Resistência e rasgo

    Não te tem sido fácil, bem sei. Nem nada, nem nunca, o é. Mas, de alguma forma, 

consegues fazer com que o pareça. Ensina-me essas palavras mágicas que usas 

vezes e vezes sem que nunca se gastem. São muito mais poderosas do que estas 

que sinto e escrevo.

   O discurso sobre o estado da nação que a empresa te pediu para ontem. Feito, 

corrigido e entregue. O miúdo que acordou com chichi. Lavado, incentivado e a 

dormir. Os restos mortais do jantar. Separados, encaixotados e despachados para 

o frigorífico na esperança de uma ressurreição. A miúda que se pintou a ela. aos 

espelhos e azulejos da casa de banho, com os teus batons e outras tintas de 

interiores. Tratada por "você" enquanto limpava, perguntando porque sorrias e 

mandada para a cama sem o copo de leite que a tradição manda. E depois, claro, 

ainda eu.

  Pois, eu; bom, eu tento. E este tento nada tem de fugídio, tu sabes. Estou ao teu 

lado, aqui um passo à tua frente, ali um atrás de ti. Mas sei, sei-o mesmo, que 

não sou eu o maratonista.

  A mim, o rasgo. A ti, a resistência.

 Gosto de te observar assim, deitada, serena, tranquila. Por favor não acordes. Gosto 

de sentir que não ouve o turbilhão do ontem e que a tempestade do amanhã 

demorará a chegar. Só aqui, na ressaca das minhas madrugadas de escrita, quando 

me deito ao teu lado, isso se torna possível.

 Estou-te profundamente grato pelo que me dás, pelo que me deixas dar-te e, até, pela 

consciência do que nunca te serei capaz de dar.

 Para rasgo e resistência ou resistência e rasgo não está mal, pois não.

 Não respondas. Peço-te, descansa.

 

http://istodeseserhumano.blogspot.com

 

 

 

 

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Monday, December 12, 2011 - 21:31

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José Sousa

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RICARDORODEIA's picture

Maravilhoso. Uma partilha...

Maravilhoso.

Uma partilha... aceitação, na cumplicidade muda dos dias...

O trabalho. Essas tarefas que quando a desprazer formam filas rotinadas... imagens espectrais do que rejeitariamos se só do amor e prazer vivessemos.

Resta o descanso.

Conforto merecido da energia "roubada" em afazeres tão necessários quanto vazios de expressão... pragmatismo/organização em luta com prazer - a comoção dos sentidos e sentimentos. O conflito do dia-a-dia. Se o tempo não nos levasse para lugar incerto... se esse vento parasse por um momento...

Busca-se cumplicidade mesmo nas pequenas coisas.

Vai longe a admiração. Vai certo esse amor. 

 

Parabéns.

Abraço.

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   Meu caro

   Meu caro Ricardo

Agradeço-lhe as palavras que aqui me deixa. Acredite: são um

importante incentivo. Concordo em absoluto consigo, nesta 

formatação de dia a dia a que as nossas vidas muitas vezes 

estão confinadas, o descuido é a morte do ou da artista. Pois...

a desatenção como uma fissura que se vai alargando até ao 

abismo. Desafiante. Mais uma vez o meu muito obrigado e, se 

me permite, dou-lhe desde já os meus sinceros parabéns pela

"Densidade" de um texto seu em que tropecei.  Um forte abraço.

 

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