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Palavra nua e crua

A janela é espreitada pelo claro olho do sol
As horas lançam suas mãos contra o meu desejo
O céu mostra sua face aguda impressionista
Sou um mendigo a pedir esmolas
Mendigando por uma letra
Uma letra nua e crua.

Busco no mato a minha morada
Nas folhas de seda púrpura
Das gramíneas
Estive no tempo
Sem uma casa para esconder meus roncos de metal
Nem quero respirar telhas e tijolos...
Fora isto, estou sob o teto do mundo!

A solidão caminha de mãos dadas com o sentido
Pelo campo do inteligível

Vi os humanos-vagalumes numa Sexta Feira da Paixão
Segui na contramão daqueles rostos de fantasmas.
Eu sou o susto da humanidade sitiada
Maré negra deste asfalto quente
Praias sarjetas para curar a ressaca deste mar

Maravilhas nascidas em meio à embriaguez da Terra
Muralhas nascidas em meio aos ideais forjados
Enxugamos nossos rostos nesta gusa
Na siderúrgica catalã das tempestades elétricas
Na voluta do dom escarnecido pela máscara de ferro
São ossos na terra da comunidade de germes.
Olhei para o rosto do céu
O céu olhou para o meu rosto
E pariu em minha face, a garoa recém nascida.

Enlaço-me na forca de meu perdão
Na pedra que ao cume
Minha confissão culmina

O luto do intelecto é profano profundo
Louco sentimento pouco
Tão rouco
Coração calabouço

Seria blasfêmia escrever “sobre” a poesia de outros poetas?
A poesia trai e esfola quem a escreve
O seu habitat é selvagem incandescente
É a metamorfose dum grilo em seu ruído

Quero ser órfão
Por tornar-me órfão

Aquela cria criatura grita com medo
De ter no mundo em seu véu transparente
Num beijo esférico de ondas fortes
Corre o risco de apossar-se da saliva dum parente
Num ato incestuoso

Ares velejados pela garça esfumaçada
Entregue ao lamento lamúria

Não quero a riqueza dum metal meticuloso
Quero a divindade acessa em meu encéfalo
Dia divino fino sino
Na badalada da meia-noite
Noite fria calada dopada alcoolizada
Da criança crescida presa ao cordão umbilical

Nossa! A garota levou até sua boca a alma
Alimentando-se de um breve pensamento
Preso na prisão do corpo

Vasto fechar de olhos
Pesada tonelada no abrir
Liberdade impossibilitada pelo silêncio

Estou a ouvir seus segredos
Minha dor! Ah minha dor...
Potencializada pela falta de comida da carne
Na sucumbência sucção de um gemido

Os corações quebrados gritam
Chamando para perto o sofrimento

As lágrimas secaram após a grande seca do sertão
O tempo ainda continua árido

O amor não tem importância alguma
A tristeza não tem choro
E estamos cada vez mais viciados por ela

O talo da flor soltou-se
Na escondida vida minha
De flor desprendida

Liderança constância
Constância liderança
Na dança chama
Acesa no meu peito
Impudico querer
De não fazer o que me mandam fazer
Nem de fazer o que devo fazer

As máscaras dos dias hão de cair

As pessoas queimam suas peles
Como plásticos derretidos
Em gotas quentes pingadas no chão

Seus cílios grudarão na pele
Até emperrar sua visão
Grimpada escuridão da cegueira

Minha vida desprendeu de meu galho
Para tirar sarro da minha cara lá de cima
Atrás das nuvens.
No céu as nuvens são montanhas brancas
O azul depois dela é o oceano universo

Invento uma nova forma de sofrer
A cada minuto sou capaz de reinventar
Um novo sofrimento

Âmbar espalhado pelo ar racional
Deleitável ideia constrangida
Num pórtico pescoço rígido

Pegue a espingarda
Coloque-a no ombro
Atire pra valer
Até atingir o alvo
Que está escondido dentro daquele ouvido
Tente a munição palavra mira telescópica
No sacrifício do pensamento santifiquei a palavra
Disparada boiada de infinitas sensações
Explodindo dentro do meu sacro peito...
Alguém um dia disse
Com a cabeça afogada
Que a esperança é a última que morre,
Mas morre...

O espectro jovem nu
Tenta fugir do obscurantismo
Estigmas fervescentes em tua alma

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terça-feira, dezembro 29, 2009 - 16:51

Poesia :

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Alcantra

imagem de Alcantra
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Comentários

imagem de MarneDulinski

Re: Palavra nua e crua

LINDO FORTE E LONGO, MARCA MUITO NOSSA IMAGINAÇÃO!

FELIZ AO NOVO DE 2010, COM MUITA PAZ E POESIA!
Marne

imagem de cecilia

Re: Palavra nua e crua

É muito bom ler tuas palavras e verdades que faz ouvir-se em quatro cantos, proferir o improferivel.
Guia de terras desconhecidas, mar agitado em borbulhas alucinantes. Densidade sem razão profundidade bem medida. Alvo que um dia terá que ouvir

Abç
Cecilia Iacona

imagem de RobertoEstevesdaFonseca

Re: Palavra nua e crua

Ótimo poema.

Parabéns,
um abraço,
REF

imagem de Anita

Re: Palavra nua e crua

Grimpada escuridão de nossos corpos e espíritos atordoados por um sempre mais e querer, colocamos-nos cegos perante a grandeza de ter e ser o que deveras não seremos.
Surpreendo-me a cada vez que leio-te, só em tuas palavras a profundidade liberta-se.

És obviamente favorito.

Cumprimentos, Anita.

imagem de FlaviaAssaife

Re: Palavra nua e crua

Alcantra,

Texto forte e denso, mas que grita verdades em palavras descritas... Revira o peito e grita...

"Impudico querer
De não fazer o que me mandam fazer
Nem de fazer o que devo fazer

As máscaras dos dias hão de cair"

Sim... as máscaras sempre caem... Mas ainda assim acredito na esperança, para mim ela jamais morrerá...

Abraços

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