Deus Ex-Machina, “Anima Vili” ...

Deus Ex-Machina

O que passou está pensado segundo um acto de procrastinação, nem sei quantas vezes eu penso que nada sei, não tenho passado, nem vêm a mim, senão expressões vazias de alucinado, as quais reparto ambiguamente comigo mesmo por enquanto e eu próprio me encanto se me ligam e à minha alma com as flores secas e sem a fé dum cavado duro chão, indiferentes também elas, tal a estranheza da minha escrita em pobres letras, quantas vezes ausentes de nobreza, quantas vezes incoerentes.
Estou cansado de ter desejos, a minha cura será uma viciada infanta, abatida entre duas luas cheias, acima da linha de cintura, culpo-me do desejo que é tê-lo ou talvez não, tal como a uma rainha dói, dividida entre o céu e a sorte que a partiu em dois na memória, eu nunca soube quem ela foi, nem me decido em que sombra ela agora está…
Quantas vezes eu peço tornar-me de repente sóbrio, quanto a luz do dia ao sol da meia tarde e a vida real, uma janela aberta, com passagem para o presente e não papel manchado, num canteiro devoto, esquinas sem arte, contempladas à distancia, numa revolta sem batalha, impotente tanto quanto flores sem bainha, nem chão nem rainha, mesmo de “faz-de-conta”, que invoquem o sol pondo-se numa taça, ao divino que não se manifesta sob um azul de céu manso…
Eu hei-de um dia descobrir o que digo quando escrevo, meus olhos nasceram em greve, meu entendimento é breve e leve, quanto um cometa inédito, segue e some, some e segue, assoma-me a loucura quando escrevo, assola-me o que digo e quando o faço, assemelho-me a um louco, sendo ele, eu próprio noutro…noutros longos mundos.
Cresce mais alto em mim o que digo do que o que penso, o coração faz peso pra um lado, embora procure o equilíbrio do perfeito, desabo na sátira de mim próprio, será a poética o caminho certo, estando eu do lado errado ou estando certo, do lado oposto a cada estado de alma que, estéril, eu protagonizo, – digo apontando para o outro lado do espaço pra esses longos mundos – e penso, qual a função do mecanismo de Deus, que é o sentirmos-nos dele viúvos e se a fúria do sonho provém da alma.

“Anima Vili”

«O adjectivo é a tinta que esmalta a frase, é o colorido que lhe imprime tonalidade. Tanto que a excessiva adjectivação torna o estilo berrante, pejado, à guisa de tela em que a derrama e copiosidade de tintas acaba por empastar o motivo. (…)»

* Carlos Góes -Filósofo

Exagero nas berrantes adjectivações, igual a um colorido Confúcio, quase me crescem paulatinamente da boca o verde e na mente amarelo-laranja, na tentativa pura, derradeira, louca e boçal, de colar algo magnífico e orgânico como plasticina com pasta de dentes e nas palavras que não pegam, nem se agregam, quer seja por conceito mágico ou preconceito antropológico biológico, físico, moral ou estético, claudicando mesmo nas mesquinhas e ancestrais crenças religiosas e da sinceridade sincera, nas manifestações de insustentabilidade da realidade monogâmica, apesar destas serem colaterais, por motivo de intratabilidade significativa e genética da arte, gera-se uma discórdia entre dois polos, o princípio do coeficiente imponderável no peso dos pensamentos, versus o valor argumentativo do significante real e físico e a percepção parceira dele, assim é a nossa escrita poética, se nos maravilha e cria um túnel de luz, numa evidente trajectória iluminativa lúcida, súbita e estonteante, logo vêm contrastantes, berrantes, os cínicos passear lentamente investidos de critérios pouco relojoeiros e sofistas, os quais vêm, têm na nossa perfeita imperfeição a razão fractal da suas sublimes e cientes existências curvadas, ao sentirem numa dor de dentes um valor rítmico, sintomático e inestimável patético ou artístico fora do plano equatorial terrestre e antropozoico.
Quando é o oposto e o contrário,como agora, que me abandonou a inspiração criativa e um poço/túnel vertical é escavado na parede perpendicular e no escuro do material mineral mais rochoso e negro, cor do azedume ou num paiol, onde murcham os afectos como organismos mortos, sem visão, condenados à extinção, como espectros sem missão e manifestações lamentáveis da nossa incurável, animalesca “anima vili” no Ateneu eucarístico e xeno-comercial dos delegados estéticos estóicos, da infeliz praça lúdica, conspurcam-nos efectivamente como meros organismos simbólicos, simbióticos e sem grau, numa escala progressiva decrescente, desevolucionista e catatónica por eles incestuosamente contaminada e esterilizada da semântica poética, vital e ancestral …
Pairam dualidades sobre nós, quer sejam num futurismo de Atenas, na eterna folha de laudia prata ou então no receio do martelo dórico de ferro gordo e a dor do nó Gregório, no falso palanque ou no estrado de madeira podre, baço como uma cidade de fuga, bastante difusa, perseguidora e persistente, castrante e aberrante, segundo a figura indelével no mapa de Plometeu-o Grande, de Alexandria .
A arte não tem sexo definido nem sufixo, nem podem ser um estorvo, as palavras terminadas em “eu existo” e insisto pois de nada serve senão no sonhar de um apático, sendo o ser humano, de uns metros quadrados curtos e apenas ou uma caixa redonda, vazia, sem enredo dentro, nem fósforos secos que acendam um húmido rastilho, ou outras “cenas” crípticas …

