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Paragens
Há uma paragem em que o autocarro chega sempre adiantado, onde ninguém conhece ninguém.
Jogas um corpo sem rosto numa qualquer cama fria, acabada de fazer com lençóis que cheiram a espaço entre os ponteiros do relógio, tens pressa.
São em teus braços apenas reflexos que algemas à cabeceira da cama.
Não queres saber de palavras, flores, sequer de amores, não te interessa.
Finges um beijo esquecido nos preliminares entre as roupas já despidas, sem jogo, sem sedução, sem tempo.
Tesão seco é o que dispensas ao horário que tens tabelado.
Desbravas carícias com os olhos fechados ao sexo que te da de comer.
Descartas um toque inseguro, nos retoques do risco dos teus olhos e sentes-te a ti mesma, ignorando a mão que te puxa o cabelo.
Montas as tragédias de alguém e foges num trote apressado por entre gemidos de impaciência.
Abres as pernas à frustração do ser e pares indiferença, vens-te num grito superficial de calor glaciar.
E esqueces a cara, as mãos que não sentiste, os olhos que nem sequer fixaste, pois já passou tempo, do pouco tempo em que os olhaste pela última vez, a última vez.
Deixas a água, que jorra fumegante do chuveiro escorrer pelo corpo, aquecer-te a pele e ferves pelas tuas mãos, como não ferveste antes.
E abres a porta.
E sais.
Não voltas mais.
Naquela paragem em que o autocarro chega sempre adiantado, ninguém se vai lembrar de ti.
Nuno Marques
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Poesia :
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Comentários
Re: Paragens
Um belo roteiro de como não deve ser...
Muito bem escrito, como sempre.
Beijos enormes e com muito carinho.
Re: Paragens
Um momento único de leitura.
Não sei se é por ser fim de semana, e saber que não vou ter tempo para me deitar assim, meio descontraída e amar sempre sem pressas e sem nada que ma faça abstrair de nós (eu e ele) nos lençóis debruados a ouro e cheiro de jasmim
Divaguei, porque me deixou sem palavras para comentar. Hoje não
Admirável a sua escrita
beijos
Matilde D'ônix
Re: Paragens
Eternas paragens de um momento, aquele momento outrora importante, banalizado agora por falta de tempo… ou demasiado tempo.
Importante reflexão sobre um assunto demasiado importante!
Beijinho
Carla
Re: Paragens
É bom ler quem sabe lidar com as palavras...
Texto fantástico, Nuno!
Abraços fraternos, Robson!
Re: Paragens
A cumplicidade dos cheiros, o cruzar de olhares languidos, a introspecção das mãos que se acariciam, por vezes são esquecidos num momento que se deseja sublime...quando dois corpos se amam, quando dois corpos se perdem...no tempo...
Gosto de ler teus poemas:)
Bjs
I