Já por detrás do bugio

Se tu partisses assim meu anjo…
Como nessas prosas que escritas banham calçadas a chorar.
A espuma da tua vaga inundaria meus olhos como um dia de adeus.
Se ao acaso assim partisses, me partisses, em fragmentos invisíveis que ocultasses em pedaços a medida do que fomos, nem papel restaria para escrever o luto dos dias que chegariam sem existires.
Preferia ser trocado, por um homem, por um bicho, por um romance de amor, que assistir a esse nada, onde trocado por nada, fosses só vazio e dor.
Se tu partisses assim meu anjo, no infinito desse trânsito que transversa tempo eterno em migalhas de já não ser, esconderia os teus retratos, ia esquecer os teus abraços, não lembrar o te perder…
Vira o disco que é vinil…
Mil novecentos e praia imensa sentada na esplanada em pose de self-service.
Admito que te sentavas indiferente e soberba patroa desse nariz que me cheirava a Agostos e me emboscavam para te ter.
Não me lembro de metade, mas ficou o que interessa, das sete da tarde em fuga quando sol mergulhava já por detrás do bugio…havia um tipo ou sei lá quem que tocava Led Zeppelin ao fundo dos teus olhos.
Eu com um arfar cardíaco a tremer quase apagado quando me deste o lume dos teus olhos em concerto.
Há momentos em que a musica toca quase maravilhas a extasiar milissegundos, que a sinfonia das tuas ancas me passavam quase ao lado sem atingir que era comigo.
Lá estavas, como um bilhete de lotaria em que eu era a terminação e tu a sorte grande.
Andava à roda à quinta-feira quando acertei no número da tua pele bronzeada.
Tenho memórias dispersas desse ano com doze meses todos chamados Agosto…
As matinés no Crazy Nigths, as Claúdias e as Patrícias da avenida de Roma naqueles sofás vermelhos a fumarem Cartier, os Paulos e Migueis a segurarem balcões com tijolos nos pés e olhares de Marlon Brando na dança da imperial como tios militantes a amargarem a tesão do verbo que lhes falhava.
Desse Agosto ao que me lembro saiu um par de quatro…
Eu e tu ao fim da tarde, que capitulava em brancos no Gingão, a fumarmos madrugadas cálidas de um bairro alto com cheiro a praia…
O Rui e a Cristina que cheiravam noites brancas e bolas de cristal no delírio concentrado em pacotes no meio do Frágil.
Se tu partisses assim meu anjo…
As calçadas suspiravam, corpos de Agosto cansados, embalados pelas ondas no cacau da ribeira, aquelas pensões baratas que descobríamos nos trocos á troca de amanhecer abraçados um ao outro.
A feira da ladra e tu e os discos da Janis Joplin sem o Mercedes do Rui desfeito na marginal, eu com os álbuns dos Stones sem as pedras da Cristina no cemitério dos prazeres a ouvir os Led Zeppelin!
Havia um tipo ou sei lá quem que tocava lá na praia, frágil e concentrado as ondas dos Agostos, as gaivotas enlouquecidas, tempestades encrespadas, baías silenciosas enquanto me davas lume…
Noites brancas no meio da estrada, desforradas em sangue, cristalizado no delírio da viola do Rui que imitava o Jimmy Page…
Brancos vomitados em notas de agonia do teu choro bronzeado mil novecentos e praia imensa com lágrimas nos prazeres.
Eu com um arfar cardíaco a tremer quase apagado quando me deste o lume dos teus olhos em concerto.
Há momentos em que a musica toca quase maravilhas a extasiar milissegundos, que a sinfonia das tuas ancas me passavam quase ao lado sem atingir que era comigo.
O Rui entristeceu e enlouqueceu na areia de mil novecentos e praia imensa quando a musica parou e o Agosto se foi embora…
O concerto das nossas vidas continua bronzeado como tatuagens de suor fecundados no presente…nunca soube tocar viola…
Vira o disco que é vinil…
Se tu partisses assim meu anjo…
Como nessas prosas que escritas banham calçadas a chorar.
A espuma da tua vaga inundaria meus olhos como um dia de adeus.
Se ao acaso assim partisses, me partisses, em fragmentos invisíveis que ocultasses em pedaços a medida do que fomos, nem papel restaria para escrever o luto dos dias que chegariam sem existires.
Preferia ser trocado, por um homem, por um bicho, por um romance de amor, que assistir a esse nada, onde trocado por nada, fosses só vazio e dor.
Se tu partisses assim meu anjo, no infinito desse trânsito que transversa tempo eterno em migalhas de já não ser, esconderia os teus retratos, ia esquecer os teus abraços...
Para não lembrar...o te perder.

Submited by

Wednesday, February 3, 2010 - 00:33

Poesia :

No votes yet

Lapis-Lazuli

Lapis-Lazuli's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 10 years 35 weeks ago
Joined: 01/11/2010
Posts:
Points: 1178

Add comment

Login to post comments

other contents of Lapis-Lazuli

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Aphorism Adeus 6 747 03/04/2010 - 13:01 Portuguese
Poesia/Love Mesmo que o amor morrer 7 1.069 03/03/2010 - 11:19 Portuguese
Poesia/Intervention Prémio Nobel 4 648 02/28/2010 - 20:55 Portuguese
Poesia/Meditation Por todas as manhãs nascidas 2 622 02/28/2010 - 02:16 Portuguese
Poesia/Meditation Rosa de Istambul 2 918 02/27/2010 - 03:22 Portuguese
Poesia/Dedicated Até cair 2 843 02/25/2010 - 02:18 Portuguese
Poesia/Intervention Cravado de fogo 2 959 02/25/2010 - 02:15 Portuguese
Poesia/Aphorism Afinidades 3 885 02/23/2010 - 20:43 Portuguese
Poesia/General Tens um granda par de mamas 6 1.407 02/23/2010 - 19:39 Portuguese
Poesia/Aphorism O principio do esquecimento 2 841 02/23/2010 - 13:32 Portuguese
Poesia/Intervention Para no fim desembocar num sopro 3 813 02/21/2010 - 18:04 Portuguese
Poesia/Intervention Partitura perpétua 1 607 02/21/2010 - 01:36 Portuguese
Poesia/Love O outro lado do mundo 2 931 02/18/2010 - 01:52 Portuguese
Poesia/Aphorism Sombras chinesas 2 1.195 02/17/2010 - 19:03 Portuguese
Poesia/Intervention "Memória das minhas putas tristes" 3 1.463 02/15/2010 - 11:23 Portuguese
Poesia/General De crua voz 5 796 02/15/2010 - 02:15 Portuguese
Poesia/Dedicated Aquele abraço 4 1.624 02/14/2010 - 00:51 Portuguese
Poesia/Dedicated Das tuas lágrimas me fiz rio 4 565 02/12/2010 - 21:57 Portuguese
Poesia/Aphorism O cancro que tinha um homem 3 1.062 02/12/2010 - 03:34 Portuguese
Poesia/Intervention Amor assassino 3 838 02/12/2010 - 00:07 Portuguese
Poesia/Passion Missa de corpo presente 2 1.074 02/11/2010 - 02:45 Portuguese
Poesia/Dedicated Vagas moribundas 3 890 02/09/2010 - 17:32 Portuguese
Poesia/Love Independência 1 593 02/08/2010 - 02:07 Portuguese
Poesia/General Corrente alterna 3 880 02/07/2010 - 23:30 Portuguese
Poesia/Love Se voltares 4 674 02/07/2010 - 18:18 Portuguese