Joel Matos 10/2019
Http://joel-matos.blogspot.com

Berrante

Submited by

Miércoles, Enero 8, 2020 - 10:44

Poesia :

Su voto: Nada (1 vote)

Joel

Imagen de Joel
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 6 semanas 3 días
Integró: 12/20/2009
Posts:
Points: 42009

Comentarios

Imagen de Joel

Obrigado pela leitura e pelos momentos que partilho

Obrigado pela leitura e pelos momentos que partilho

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Joel

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Ministério da Poesia/General Vivo do oficio das paixões 1 1.725 06/21/2021 - 15:44 Portuguese
Ministério da Poesia/General Patchwork... 2 1.925 06/21/2021 - 15:44 Portuguese
Poesia/General A síndrome de Savanah 1 2.405 06/21/2021 - 15:43 Portuguese
Poesia/General A sucessão dos dias e a sede de voyeur ... 1 1.778 06/21/2021 - 15:42 Portuguese
Poesia/General Daniel Faria, excerto “Do que era certo” 1 1.510 06/21/2021 - 15:41 Portuguese
Poesia/General Objectos próximos, 1 2.517 06/21/2021 - 15:40 Portuguese
Poesia/General Na minha terra não há terra, 1 1.550 06/21/2021 - 15:38 Portuguese
Poesia/General Esquecer é ser esquecido 1 1.469 06/21/2021 - 15:37 Portuguese
Poesia/General Perdida a humanidade em mim 1 884 06/21/2021 - 15:37 Portuguese
Poesia/General Cumpro com rigor a derrota 1 947 06/21/2021 - 15:36 Portuguese
Poesia/General Não passo de um sonho vago, alheio 2 865 06/21/2021 - 15:36 Portuguese
Ministério da Poesia/General A sismologia nos símios 1 1.044 06/21/2021 - 15:35 Portuguese
Ministério da Poesia/General Epistemologia dos Sismos 1 1.316 06/21/2021 - 15:34 Portuguese
Ministério da Poesia/General Me perco em querer 1 1.350 06/21/2021 - 15:33 Portuguese
Ministério da Poesia/General Por um ténue, pálido fio de tule 1 1.201 06/21/2021 - 15:33 Portuguese
Ministério da Poesia/General Prefiro rosas púrpuras ... 1 840 06/21/2021 - 15:33 Portuguese
Ministério da Poesia/General A simbologia dos cimos 1 1.212 06/21/2021 - 15:32 Portuguese
Ministério da Poesia/General Pangeia e a deriva continental 1 2.150 06/21/2021 - 15:32 Portuguese
Poesia/General Minh’alma é uma floresta 1 780 06/21/2021 - 15:31 Portuguese
Poesia/General O lugar que não se vê ... 1 812 06/21/2021 - 15:31 Portuguese
Poesia/General Meus sonhos são “de acordo” ao sonhado, 1 1.022 06/21/2021 - 15:31 Portuguese
Poesia/General Apologia das coisas bizarras 1 939 06/21/2021 - 15:30 Portuguese
Poesia/General Gostar de estar vivo, dói! 1 686 06/21/2021 - 15:30 Portuguese
Ministério da Poesia/General Os Dias Nossos do Isolamento 1 1.322 06/21/2021 - 15:28 Portuguese
Ministério da Poesia/General Permaneço mudo 1 1.163 06/21/2021 - 15:28 Portuguese