo nas estrelas o rosto,
Não da morte mas do oposto, da vida
Pra'lém do percurso que fui, fiz nesta Terra
Outrora bela, soberba ...
Outrora viva,
Andei por aí buscando o repouso,
Não via nem vejo, a fonte do limo,
O álamo esguio,
O negrume do teixo, da terra preta o apelo,
Das folhas mortas,
Abdiquei de ser rei,
Pra ser jardineiro "por conta própria",
Sem reino nem terreno pra arar,
Podei as rosas dos quintais dos outros
E observei pardais nos ninhos,
Nas sombras os olivais dir-se-iam deuses mortais,
Não contei quantos, mas muitos, muitos.
Há muito que desejo desertar,
Mas as pernas na beira da estrada,
Estão sempre fora de mim e o meu coração ... lento,
Lento não dá pra fugir por aí de rastos
Admito não ter dormido todo o tempo do mundo,
Mas mesmo assim penso como se fosse madrugada
E domingo, cada vez que me levanto
Sem vida e me mudo pro outro lado da cama,
Na mesma fronha que uso desde que vim ao mundo,
Sinto um ritual de vencedor num corpo derrotado,
O que muda são apenas os sonhos que persegui
Sem sucesso ao longo do tempo
E ainda sonho sonhos que não sigo,
Acatei a derrota,
Sinto um ritual de vencedor nas asas
E nas pernas o símbolo das coisas
Que me pegam ao chão terreno,
"Rocket-man", visto que
O meu território é de ar,
Balouço-me na fronteira do tudo e do nada,
Qualquer um desses reinos me conforma,
A memória passa sem se ver, sem se dar
Sonhar é não estar presente em nenhum Destes países
Pra sempre,
Duvidar é dar liberdade ao voo ...
O plano é adormecer descrente,
Desnudo de tudo o que sei,
Despido de tudo quanto sou.
Jorge Santos 11/2018
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